Levemente

Levemente, ou inevitavelmente, mal humorada, talvez resfriada. Dor de cabeça. Aquele mal estar que aborrece, chateia, aflige. Talvez resfriada. Dor de cabeça.  Mal estar presente, indefinido. Atrapalha, espalha, junta, retoma a dor do corpo. E não é corpo, mas  lá de dentro a dor, do não sei onde é. Dor do pensamento. Esquisitice pura. Vontade de gritar sem som. Estremecimento. Bom que tem sol, e o pulso não se despedaça neste repuxo. Alívio. Os óculos pesam, castiga o rosto, o nariz. Pesam estes óculos… Desgosto.  E nem estou vendo tão bem como gostaria. Que coisa esquisita isto tudo. É esperar… Elizabeth M. B. Mattos – 2014 – Rio de Janeiro

Nenhum recado, o jogo

Hoje vou pintar o cabelo, arrumar o armário, comprar aquele casaco. Hoje vou fazer uma caminhada mais longa, até ao mar. Hoje eu vou, e depois, depois afundo na cadeira, na dor nas costas, na incerteza de estar mesmo aqui e agora, sem ir. Depois volta a pontuação esdrúxula, esquisita de conversar apenas comigo mesma. Nenhum recado de volta!

Saudade das velhas cartas que abarrotavam a caixa de correio. No entanto não é o outro, mas este reflexo que gostamos… Narcisos, egocêntricos, estamos estacionados em nós mesmos. Na primeira linha. O jogo de futebol somos nós com a bola o tempo todo. Os gritos são nossos, as mãos torcidas, o descaso também. Silêncio, Imobilidade, nós. Afinal, como é mesmo participar? A cada filho sua história, a cada neto seus perigos. Ao amigo a distância. O desconhecido, curiosidade. Quero voltar a França, ir a Portugal. Quero viajar ficando. Ficando! Elizabeth M.B. Mattos – 2014 – Torres

Amar ficando…

Engraçado! É verdade que amar, apaixonar-se tem a inteireza da alegria, no entanto nos escamoteamos, por quê? Estar nos braços do outro, beijar, entregar-se com certeza de afeto, de uma qualidade de prazeres genuínos pode ser tão lúdico, como sério. É aquele medo esquisito de ser descoberto, ser visto como de fato somos, o medo de exposição tanto quanto a vaidade de ser reconhecido que nos assusta? Amar, ou ficar? Estas angustias paradoxais se misturam a cada amanhecer. Estão mesmo embutidas no amor?

Também o SE

Ah, se eu soubesse o segredo deles, o de minha avó Filomena e do meu avô Tomaz, também eu poderia ter sido feliz! Mas também sei que vivemos apenas o que nos acontece, não o que sonhamos. Somos resultado de circunstâncias: onde estamos, quando estamos, com quem estamos. E, hoje temos demasiadas circunstâncias para que tudo se torne simples ou evidente por si mesmo. (p.62)  Noite Suja, Miguel Souza Tavares.

Na grande dor, na grande perda injetamos algumas, apenas alumas certezas após o susto do limite. Nunca acreditamos, ou pensamos na finitude do tempo. No que pode, ou vai terminar. Há qualquer coisa de permanente, de pra sempre quando somos jovens. Depois, a solidão se consolida. Fortifica. E, na espreita do tempo vamos usufruindo sentimentos de agregação. Importa o toque, a insistência, a certeza. Mas, às vezes, na pressa do novo, do inusitado, nos afastamos, senão de nós mesmos, de pessoas que poderiam, afinal significar. Queremos apenas o essencial.

Equivocadamente levantamos um muro. E nos esquecemos da fluidez, da leveza, do ócio, da despreocupação passiva do amor. Das amizades de sempre que também envelheceram…

Pequenas e espicaçadas lembranças nos identificam. Situações limite. Se eu tivesse ido para o mar, se tivesse subido aquela montanha, se não tivesse medo, se fugisse, ou se não fugisse do que me perturba. Se o sentimento de ser menos, menor não tivesse me vergado…  Se fosse menos amadora, mais engajada! Se não tivesse me apegado aos modelos precários. Se…

Aquela brincadeira de imaginar outra vida, outro resultado, outro eu. Se o rumo fosse outro.

Se eu estivesse ao teu lado, meu amado. Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2014 – Torres

Na Padre Chagas

A lembrança da Rural Aero Willys estacionada junto a cerca. Já não sei se apenas no dia de São João, na Quermesse escolar, ou aos domingos! Ou nos dias de aula regular. Ousavas. Colégio das Cônegas de Santo Agostinho, o Nossa Senhora das Graças. O tempo de estar no internato.  E das visitas,  bebericando o chá, na sala da tua avó Celina. Conversas engraçadas, alegres. Amigos amados, escolhidos. Eu com ares de moça a controlar sentimentos. Tu  ousando. Adoro lembrar a luz daquele apartamento. Queria sempre te surpreender. Na lembrança, o carro vermelho, esporte.  Nem sei se tinhas habilitação. Ir até a beira do rio lago, o  Guaíba. Desafiar a Volta Redonda, Ipanema. Lembras dos domingos dançantes no Country Club? Algumas vezes almoçávamos. Perfeito. Um jardim de beleza, de música, e  também silêncio. Éramos poucos, e donos daquele mundo.  E tudo se transformou tão depressa!  A liberdade importa. Tua inteligência solta. Tua alegria. Despreocupado. Eu recolhida, mais tensa.  Insegura, tu cheio de autoconfiança. O dono do mundo, das máquinas! Dois mundos diferentes. Nunca atravessei o limite. Havia uma cerca? Um aviso?  Por que não me permitir experimentar? … Volto as viagens que te levaram pro mundo, pra tua geografia experimental. O teu mundo, teus sonhos. Nada se enquadra no meu acanhado jeito de ser eu. O outro lado. Sempre estavas, e estarás, do outro lado, e no meu imaginário. Mas, mesmo escondida , te espero no Café do Porto, na Listo, na rua Padre Chagas, de manhã bem cedo. Elizabeth M.B. Mattos junho de 2014 – Torres

 

 

 

 

 

Um café

Imagino esta aventura de deserto, areia, luz, frio, e tanto calor! O encontro do estranhamento!  Misteriosos ingredientes! A vida se colorindo, ou se partindo, em rapsódia, a se movimentar… Sem lógica, sem certeza, apenas o derramado olhar no desconhecido, quase/, já passado! Tu mesma a te colorir, partir, ou refazer a própria colagem, respirar a cada nova figurinha. Ir e vir. Possibilidades todas deste momento, no agora, neste exato minuto, assim! Possibilidades completas, e já findas. Vou beber um café. Elizabeth M.B. Mattos

 

Julio Carlos ampliou o meu presente/tempo…

Ainda estou lá, naquele distante lugar do passado (Júlio Carlos ampliou o tempo…, o passado), nunca sai de lá, mas vivo espalhado  no passado. Ele é o presente, este passado, e não apenas sob a forma de episódios breves de lampejos da memória. Os milhares de modificações que impulsionaram o tempo, comparadas com esse presente atemporal do sentir, são fugidias, irreais como um sonho e também traiçoeiras como as imagens dos sonhos.”(p.251)

[…] Não se deixem enganar por aquilo que, num acesso de ridícula superficialidade, chamamos de ‘o presente’.[…] O que poderia ser mais excitante do que retomar uma vida interrompida com todas as suas promessas? (p.252)

[…] Por que temos pena de pessoas que podem viajar? Porque elas, como não podem se expandir exteriormente, também não conseguem se ampliar interiormente, não podem se multiplicar e, assim, não tem a possibilidade de empreender amplas excursões para dentro de si mesmas e descobrir quem ou que poderiam ter sido.” (p.253) Trem noturno para Lisboa, Pascal Mercier – Editora Record -2013 (10 edição) – tradução de Kristina Michahelles

Aniversários e o avô Roberto

DOIS ANOS

Na casa dos Moog: rua Marquês de Pinedo, 1972.

Avó Friga, Suzana, eu com Pedro no colo. Os primos, Ana Maria com a mão aberta.

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Recortes do Livro do Bebê…Do avô para o neto.

TRÊS ANOS

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Aí, ele pensou um pouco e logo retrucou ” Já sei, são 3 anos fortes “

Avô Roberto escrevendo sobre o neto

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QUATRO ANOS

 

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Coisas da infância! Dos dois, três anos, quatro, e logo alegria de correr no tempo. Escola, irmãs, e alegria. Alegria, fermento da vida.

020 - Cópia

Meu pai Roberto, e eu na casa do RUI.

1968

013 - Cópia

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Origem do nome


Por que sou Menna Barreto?004

 

João de Deus Barreto Pereira Pinto, filho de nobre estirpe portuguesa, em homenagem à mulher com quem casava adota o nome de João de Deus Menna Barreto.  Galanteio dos Menna Barreto com suas mulheres… ao longo de sua vida mereceu pelos serviços prestados à Pátria o título de Visconde de São Gabriel. Nasceu em Rio Pardo, a 2 de julho de 1769. Seu filho primogênito foi o Marechal Gaspar Menna Barreto, pai de Firmino Herculano Menna Barreto, pai de Rita Menna Barreto Mattos, mãe de Roberto Menna Barreto Mattos, avô de Pedro Menna Barreto Vianna Moog. Roberto escreve pelo neto, no livro: “Descendo assim, em linha reta, do fundador da Família Menna Barreto.  Minha mãe, no dia do seu casamento, em homenagem à minha bisavó, e sua avó Rita, adotou o nome de Menna Barreto. Elizabeth Menna Barreto Moog. Assim, a gota de sangue do velho Visconde de São Gabriel que corre nas minhas veias, espero me faça, sempre, homem “galante e cavalheiro” para com as mulheres…Rio, 18 de outubro de 1973.

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Cronologia:

João de Deus Menna Barreto (* 2 de julho de 1769)

Gaspar Menna Barreto

Herculano Menna Barreto

Rita Menna Barreto de Mattos

Roberto Menna Barreto de Mattos

Elizabeth Menna Barreto  de Mattos

e

Pedro Menna Barreto Vianna Moog.

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 Faria Viana

direitos reservados

VISCONDE DE SÃO GRABRIEL

NOBILIÁrio

O manjaléu da memória

Amanhã tem que ser hoje também. E se este ontem fica turvo, fundo, escuro, tem a vela acesa do manjaléu, a vela acesa na caverna. Tantas histórias! Verdadeiras. Escusas. Torcidas. A memória se mistura com o que deveria ter sido apenas desejo desdobrado. Não sair da casa daquela infância falseada de alegria. Tudo preso no sempre que não existe.  Sem idas, sem viagens, sem esquecimento, sem repetições, e tantas ausências! E a vida do outro na nossa, ou daquela memória das revistas guardadas, recortadas, coladas, desenhadas na calçada. A calçada, e  vizinhos,  luzes acesas. Luz de todas as casas da infância. Pedras pequenas do jardim, aquele que era também o pátio. Jardim dos jacarandás, dos ciprestes. Do fogão pras comidinhas das bonecas. Dos telhados. Das escadas. Das peças proibidas. Infância do escuro iluminado por risadas de pessoas grandes. Saudade das pedras carregadas no avental, as polidas, as coloridas.  Estar. Pois é! Tantas vezes essa coisa inexplicável de estar no mundo; mundo ‘empilhado’, suado, tomado,  e cheio de nada. Competitividade emparelhada, menor, e necessária! Por que só poeira? Estes enormes prédios, estes trens, estes carros, estas motocicletas, estas ruas esquecidas, esburacadas, perigosas. E ainda a roupa velha, aquela de todos os dias, colada no corpo, os tênis pesados, gastos, o cabelo em desalinho… E a manta que envolve já tão a mesma! Por que este descuido desmantelado? Não competir? Bobagem! Inferioridade? Talvez. Porão? Escuro? Não. Tem a vela acesa na caverna do manjaléu. Não faz sentido, não tem vez… Fica-se esquisso, esquerdo, e teus olhos se abaixam escondendo o visível. Escondes teu corpo de ti mesmo: descaso. A angústia de não competir, cuidar, trabalhar. Magda, Elaine, Nádia, Ana Maria, Cláudia, para citar apenas mulheres, têm as respostas. Ou sou eu a encerar, polir, lustrar, e empilhar discos, livros, mantas. Colher flores. Guirlandas! Enfeitar bonecas. Encher caixas de papel, de impressos, cartas, recortes, folhas em branco, notas, bilhetes. Exercícios, fitas. Por que? Tanto recomeço, tanto vou tentar, vou fazer, vou deixar, vou sair, vou chegar!  Penso em atropelos, na vertigem, ela foi, ela veio! Estranhezas!

Esta cinzento no meio da tarde. É o frio. Gosto de sentir o mar no frio, e também contar..

” Minha poesia e minha vida têm transcorrido como um rio americano, como uma torrente de águas do Chile, nascidas na profundidade secreta das montanhas austrais, dirigindo sem cessar até uma saída marinha o movimento de suas correntezas. Minha poesia não rejeitou nada do que pode trazer em seu caudal; aceitou a paixão, devolveu o mistério e abriu caminho entre os corações do povo.” (p.173)Pablo Neruda Confesso que Vivi

Como um rio! Como o Amazonas, como o lago Guaíba, como o Mampituba em curvas, ora poluído, ora cristalino, como o Sena. Tolos crentes escondidos no amor amado! Sucumbir ingênuo. Feliz, lavado… Estes encontros voltam, e se voltam congelam. Prematura consciência. Saudade. Inaptidão! Dose dupla… Elizabeth M.B. Mattos – 2014

Esta história dO bicho manjaléu foi uma das que mais me impressionou, a vida naquela chama de vela, um sopro e termina.

“O bicho Manjaléu”, conto de origem europeia coletado em Sergipe por Sílvio Romero, integrante de sua coletânea “Contos Populares do Brasil” (1885). Utilizei, para esta narração, a reescrita de Monteiro Lobato publicada em seu livro “Histórias de Tia Nastácia”. Sílvio Romero (1851-1914) foi um importante intelectual brasileiro, interessado em diversas áreas do conhecimento, dentre elas a cultura popular e folclore de nosso país. Nesse campo, talvez sua obra mais representativa seja “Contos Populares do Brasil”, originalmente publicada em 1885 em Portugal. Trata-se de uma coletânea de histórias e lendas contadas naqueles dias, as quais Romero registrou em texto, dividindo-as em três agrupamentos, de acordo com suas origens: europeia (principalmente de fontes portuguesas), indígena e africana. Décadas mais tarde, Monteiro Lobato (1882-1948) fez uma seleção desses contos e os utilizou como base para seu livro “Histórias de Tia Nastácia”, onde a famosa personagem lobateana vai contando esses “causos” aos outros personagens do Sítio do Picapau Amarelo (Pedrinho, Emília etc). Entre cada conto Lobato inseriu diálogos de seus personagens, que vão refletindo e comentando sobre cada um deles. A escrita de Monteiro Lobato, em comparação com a de Romero, soa-nos bem mais moderna e menos rebuscada. Textos de fadas, histórias de princesas, além de mitologia grega, folclore brasileiro, contos do Brasil, e livros inteiros (audiobooks), como Alice no País das Maravilhas, O Pequeno Príncipe e Peter Pan. Temos também guias de relaxamento com reflexões e pensamentos. Temos já muitos contos famosos dos Irmãos Grimm e Hans Christian Andersen em versões originais, para você conhecer a origem dos contos de fadas, as verdadeiras histórias.Tudo aqui é feito para o relaxamento, para a calma, para o sono. São leituras para dormir, ou esvaziar a mente.
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