A quarta carta

Estou a te pensar, estou a pensar no labirinto, estou a pensar em nós dois, estou a pensar como seremos, tu e eu. Fico indo e voltando como se fosse possível medir o que não é pelo que é. Como foi  embalar, meninos, uma fugaz tarde de março? Penso, estremeço. Sinto medo. Se houver outro beijo, aquele que não nos demos, se as horas se enfiarem apertadas e saciadas, se a luz entrar devagar, e eu sorrir sem pejo …   Se eu imaginar que o corpo é invólucro perdido e achado comandado pelo desejo … Se …

Acordei depois de um sono bem grande no meio da noite. Uma das delícias de viver sozinho é poder estar viva a qualquer hora sem nenhum constrangimento. As janelas estão todas abertas, a luz da calçada ilumina um pedaço da sala. Ônix cuida o movimento dos gatos, o vento sacode o que pode sacudir, e eu escrevo. Esperei o ramo de jasmins, ou seriam anêmonas, rosas? Ninguém me trouxe flores. E pensei. As histórias são as dele, a vida é dele, os acertos dele, eu, eu não sou parte dele sou apenas um Eu. E voltei no/ao/ em tempo. Telefones soam no meio da noite. O fantasma desce, entra, se acomoda em qualquer cadeira e firma o olhar. E logo, cadeiras tomadas …  Estou no palco com vontade de acarinhar indefinidamente acarinhar. Sono, vigília, insônia, ânimo. O que posso fazer com estas coisas todas remexidas?  Como posso controlar o revirado? Sem ponto vou andando, com virgula respiro, nas reticências imagino, nas interrogações choro e nas exclamações compreendo. Choramingo porque o tempo o tempo me pareceu nosso, apenas nosso, egoisticamente nosso. Elizabeth M.B. Mattos, Torres.

desmaiado-da-casa

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