Ventania, um uivo. Árvores se dobram, a água da lagoa se agita crespa. Pelas frestas da janela entra o vento. A luz treme como se fosse apagar… Os aparelhos fora das tomadas, menos a geladeira. A ventania entra no meu corpo. Como se a tempestade pudesse estar mais perto, e o vento mais forte. Não vejo o mar. Queria estar no meio de um tempo diferente… Nos dias mansos da fazenda, compridos, amigos. Cheiro de terra, feijão com arroz e batatas. No vento o silêncio da felicidade do abrigo. Acendia-se o fogo no galpão. As velas no entardecer. O banho aquecido em tachos, e conversas misturadas com risadas. De concreto este galpão, chão de terra batida… E o galpão de concreto armado. E o dia seguinte, outro dia de fazeres. Café forte, chimarrão no vermelho do amanhecer. A cerca pequena entre casa, e campo. Cinamomos, eucaliptos. Açudes a serem feitos, as curvas de nível necessárias. O risco do pomar. Cartas, sesta, rede. E a labuta com bombachas.
O vento que sopra aqui chega lavado em Miguel Pereira. Vocês vestem os casacos, e se enroscam nas mantas azuis. Aquecem a sopa, conversam baixo, enquanto a televisão discute com teu pai. A voz deste vento que grita assusta. Quero o Rio Grande do Sul, a casa perto do açude. O marido. Penso nas ovelhas, cães e frutas maduras. Engraçado! As tranças do casamento se torcem! E todos nós estamos de mãos dadas neste tempo de ser feliz! Todos! Os namorados perdidos, os maridos, os filhos deles, os nossos. Estamos protegidos no sonho desta luz de lembrança, e longe, aqui na serra carioca. O vento sopra forte. Congela os dias. O sono me agarra traiçoeiro. Apago as velas, e conto aquela história de fazer vocês dormirem… A minha história. Elizabeth M.B. Mattos – 2013
Amei!!! Tem ritmo, e quase todos sentidos evocados, olfato, visao, paladar. Coninua a tua historia!!!
M
Junto tudo, costuro, bordo um pouco e fica!
Amei…deu uma saudade muito boa.
Que bom te receber no Amoras Angela! Tua opinião importa, como a Magda. Quando fica um gosto da leitura, eu e animo.