Amar o amor

Dividimos por categorias nossos afetos. Quando jovens queremos amar o amor. E os amores atropelam a vida: misturados, sobrepostos como roupas de vitrine: blusas sobre camisetas, mantas, casacos sobre saias sobrepostas. Volume. Acúmulo de graça. Sim, namorar, beijar e abraçar é  a graça. Graça de estar vivo. Então,  atropelamos o amor com conversas confidenciais. Atropelamos o amor com vinho e morangos. Atropelamos com ciúmes e lágrimas. Atropelamos com tapas e beijos. Tudo o ser amado, e amante escuta, gosta. Cheira e aperta, acha graça nesta graça. O amor dos vinte anos é assim em camadas coloridas, turbulentas, ferventes. Depois vem o desejo de confiar, excluir, engolir o amor todo e escondê-lo lá dentro na caverna gulosa. O outro não é da vida, mas propriedade exclusiva. O outro não é parte da cebola desfolhada ou rosa mas, único, exclusivo. E o único fica vazio, o vazio de estar/ter envelhecido… Ficamos nus. Sem roupa e sem cor, ao natural; o susto. Esquecemos que ainda assim é vida a vida.  É vida mesmo sem o amor amor, aquele já gasto/esvaziado pelos jovens. É vida na lágrima e  vida na febre. É vida na saudade. É vida pra se fazer… nova. Tudo abastece a chama de amar o amor: olhar o rio, o mar, as flores e o céu, as árvores. Varrer a casa, pintar, bordar, escrever, consertar… Elizabeth M.B. Mattos – Rio de Janeiro –  2012

 

2 comentários sobre “Amar o amor

  1. É bem assim… nos perdemos no destempero de amar. Na graça do amor. No nosso tempo e no tempo de amar do outro…. mas as vezes perdemos a coragem de amar ou mesmo a possibilidade…

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