Comer laranjas e ver televisão

Devagar, hora a hora, dia a dia, como se o tempo fosse um banho de acidez, vou vendo com mais nitidez o negativo da fotografia. Imagem-duplo: a memória-lembrança. Esgaçado sentimento da inércia. Perdas inseridas no limite do não aconteceu. Por que não disse isso, perguntei aquilo, não fiz assim…; miúda saudade de conversa pequena. Do cheiro, do sorriso, da fala. Saudade física. O corpo se ressente. Saudade fervente/estranha/ inquieta do agora do que não existe. Ávida presença-ausência porque sendo já não é mais. Lamento a perda neste beijo ansioso. O corpo fala, o discurso se contradiz. Tudo importa, mesmo o tempo que não teremos. Abraçar e me aquietar no teu abraço. Se existisse um sempre que este sempre fosse você.  Quero mais amor raiva alegria frustração tristeza nostalgia, lágrimas. Vou quebrar este tudo. Esparramar terra no gramado, cavoucar canteiros. Pensar gerânios margaridas hortênsias. E sombra. Vou passar roupa, esvaziar armário, encher gavetas, limpar, polir, lustrar, fazer feijão, assar o peixe com manjericão. Cozinhar legumes comer laranjas. Ver televisão. E.M.B. Mattos – abril – 2017 – tuas margaridas do campo, crescidas!

margaridas-brancas

Um comentário sobre “Comer laranjas e ver televisão

  1. Lindo o teu poema, gostosa e amorosa carta. Abres o Amoras acarinhando com doçura boa. Senti o abraço. E quando descreves o FT o descreves como ele é mesmo, aquele que esconde a vaidade e se humaniza. Muitos gritaram contra/ pela morte do Noll. Sou toda amarrada para navegar, preciso de muletas, e nem sempre o João está disposto. Hoje ficou comigo depois da escola. Este neto me ilumina. O outro mais distante me encanta com arte. Diferentes.Voltando ao Noll tenho lá minhas ideias… Conversaremos. Eu também passei o dia pensando em ti e neste método estranho de comunicação paralelo escondido e tão visível. Mas qdo te escrevo estou noutra pele. Agora quero só te dizer que não mudei o final do poema. O certo e o bom verso é o teu. O meu era um grito de raiva. Eu não quero enamorados velhos, mas velhos, antigos, enamorados… aqueles de muitos anos. De eras …aquele poema virou minha cabeça porque diz do amor de sempre daquele que se imagina daquele que embala e que se desdobra em muitas vidas, etéreo. Eterno. Simboliza o para sempre. Adoro teus poemas ZEN mesmo não sendo devoradora de poesia que é gênero sério e perfeito. Aliás, quero ler o artigo o que escreveste sobre o assunto. Manda para o meu email e4mattos@gmail, ou publicamos no Blog. Todos gostaram do teu poema … fizemos duas vozes de um jeito certo. O Amoras agradece.Adorei os vasos e as mesas. Pode ficar lindo! Mas e o sol e o vento? As plantas precisam de abrigo também. De abraço. Perfeito não ser gremista. Se vamos torcer que seja para o Internacional. Bom que sou como sou e que és como és. Vou aprender a sair da minha avidez ansiedade. Vou acalmar o tempo de esperar sem me espicaçar… E voltar pros livros e as limpezas … Estou me preparando para ver a filha em Recife e preparando o coração para entrar no universo de Brennand, comprei Diário de Francisco Brennand ( uma aventura em 4 volumes) … e tudo se mistura porque inquieta, sem disciplina fico vagando nas sensações e esperando a nova carta.

    P.S. Tu te referes ao Amoras de forma lírica ou sei lá o que é … Eu me senti remexida, apalpada, visitada. Mulher e inquieta. Será tudo isso?

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s