apenas eu mesma posso modificar o que sou

Este problema interior tem um característica. Urgência e futuro. O problema é a crise existencial do que poderia, mas não foi resolvido. Aceitar a palavra em toda a sua interioridade, não como prática. Enfim, penso: independente de aceitar o resolvido, sem novas possibilidades, pode não resultar em crise, mas desespero. Isso expressa o desejo inconsciente de futuro. Futuro  =  Amor presente e inteiro. Desespero saber que não vai ser nunca = a crise. É problema quando sinto meu mundo inadequado, ou quando sou inadequada para ele. Algo me fere, agride, sinto dor. Estou doente. Desgovernada. Pedir que me perdoe? É imperdoável o desgoverno. Porta fechada. Exaustão física levada como defesa contra a hostilidade. Distorção do amor e da confiança.

Esta é a história das interdições do amor, das cartas duplas de um duplo momento de dúvida e medo que me paralisou. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2018 – Torres

prainha torres e amora

Foto de Ana Maria Vianna Moog – junho de 2018 – TORRES

sem passado

Este dizer esparramado esquisito uma saudade. Nós dois sem passado. E eu não te reconheço. As cidades se reconhecem pelo andar, como as pessoas. O recém chegado deduz a vibração do movimento nas ruas. Entra no café para ler jornal e cartas, se cartas existem. Ainda que fosse apenas imaginação, não importa.  A vida passa lenta ao fazer do homem, homem. E logo somos apenas imaginação. Ou borboleta, ou nada. E eu passo a imaginar… Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2018 –

insubstituível

Naquilo que és insubstituível, tu és insubstituível.  Aquilo que nos pensam insubstituível é amor.

Amor é amanhã e depois de amanhã e sempre enquanto for amor, – ser insubstituível no que somos insubstituíveis. Já disseram que o amor está no meio das pernas. Está. Está no meio das pernas quando pernas, braços, boca, pescoço, seios estão possuídos por nós mesmos, isto é, dentro de nós, e em estado de amor. Então, nestes dois amados amores o amor está entre as pernas. Entre as pernas deles dois. Mas na distância do outro, na ausência, na divisão de amores com amores onde sexo se mistura, tudo se esvai. Tudo se perde. Tudo escorrega nas lágrimas e no vazio. E estes pedaços são apenas pedaços, qualquer pedaço, qualquer perna não é amor, não faz amor nem prazer, faz sexo, em uma hora, um dia, e vai embora. Isto não é amor. Não é nada.

Afinal, então, o que é o amor? O amor é o que ainda não encontrei, não sei, não tenho, e, bem dizer, nem quero. Nada que seja verdadeiro eu quero. É arremedo, o depois, o reflexo, a ideia, o já feito. Talvez seja assim mesmo aos pedaços o viver, sem inteiro. Sou um pedaço querendo outro pedaço com a ilusão do inteiro MAYA. Mas, no final, não basta o pedaço. O outro me molda numa história que não escrevi, não pensei, mas que eu quero. Elizabeth M.B. Mattos  – 2018 em junho – Torres

Maya é um nome que possui várias origens como Hebraica, Tupi, Latina, Sânscrita e tem como significado “ilusão”, “água”, “grande” e “mãe”. … Outra possibilidade de sua origem é ter vindo do sânscrito, onde Maya, segundo a tradição budista, é o nome da mãe de Buda. Usado como outro nome para descrever a deusa hindu Durga.

de amor

– procurei pelas safras de amor que desde cedo o nascimento, vida e morte e imortalidade, planto agora tão amorosamente.” Walt Whitman

As queixas de amor, quando amor já não é mais amor, mas apenas dor. Apenas a dor de termos, afinal, outra vez, amado errado. Depois de tantos tropeços, não morremos. A vida segue vida atrelada aos cadáveres de outras vidas. Um poema. O amor há que ser sério, engajado, liso e frutífero. Nunca lúdico ou solto. Elizabeth M.B. Mattos

 Morte norte no papel

Se eu pudesse dizer, dizer aberto desejo … Eu conto, meu amigo: nervos fechados, olhos frestados, tudo adormece. Desço lenta as escadas do viaduto desta igreja, …embarco sem bagagem no ônibus. Vou em direção ao mar. Nas águas mergulho: aquietada saudade. Escondida na palavra, possíveis palavras, caminho no escuro.

Possibilidade. Espera o tempo. Mas, nós dois não esperamos, olhamos. Olhamos pelo aberto olhar triste da vida. Memória desta lágrima que secou. ElizaBeth Mattos – 2006

pensando no impossível

Se não tivesse acontecido o encontro daquelas pessoas que velavam agonia em soturna despedida, eu não o teria conhecido…

Se ele, o outro, não tivesse mencionado o avô francês, a filha em Israel. Se os olhos machucados não fossem azuis!

Se tu não estivesses morrendo do outro lado da porta, e eu não tivesse desesperado …, nada teria acontecido. O inusitado acontece no desarrazoado e no imprevisível. Foi desta forma que tudo se passou: loucamente sem lógica.

Se eu não tivesse presenciado aquele presépio invertido, não teria sorrindo complacente ao discurso nervoso do outro lado da sala, e nunca teria vivido amor no corpo de outro homem.

Das roupas pretas do luto, das mãos frias e dos cabelos desfeitos, da cadeira de espaldar alto, frustração.

Cega piso nos meus sonhos e termino encolhida.

Poço cinzento: respirar é morrer aos poucos: beijar teus beijos. Elizabeth M.B. Mattos – Porto Alegre –

objetos na mesa preta sala

mero egoísmo

Há quem diga (e também já li em alguma parte) que o mais alto amor sentido pelo próximo não passa no fundo de mero egoísmo. Estranho recorte. Acho que somos o olhar do outro, a vontade do outro, o desânimo do outro. Estupefata! Nada me define; sou o outro. Não há defesa possível. Tu recuas, eu recuo.  Então a liberdade presa no fio, … estranho carretel que corre para baixo do sofá … o fio está preso no pé da cadeira, tropeço, ou melhor eu me enrolo. Que saudade posso ter de mim mesma se não existo sem teu olhar tua palavra, teu gesto. Esquisitices de viver. Elizabeth M.B.Mattos junho de 2018 – Torres

lindaaaaaaaaa

Foto de Ana Maria Vianna Moog – junho de 2018 – Torres

um dia viajamos

Meu amigo: quantos meses ou anos?! Que enorme e imenso tempo de não falar escrever nem saber um do outro. Não te esqueço: seguro e prendo. Nem sei mais o porquê de tanto silêncio e tanta lembrança. São anos de estudar e não aprender, de escutar sem entender. Como foi bom sermos jovens nos corredores daquela velha Notre Dame, a faculdade. Francisco Brennand não me espera e avança no tempo de ter 90 anos. Quero te contar. Eu avó – velha e menina. Quero publicar um livro do Amoras, escrever uma novela, ou ficar eternamente jovem, não consigo. Envelheço. Aqui faz frio. Ônix e eu nos acompanhamos nas caminhadas e no dia. Nunca pensei que seria assim: um cão e eu.  Pensei amores amados. Pensei romance, beijo e encantamento, mas não é assim viver. Exige. Exige atenção cuidado e solidão. Das mais carregadas e profundas solidões. Leio um livro depois do outro. Ou dois juntos aos tropeços. Anoto. Esqueço. E sigo escrevendo sem projeto, sem linha. Precisaria do amigo, da tua supervisão, do meu professor. Igual desanimo. E o Rio de Janeiro se perdeu. Não sei como seria a Viúva Lacerda, ou a Macedo Sobrinho, nem a Redentor, nem Ipanema, nem Copacabana, nem a Floresta da Tijuca, nem o francês. Engraçado como fica tudo para trás …, nem Limoges, nem Paris, nem a Bretanha. Eu poderia ficar para sempre por lá. Poderia? Recomeçar. Recomeçar. O dia tem que ter esta carga esta força esta coragem E não saio do lugar. Estes dias encontrei uma carta da Laila. O nome me encanta, mas me dei conta que fui apenas eu a procurar. E a Sonia morreu, e logo nem tu nem eu estaremos aqui porque ninguém fica, todos nós viajamos, um dia. Beth Mattos

quebra-cabeça

onde estou? grades nas janelas ( só no primeiro andar, é verdade, para proteção contra ladões – tem um desenho geométrico que lembra raios de luz partindo de um dos ângulos e não há barreira ocultando a paisagem). Os quartos estão cheios de lentos com cobertas. Faz frio. E em cada um há um homenzinho aterrorizado. Pela manhã recebe – se um pãozinho, chá e açúcar (o que é uma quebra de regulamento, uma vez que mais tarde chega o verdadeiro desjejum). junho de 2018 – Torres