explico …

VESTIDO 

 

…, enroscada na fantasia reinvento o amor. Bom quando chove chuva forte como agora: o cheiro da terra molhada … o cheiro/ perfume e gosto do corpo! …, atravessa espaço rompe a distância. Isso é bom. Comer abacate faz bem para a pele, estar apaixonada faz também muito, muito  bem para a pele.  Respiro melhor. Estico beijo. Este gostar faz tudo ser, escandalosamente, colorido.  Elizabeth M.B. Mattos – 19 de fevereiro de 2018. Torres

 

amor rombo estrago

É como eu disse, nós nos gostávamos / gostamos. (…, é o perigo). Sempre que se usa a palavra gostar é disfarce porque gostar é diferente …, não é conversa, não pode ser pouco, nem mais ou menos, não pode ser amigo, não tem medida pequena, sempre fica muito e transborda, atropela, passa por cima de todo e qualquer bom sentimento, vira paixão, rombo, estrago. Gostar de/ amar apaixonar não tem idade, chega de um jeito tordo azedo, definitivo violento. Destes amores queria contar. Na verdade, não é um único amor, não é aquele, mas muitos de jeitos diferentes. Acesos. Perfeitos. Intensos e, que o tempo apaga. Elizabeth M.B. Mattos Torres em que ano, no passado ou começando o número mágico, – o nove 2018. A conta? 8 + 1 = 9 ( meu número), restam/  sobram, ficam 2 , tu e eu, ou eu e tu, como achares melhor.

E agora vou lhe dizer uma coisa, caso você não saiba: o amor, se for de verdade, é sempre mortífero. Quero dizer que seu objetivo não é a felicidade, o idílio, a mão na mão, o devaneio, até a minha morte, até a morte dela, sob a tília em flor, atrás da qual, no alpendre, arde o brilho manso da luminária e o lar resplandece com seu perfume fresco … Isso é a vida, mas não é isso o amor. Ele é uma chama mais sombria, mais perigosa. Um dia vem na vida o desejo de conhecer a paixão exterminadora. Sabe, quando não queremos mais guardar nada para nós mesmos, não queremos que um amor nos proporcione saúde, paz, satisfação, mas querermos ser, por inteiro ainda que a preço de extinção. Isso vem tarde, muitos não conhecem o sentimento, nunca …. Eles são prudentes. Não os invejo. ” (p.241)  Sándor Marái De verdade

o mesmo

afinidade idade, enfim

Enquanto procuro uma coisa, perco outra e encontro o que já não estava mais a procurar.  …, numa frase, num sorriso, o estranho. Nunca falamos, sequer olhamos. E, de repente esbarramos.  Posso me esconder atrás da árvore, na sombra, no silêncio! Nenhum lugar esconde. Olhos abertos, pele exposta, …não, não sei explicar. As histórias se prendem umas nas outras. Temperamento, afinidade, descaminho. O que importa nesta roda é a legitimação de ser como somos … , amorosos. Elizabeth M.B. Mattos – 2018 Torres

Sua vida é feita na medida exata da sua alma. […]  os eventos acontecem a cada um  conforme suas afinidades peculiares.  Cada um encontra o que lhe convém. Assim, se a pessoa se contenta com o medíocre que tem, prova que este medíocre corresponde à sua dimensão, e nada diferente acontecerá. Destinos feitos sob medida. Necessidade de romper suas roupas como o plátano ou o eucalipto, ao crescerem, rompem sua casca.” (p.44) André Gide PALUDES

ambivalência

…, sentir fazer acontecer…, verbos incompatíveis com a correria da idade. Intensidade soluço e amanhecer no meio da tarde. Não entendo, não aceito, aperta. Virado e fora do lugar. As coisas não se desacomodarão … Desordem. Caos. Ninguém controla ambivalência … nos afogamos. Normalmente caminho pela calçada, cuido buracos, saliências, raramente tropeço. Ninguém deveria mergulhar onde não deve…, deveria não acontecer, mas acontece. Estes estranhos fenômenos da natureza deixam o mundo virado. Cabeça virada, corpo do avesso. Não faz sentido. Estou com mais de setenta anos … mais, muito mais.

Monções, o siroco, ou sei lá quantas ventanias … sinto medo. Antes não era assim, não me assustava, apenas estremecia.  Certezas próprias adequadas perfeitas. Noites insones, dores no corpo, ou cabeça fervendo, normal, agora, sinto medo. A desordem me atormenta. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro 2018 – Torres

desordemdesordem dois

se eu me deixar levar

se eu me deixar levar eu vou toda feliz, alegre entregue errada ou certa, desgovernada, assustada, mas vou; o que foi dito é, e …e bem…sem …. não tem dito/explicado, – importa tão pouco! E o sentido se confunde qualquer palavra não é. Então não escrevo. E ponto. Vou me aquietar e respirar fundo. Parar. Estou contigo, estás comigo, tenho sono… E.M.B.Mattos fevereiro 2018

não devia

tem um dia que quando termina não precisa significar, um dia vazio de vontade, de velhice exaustão cansaço …. de ponto:  não vou me esforçar, não vou abrir a porta, não quero ver ninguém. Estou tão completamente triste acabada dolorida. Qualquer bate-boca pode ser inútil mesmo regado com Whisky:  o velho barreiro terminou, vodca terminou….e terminou, o vinho, e terminou a comida, apenas o violão tocou, terminou o dinheiro para o táxi e terminou a vontade e terminou a humildade e civilidade terminou… Não contando o café da manhã, a massa ao meio dia, as omeletes as caipiras, as risadas da despedida tardia das 23 horas. Ficou a louça para lavar e um enorme cansaço vazio e tudo amontoado para depois:…… a pia  a transbordar….Esta coisa de lavar deveria ser dividida. Esta coisa de lavar/ falar tinha que ter cronooooooooooooooooooooooometro, conversa e sorriso, copo com água, felicidade.

Foi assim … um dia feito e costurado em casa de 11 horas da manhã até 23 horas da noite…e ainda faltou R$10,00  para o táxi. Dois dias ….ha !..ha! as danadas divisões que se perdem em centavos. E eu esvaziando estantes com risada. Terminou. Exausta exausta, cansada, desiludida até das risadas, …. já passou. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro Carnaval – Torres  2018 – preciso dizer das coisas medidas organizadas e divididas, e nenhum obrigada. Acho mesmo que fiz tudo errado, nada ficou no lugar certo, nem o agradecimento, errei em tudo …

nunca te vi sempre te amei

Dou /faço faxina em meus livros toda primavera, e jogo fora os que nunca voou ler de novo, assim como me desfaço de roupas que nunca mais pretendo usar. Todos ficam chocados. Meus amigos são gozados, a respeito de livros. Leem tudo que é best seller e o fazem tão depressa quanto possível, desconfio que passam por alto de muita coisa. E NUNCA leem nada pela segunda vez, de forma que um ano mais tarde não recordam uma só palavra. Mas ficam profundamente chocados, quando me veem jogar um lixo da  cesta ou doa -lo. Do jeito que eles reagem, o negócio é comprar um livro ler, colocar na prateleira, nunca mais abrir, nunca mais, mas não se pode jogar fora! Por que não? Pessoalmente não me ocorre nada menos sacrossanto do que um péssimo  / mal escrito, ou até mesmo um livro medíocre. […]

E ouça, Frankie, vai ser um longo e frio inverno, tomo conta de crianças à noite E PRECISO DE MATERIAL DE LEITURA; portanto, não fique aí paradão. Trate de me catar uns livros.” hh

Rua 95 Leste, 14 – Nova Iorque – 18 de setembro de 1952

O filme me encantou, vi muitas vezes, e posso ver outras e outras. O livro mal feito, tradução péssima, mas amei Londres: penso/viajo a cada carta lida… Obsessiva, comprei o livro.  O filme, muito melhor. Queria mesmo ter outra vida para me dedicar, completamente, as leituras. Queria ter um espaço só meu…, e fazer o sonho. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro – 2018

outras correspondências, poderosas!

a pensar

estudei bastante, ocupei tempo com livros e livros. E a língua francesa. Deixei de fazer o viver, o dançar, o namorar,o festear, enfim, ser a moça com lista de compromissos …, agora envelheci: quero encontrar apenas as tuas palavras o o teu abraço. E.M.B.Mattos – Torres – 2018

Estás

no carnaval, ou a folia  atrás de ti. Eu te espero. Dia abafado engole lembrança/presença. Penso que te amar, te amar assim o tempo todo…, bem, tu sabes, sou eu menina/criança: nada me importa, quero apenas te tocar… Saudade pesada de nós dois. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro – 2018

amanheci casada

No dia 9 de fevereiro eu me casei. Acho que perdemos a memória, aos poucos, ou será mesmo num repente? Perdemos quando a vida acontece neste agito … Tanta coisa na hora/ no tempo de apenas sentir a vida se aquietando. Adoro o verbo aquietar que chega do quieto, do tranquilo.

Até hoje não sabe ao certo quantas memórias perdeu Não sabe quanto dele se perdeu justamente com essas memórias. Perder memórias não é o mesmo que perder um braço – disse -me.  – Quando perdemos um braço sabemos que perdemos um braço. As pessoas olham para nós e sabem que perdemos um braço. Com as memórias, não. Não sabemos que as perdemos, ninguém dá conta, mas, como as perdemos, alguma coisa no nosso espírito deixa de funcionar. Sabe, às vezes aparecem criaturas aqui que me conhecem. Eu não me lembro delas. Finjo que me lembro, por cortesia ou para não ter de dar grandes explicações, mas não faço a menor ideia. É gente saída desses dias que eu perdi, talvez semanas, talvez meses, talvez anos, desses buracos enormes na minha memória.” (p.43)  José Eduardo Agualusa –  A Sociedade dos Sonhadores Involuntários –

Estou no conflito de agarrar, pegar de volta a memória, ou esquecer, esquecer mesmo …