Mandei a carta, ou já nem sei bem se mandei… Eu me perco nos guardados. Ideia velha do para sempre será. Em contos de fada existe a obscura e misteriosa intenção de não terminar… E viver felizes para sempre (engraçado eterno inconsciente) que permanece para sempre. E nada é para sempre. Nem a terra, o mar, nem o sorriso, nem a pedra, nem a história, e menos ainda a presença, o amor, ou a amizade. Tudo tem tempo, validade. Suponho que um dia vou reler, reorganizar, reescrever. Esquisito, mas não vou fazer nada disso. Não há tempo neste tempo delimitado. Assim mesmo guardo bilhetes, cartas, ideias, lembranças. As saudades, e os suspiros. As vontades. O despojamento deveria ser criterioso e seletivo, mas no meu caso é anárquico. E como estou ficando/ sendo/ estando velha e distraída, ou nem tanto, mas assim mesmo esquecida, imagino que te escrevo e te penso sempre, para sempre… E já contei o incontável. A distância reside neste inexplicável.
Sinto uma enorme saudade do meu pai. Paciente a me explicar o que não compreendia da álgebra, das guerras, e de estudar. Nada acontece sem a visualização da geografia, é no mapa que se desenrola a história. Penso no meu pai de jeito intenso, preciso. E sinto sua presença entre os livros. Ele se materializa. Como já soubesse antes sem confessar, ou pensar. Penso que as idades passam, os interesses, os amores, os amados e fica apenas o vácuo. Penso no meu pai. É o novo se acomodando dentro de mim. Ou é apenas um novo que sempre foi, e vai voltar e vai desaparecer… A tal nostalgia. Afinal o que dizemos se revela no que não falamos. E está dito nas entrelinhas. A sutileza do contexto que não se explicita. Meu amigo querido, amado: sou livre exatamente nos lugares que não sou. Elizabeth M.B. Mattos – setembro – 2016 – Torres
“Na guerra, ou matamos ou nos matam. Mas eu vi o que há de pior nos seres humanos, sobretudo fora da guerra. Você não pode imaginar do que um homem é capaz, o que podem fazer o ódio o rancor quando estão bem alimentados ...” (p.203) O homem que amava os cachorros Leonardo Padura
Beth, como não sentir saudades de quem muito amamos?
Da parceria, da proteção…
O envelhecer e o passar do tempo nos aproxima destas lembranças. Depende do peso que colocamos e como pensamos nisto , pode ser uma saudade boa , como uma falta densa! Bj
Que texto magnífico!