Enquanto separo fotos em caixas com nomes, datas, devidamente, etiquetadas, eu me pergunto: Em qual obscuro lugar será esquecida! Milhares de imagens do pequeno passado. Registro. Estamos todos atordoadamente apressados! Dou risada. Atendo o telefone, o que não acontece sempre. Dou outra risada. Escuto as notícias, todas. Depois, desanimo diante da louça espalhada. A desordem.
Espio a menina que se esconde. Cantarola. Brinca, e corre. As fraldas voam. Levantam, sentam. E se afastam. O tempo de ser uma só. Imagino a história da vida crescendo, dos cabelos encaracolados. Desta voz suave, clara. Suspiro desajeitada. Nem sou meiga, nem presente, nem suficientemente presente. Onde está a cadeira de balanço, o embalo, o sossego, e a história? Por que nunca sei contar, nem ler. Nem pensar avó. Faço beiço.
Ele senta no sofá. E pergunta, sem voz, se vou sorrir, abraçar, dar os presentes. Abraço. Dou beijos. Cresceu neste tempo. Sempre crescem os netos. E através dos óculos esconde timidez, percebo doçura. Sigo rindo distraída, falando, contando da viagem, da geração Z ,– explico, pontuo. Estou eu adolescendo. Minicraft, o jogo me impressiona: vou criar o planeta. Fiz o dever de casa, li a Veja, comento. Procuro na mala os livros que comprei. Infantis. Bobos. Dou-me conto que não acerto. Mas tem selo de troca. E a biografia do Jobs? Nenhum interesse. Erro, outra vez, desajeitada. Dureza de ano, sem dinheiro, economia parada. Explico. Arregala os olhos. Assusto. Silêncio. Vamos dar uma volta? Solução.
Lá vem a bicicleta. E não vejo. Rodopia. Levanta a roda. Voa. Não vejo. Esta avó distraída, ausente. Sou eu mesma. Logo no olhar encontro o menino. O abraço. O corte novo do cabelo. Por que eles crescem assim desconfiados estes netos? E tão rápido. É um moço.