Sem título

Sem título

1966, guache,nanquim e grafite sobre papel, 50,5 X49cm – Iberê Camargo – Eu quero a história, vou pensar o texto, deve haver uma narrativa…Pensar o texto?

Caverna iluminada. E as marcas são o sol… O sol queimando. Procuro o risco, a saída. Está silencioso aqui! Estou a ler o que não está escrito no calor das pedras…

Ontem

Diz Iberê Camargo que uma tela não é narrativa, não conta história

Não sei!

Uma pintura não é um texto? A foto um livro…

Ele se equivocou… Uma palavra já é narrativa.

O N T E M, por exemplo.

O que estás pensando quando soletras O N T E M?

Diante de uma tela não é diferente. Um abstrato, um céu, uma mancha?

Ou apenas o azul… Beth Mattos

SIMPLICIDADE

SIMPLICIDADE

Mágica casa da VITOR HUGO 229  Petrópolis -Porto Alegre. Rio Grande do Sul.

Casas, muitas vezes, como pessoas,  aparentam o que não são… Malbaratado luxo por fora, e o interior sem conforto, dourado… pretensioso.  Ostenta-se. O que algumas casas possuem é a surpresa do interior… O luxo é o conforto!  Esta é a casa …

Escrever SOBRE escrever

“Escrevo o que não sei. Ao escrever, o que pretendo é arrancar-me da dúvida, da perplexidade, não para chegar a alguma resposta – não acredito em respostas -, mas para preencher o vazio da vida com palavras. Não escrevo para os que têm certezas, antes para os perplexos, para os que, como eu, só sabem perguntar, assumindo suas contradições no abismo dessa perplexidade, mas sem medo. A perplexidade é a forma mais aguda do pensamento; a reflexão, a mais passiva. Escrever pode provocar prazer, esse prazer que desafia o tempo, numa tentativa de perpetuidade, como quando fazemos do sexo amor. A página escrita, o filho, são resultados com os quais desafiamos a morte.”

“O ato de existir se especifica por aquilo que lhe falta, nos ensina Tomás de Aquino. O homem satisfeito, diria até, o homem normal, não sente nenhuma necessidade de escrever. Escreve o insatisfeito. Para quem apenas uma vida, esta, não basta. Há que ter uma paralela, a que escreve. E , uma outra, a em que aposta viver mesmo depois de morto. E a cada folha escrita sente, sem desistir, a inutilidade desse tentame.”

Quando: “escrevo estou pondo à prova o meu entendimento do mundo e, afinal, a mim mesmo. Disponho o que penso saber, buscando o que pretendo descobrir, e descobrindo que sei, enquanto escrevo, instauro um novo conhecimento para mim, sobre o que narro ou descrevo. Quem escreve se não escrever a si mesmo em cada parágrafo, poderá ser um autor, não um escritor.

Gilberto Wallace faz a distinção entre escritor, aquele que escreve, e um autor aquele que publica, faz do escrever um ofício.

“(…) escrever uma necessidade inútil. Partimos do desconhecido pretendendo atingir um ponto inalcançável.  Escrevi-lhe uma carta, de Praga, e depois outra, de Merano. Não recebi resposta. Assim escreve Kafka, numa carta seguinte. E continuaria a escrever, mesmo sem receber resposta. Assim escreve todo escritor, sem precisar de resposta, ainda que as aguarde. Escreve porque precisa, tem necessidade de escrever. Aqui me refiro ao escritor, não ao autor.”

 – GILBERTO WALLACE – Folha de LETRAS

001

002

MESMO ASSIM

Apesar de tudo, sou humano.

Como os demais, fraco e forte.

Fraco mas não mostrando

e forte por não mostrar.

Humano

e portanto só no mundo.

Mesmo assim, estendo as mãos.

Poema de Paulo Hecker Filho / Folha de Letras

001 - Cópia (2)

Fantasma, Tarzan e A Bela e a Fera

Aglomerado de pedaços, a vida…,  pedacinhos. Quebra- cabeça. O absolutamente perfeito não serve.  Detalhes imperfeitos tornam as coisas perfeitas. Tu és perfeito: representas/estás em todas as minhas histórias. E me surpreendo porque desde sempre foi assim…Longe e sempre perto, muito e obstinadamente perto. Eu sempre estou contigo. Porque escrevo assim? Eu me perturbo quando converso contigo. Sempre. E acho tão estranho! Deveria ser casual, mas não é. Por isso  grata a cada palavra. Aos 73 anos estremeço e volto ao nosso tempo de meninos. Muito bom! Elizabeth M.B. Mattos


012

História incompleta ou  inteira volta

Há quatrocentos anos, surgia, na selva africana, o primeiro grande herói das Histórias em Quadrinhos: O Fantasma. Seu nome de batismo era Kit, e ele foi o único sobrevivente de um ataque pirata ao navio de seu pai, na costa de Bengala. Tratado pelos pigmeus Bandar, Kit logo se recuperou. Certo dia, enquanto passeava pela praia, encontrou os restos de um pirata com as roupas de seu pai. Tomando do crânio descarnado, imerso em profunda dor, Kit proferiu aquele que seria o lema de toda a linhagem dos FANTASMAS a partir de então. O famoso juramento:

Juro que dedicarei toda a minha vida à tarefa de destruir a pirataria, a ganância, a crueldade e a injustiça. E meus filhos e os filhos de meus filhos me perpetuarão”.
Eu me conto repetidas histórias já escritas, traduzidas, e ainda apaixonantes… Fantasma – herói da selva e de destroços. Ou a explicativa A Bela e a Fera com amores jamais esquecidos, tomados, avolumados pela distância, intrépidos e valentes, reconstrutores… Picotados por desencontros. Esperados a cada eterno dia por um minuto fugaz… Sim, e te faço promessas que protelo / não cumpro: o livro a ser escrito, viajar mais, não deixar a vida passar e ser feliz. Hoje renovei tudo ao telefone. Outra vez.

Eros e Psique, a mais antiga versão conhecida de A Bela e a Fera, foi publicada no século II d. C. em Metamorfoses de Lúcio pelo eminente retórico Apuleio de Madaura. A história contada por uma mulher ‘bêbada e semilouca’ para uma jovem noiva raptada por bandidos no dia do seu casamento. É descrita como um conto de fadas destinado a consolar a cativa atormentada. Mas em Eros e Psique a ‘ fera’ só é fera segundo rumores, e Psique, a heroína do conto, resolve vê o conflito romântico não só mostrando compaixão, mas executando uma série de trabalhos. Complexidade, amor, aventura, audácia e histórias...”

013

 1995

Deixou-nos a vida, nessa usança que dela fizemos, pelo menos o verso da folha de papel ainda intacta, sem máculas ou letras alheias, toda aberta para nós. Para que exigir os dois lados da folha intactos se o que temos a dizer e a escrever basta em um lado apenas? Deleito-me com o verso da folha escrita. Ou posso deleitar-me se o quiser. Posso também não usar o lado ainda virgem. O nele rabiscar desenhos e traços desconexos e, em seguida amassar tudo com a mão direita e jogar no lixo, como fazem todos. Mas eu amo as sobras, o que restou dos cataclismos  os destroços abandonados. Até hoje lembro-me daquela fita da infância, do avião caindo na selva africana, e dele sobrando apenas – com vida – uma criança que os macacos irão criar e que adulto, será o Tarzan. O que me impressionava, porém, não era o Tarzan saltando pelos galhos com seu cipó fantástico ou se comunicando com macacos e chipanzés com afinidade e afeição com que tu me sussurras ao ouvido palavras de amor.
O que eu, de fato, pretendia e ansiava era encontrar naquela selva os destroços do avião dos pais do Tarzan, com alguns dos seus brinquedos envoltos em relva e verde pelo passar dos anos. Queria encontrá-los para levá-los a Tarzan, para que ele aproveitasse o que não tinha, mas ainda existia.

 O absolutamente perfeito não serve. Carece dos detalhes imperfeitos que, em verdade, tornam as coisas perfeitas. Beth Mattos

014

Poeta e DURÃO

Poeta e DURÃO

Vitório Gheno, Nádia Raup, Elizabeth M. B. Mattos e

PAULO HECKER FILHO

Em toda a forma de ser há incoerência: extrema incoerência na rigidez dos acontecimentos, os mais perfeitos. A vida desmancha-se em calamidade. Transforma o ser num barro estranho, inconcebível? O homem constrói muros, esculpe, martela, tece as tiras de couro do açoite, forja correntes. O homem quer esquecer, mas é impossível fechar os olhos pois volta sempre e sempre. Sob formas renovada: olhos novos, rigidez nova, cada qual a exigir para si um espaço próprio, um estreitamento a superar o outro. Não consegue. Esfacela-se. Incoerente, tal qual o contato das coisas entre si. Quer ver o mundo ou sentir os outros, perceber e tocar o curso da vida, não consegue… Em todos os lugares encontra a si próprio. E, se deve e também pode captar tudo, ou se consegue apanhar a multiplicidade do mundo segundo a tarefa que se impõe percebe que antes de qualquer ato de vislumbrar, escutar, experimentar esbarra no seu eu…

017

censura

017 (2)

Perdoa, mas em verdade estou mal exatamente por não estar aí. Este ‘estar mal’, porém, deixa-me como se fosse um poste de eucalipto fixado ao solo para nada, só para apodrecer. Estou aqui literalmente de mãos amarradas: tudo que faço, quando faço, faço ml, me equivoco. Atarantado, é este o termo. Ando assim. Como o gaúcho daquele poema irônico do Asceno Ferreira: corro intrépido pelos pampas, vou, venho, sempre intrépido. Para que? Para nada. Nem sequer para estar aí…”

018

” Deixou-nos a vida, nessa usança que dela fizemos, pelo menos o verso da folha de papel ainda intacta, sem máculas ou letras alheias, toda aberta para nós. Para que exigir os dois lados da folha intactos se o que temos a dizer e a escrever basta em um lado apenas? Deleito-me com o verso da folha escrita. Ou posso deleitar-me se o quiser. Posso também não usar o lado ainda virgem. O nele rabiscar desenhos e traços desconexos e, em seguida amassar tudo com a mão direita e jogar no lixo, como fazem todos. Mas eu amo as sobras, o que restou dos cataclismas, os destroços abandonados. Até hoje lembro-me daquela fita da infância, do avião caindo na selva africana, e dele sobrando apenas – com vida – uma criança que os macacos irão criar e que adulto,  será o Tarzan.”

Uma volta ao Tarzan, Fantasma ou A Bela e a Fera

Cheiro de memória

Ausência de referência: “Dizem os sociólogos que os jovens não têm mais qualquer noção do passado, que não conhecem mais o que constituía a memória das gerações. São adeptos do imediato que, como por acaso, rima com média…”

E viver sem passado “é um pouco como andar numa corda, por cima do vazio, sem rede por baixo. Se o presente não te agrada você não tem mais nenhuma escapatória.”

Aliás, uma saída, a memória e a vida do outro.

Livros,  autobiografias,  correspondências achadas, fragmentadas, TODAS contam histórias… Reais, inventadas, ditadas. Manuscritos achados como a pedra com a escrita do Anjo na pedra… Beth Mattos

Dardejar amoras

Agora ordeno limpo, amasso, e investigo. Os minutos destas horas se misturam em paradas estratégicas. Justifica a ausência da memória… Embora eu queira impedir este escoar, esta higiene interior insiste em voltar ao branco inicial do antigo mata borrão. Reter, guardar, conservar, não tem importância nenhuma. Batalha vencida. E Deus precisa existir, a esperança, o depois. O espírito do menino traz outras vidas portuguesas. Estou pedalando na velha bicicleta Monark, cor de vinho. Quem nos ameaça com o esquecimento? A memória de hoje fraqueja, mas o passado parece tão próximo! Sufoco e acerto: não é possível parar, passar a limpo tudo outra vez. Outra vez?! Repetidas outras vezes retomamos o tempo.  Os motivos se alternam… E algumas certezas se enraízam. O vocabulário gagueja.Tenho que voltar nas vírgulas, nos articuladores, nas conjugações. Encontro a criança que volta, insiste em entender. Explico… Espera um pouco! Elizabeth M. B.Mattos – maio de 2013 – Porto Alegre