Encontro uma carta de 1997 de Edinara P. Jost. Apressada fotografo a carta, releio e me sinto abraçada. Volto no tempo. Transcrevo:
Capão da Canoa, 3 de novembro de 1997
Elizabeth,
Hoje, nesta última aula, despedi-me sem ter tido a coragem de falar -te o que de fato queria. Talvez por medo ou vergonha, sei lá, a verdade é que ao chegar em casa senti necessidade de escrever para colocar para fora o que ficou trancado na minha garganta e não falei. Infelizmente criamos um mundo onde falar o que sentimos é ‘feio’, tirar a máscara e mostrar os verdadeiros sentimentos, principalmente quando esses sentimentos são de admiração ou respeito é para muitos uma demonstração de fraqueza ou, pior ainda, somos tachados de ‘puxa-saco’. As pessoas pensam que se faz um trabalho mal feito ele deve ser advertido, ser cobrado, mas se por outro lado faz um bom trabalho, não está fazendo mais do que a sua ‘obrigação’. Não penso assim, por isso conclui que deverias saber qual foi exatamente o tipo de contribuição que trouxeste para a minha história de vida.
Imagino que estejas nesse momento curiosa e também apreensiva, conheço -e pouco, mas o suficiente para afirmar que se estivéssemos conversando pessoalmente, tu levarias a mão a boca para esconder teu sorriso encabulado e daria aquela ligeira olhadinha para o lado como para esconder – se da de situação. Também me identifico um pouco com isso, lembra quando me falaste ‘brincando’ que havia sentido minha falta em sala de aula? Confesso que perdi a linha, mas também confesso que fiquei feliz por saber que minha presença em sala de aula de alguma forma fazia diferença. Bem, sem querer mudar muito o assunto quero dizer-te que essa foi uma das coisas que me chamou a atenção, esse teu jeito espontâneo de dar aulas, que determina a tua personalidade sem impor -se. Tu te colocas diante dos alunos não como o altar da sabedoria, mas sim como um degrau que nos coloca mais próximos dela. E essa é sem dúvida, a lição maior e a mais difícil que um professor pode passar a um aluno, a humildade.
Como aluna da pedagogia, posso dizer com certeza, que encontrei nessa profissão o desafio que tanto procurava, o de tetar contribuir de alguma forma para a melhora desse nosso Brasil tão amado e por vezes tão esquecido. Quero acreditar, preciso acreditar, que se cada um fizer a sua parte bem feita e com amor as coisas começam a mudar, e a partir daí é só esperar que as sementes cresçam e se transformem nas arvores que darão os bons frutos do amanhã. Homens e mulheres que não serão mais números ou estatísticas apenas, mas sim seres reais de carne e osso, cidadãos capazes de viver em sociedade e na sociedade construindo um futuro mais digno para todos sem discriminação de classe, raça ou sexo. Utopia? Não, apenas um sonho, um sonho que não é só meu, até o mais pessimista dos homens já imaginou um mundo assim, e é por isso que acredito que chegará o momento em que cansados de apenas sonhar, o homem descobrirá em si a capacidade de se transformar e de finalmente evoluir.
Quero agradecer-te por desempenhar tão bem este papel de educadora, e me permitir sonhar nesse mundo de tão dura e triste realidade, levarei comigo um pouco de ti e prometo semearei com carinho os frutos e as flores de amanhã.
Um grande abraço da aluna
EDINARA P. JOST
Obrigada Edinara.