depois da meia noite

Passo a noite a imaginar. Como você vive, sente, e respira. Quantos jogos assistiu, quais de fato importaram, em quantos gritou, ou levantou da cadeira, de quantos participou, tão intenso era. Quantas vezes abriu a porta da varanda para respirar a noite, olhar pro escuro, ou pensar no que deveria escrever depois. Quantos livros você abriu ao acaso. Quantas mulheres desejou. E, segurando uma cerveja pensou no dia comprido, e nas tarefas matinais. E na vida que tem cheiro de terra, não de mar. Quantas vezes falou com a filha ao telefone. Quantas vezes sentiu saudade da vida de antes, de sempre, ou lamentou o  hoje / este agora, ou festejou. Quantas vezes chorou? Histórias de amor e o amor (nominado / imaginado invasor sentimento) é que faz trepidar em constante confusão o que eu sinto por você.

” Eu me dava ao prazer de imaginá -lo, a cabeça debruçada sobre o papel até bem depois da meia-noite, quando você se levanta da sua mesa triste e desesperado para arrastar os pés até a geladeira, abrir a porta e examinar o que contém com um olhar distraído, sem nada pegar, como contou em uma das suas crônicas; e depois vejo você vagando pelo apartamento, ou andando em círculos em volta de sua mesa. […] Por todos esses anos, só fazia pensar em você  enquanto lia suas crônicas. Me dê seu endereço, eu imploro – ou pelo menos me diga alguma coisa”. (p.415) Orhan Pamuk  O Livro Negro

“Você é sua bem-amada, e sua bem-amada é você; ainda não entendeu? 

Acho / penso. Entendo. Não existe amor encanto, ou sentimento a definir agarrar. Ou que se possa segurar possuir  inteiro, e triturar. …, e se complete. Imaginação, fantasia, palavreado, ou depuração. Intenso. Estou no outro e o outro está em mim. Sinto sua mão na minha pele, tenho o beijo. Toque sensação prazer. O sonho me acorda . Vou até a geladeira para beber o leite com chocolate, energia com vontade, escuto outra vez a música, sua voz. Abro as janelas. Você sereno, tranquilo. Somos parceiros e amados. E ainda não nos tocamos …, sabe por quê? Não envelhecemos  o necessário.

Cada uma dessas histórias de amor levava a uma outra história num encadeamento infinito, em que cada porta desembocava em outra. E todas aquelas histórias de amor – quer se passassem em Damasco ou nos desertos da Arábia, nas estepes asiáticas ou no Horassan, em Verona, ao pé dos Alpes, ou em Bagdá, às margens do Tigre – no Rio de Janeiro, na Lagoa do Violão,  Porto Alegre, Belo Horizonte, Montevidéu, Buenos Aires ou em Torres –  eram tristes, todas eram melancólicas, todas eram pungentes.” (p.422-423)

São muitas e nenhuma. Tão particular o encontro, o momento, o gesto, a certeza. Todas as descrições e os sentimentos segmentados, e únicos. A cada um seu tempo, a cada idade intensidade …, esquisito esta coisa de amar o amor. Amar não termina, atropela. Respira e sobrevive. Fantasia. E sente medo, muito medo. O amor é você a me procurar e a desejar e a querer me encontrar, depois,  desaparecer. E ficar assim, grudada em ti a te  pensar /amar. Elizabeth M.B. Mattos 2018 – Torres

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