Entristeço: estamos atolados na mediocridade, no vazio… Aniquilamos o potencial humano, abandonamos… Deveria haver massa cinzenta, idéias, correspondência com a vida. Nada. Somos um amontoado de carnes flácidas, e vaidosas. O desejo do poder a engolir tudo. O dinheiro cultuado por imbecis, e as criticas caem no vazio. Aponta-se para o nada em voz baixa… Os ambiciosos de poder a mandar, a desfilar em escolas deste samba tão gostoso! Um bom Carnaval! Vozes se escondem no vulto público de alguém… E o quadro alegórico faz a entrada vitoriosa! Dirigir, organizar… Como levantar a cabeça? Por que não somos mais coerentes e lúcidos? A entrevista com o jornalista Mina Fala, todo arrumadinho, mas rebentando… Tom Zé viajando n’ Os Sertões de Euclydes da Cunha, e citando Guimarães Rosa, a língua da sua infância, do balcão da loja tachada como intelectual… Busca o genuíno?! Então acerta. E o judeu que é contra a indústria do holocausto? E a vida das pessoas, outra vez mágica. Abóboras pras carruagens?! E o que fazem as pessoas comuns? É o rebanho todo atolado no plim-plim da Globo, no vazio. Salvamos o novelão! Ontem li Marguerite Youcenar: novela curta contando uma história qualquer, de um homem qualquer, o tédio… Nada como reler Memórias de Adriano… Enjoei diante de algumas descrições, mas fiquei pasma com tanta coisa sendo posta de forma absoluta, recriada, rica: “Viam-se as madeiras raras e os fardos de especiarias; não se viam os dentes apodrecidos pelo escorbuto, os ratos e os piolhos do castelo da proa; as sentinas fétidas, aquele escravo com pé cortado que ele vira agonizar na Jamaica. Não se via em absoluto o saco de ouro do negociante que financiava na hora da partida aqueles grandes empreendimentos e que, às vezes, vendia aos capitães suas mercadorias adulteradas ou enganava no peso, como o gorducho de Greewich. Natanael se perguntava até quando durariam aqueles caprichos.” Youcenar, Marguerite. Como a água que corre. Ed Nova Fronteira, 1983.
Domingo bem azul, sem calor. E o olhar lânguido do cachorro. Dou-me conta das bobagens todas que tenho escrito! Nada a viver, nada a escrever! Pobreza desta vida sem luz enfiada num sono, no medíocre mesmo deste ano de mortes e perdas. E saudade. É tarde pra acordar. Dar-se conta não invalida a impossibilidade de. É como uma doença de pele… Marcada. Apontando sem matar. Agonizando. Perde-se tempo com frivolidade, incapacidade de organizar e fazer. Perde-se tempo por acreditar suprir o mundo de mães relapsas, ausentes, de casamentos sem amor, da solidão das pessoas. Peca-se pela prepotência de querer consertar o mundo assim, sentada no sofá.
Em Santa Maria, aqui neste nosso Rio Grande do Sul alvorada de fogo! Jovens morrem…Desastre de horror! Como se fosse um campo de guerra, uma epidemia… Um massacre! Elizabeth M.B. Mattos – janeiro, 2013 – Torres