céu e inferno

…, oscilo entre os dois, ora no céu, ora no inferno e uma semana inteira no limbo do sonho, mergulho em mim mesma. Sem espelho, sem vontade, mas ainda posso sorrir, o entusiasmo: Ônix  comanda o dia: água, comida, passeio e ao fim, recolhe sapatos, deita em cima, não fala porque é cachorro, olha fixo, e decide por mim… Por ela.

Dia de azul, caminho. Sol amigo neste inverno forte que visita o frio. Conversa longa / larga e detalhada. Sem obstrução, ainda. Não resisto, devolvo a colheradas e leio Guimarães Rosa. Da aula ao desejo. Retenho, fico debruçada… Sou eu, Beth Mattos.

Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo.” (p.92)

Com certeza, quero céu depois do inferno. Acolhida, beleza para sempre. Generosidade aberta. Cheiro de bolo ou maças ao forno, risada franca e conversas sem ter fim. Sou eu. E Guimarães Rosa, o nosso grande, segue  incrível! No limbo, sou eu quem resvala no vão da escada. E no gramado com rosetas, pés descalços, eu me aventuro.

” De mim, conto. Como é que se pode gostar do verdadeiro no falso? Amizade com ilusão de desilusão. Vida muito esponjosa. Eu passava fácil, mas tinha sonhos, que me afadigavam. Dos que a gente acorda devagar. O Amor? Pássaro que põe ovos de ferro. Pior foi quando peguei a levar cruas minhas noites, sem poder sono. Diadorim era aquela estreita pessoa – não dava de transparecer o que cismava profundo, nem o que presumia […] Voltei para os frios da razão. Agora, destino da gente, o senhor veja […] (p.93)

João Guimarães Rosa Grande Sertão: Veredas  ‘ O diabo na rua, no meio do redemoinho…’

 De mim posso contar tudo que queiram saber. Contar/rasgar e ou deixar nas linhas do escrito. Se o amigo reconhece a palavra e fica azul, azulando ou encabula desdiga. Negue. Sou eu. Sou sempre eu que exponho o sonho. Tu vens se tu quiseres, depois estes anos entre o céu e o inferno passam depressa, saímos do limbo, ou nos enfiamos no primeiro sonho. Com pastéis, suco de laranja feito na hora, ou camarões ou peixe assado. Temos o rio Mampituba. Não venhas dizer que é tarde… Bebemos cerveja então, gelada. E pronto! Brindamos! O inverno logo passa. Vem! Vem dar um abraço e festejar! Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres, a mais bela praia do Rio Grande do Sul

ANA MARIA minha filha

Ana Maria clicada Moog neste julho de 2019

 

Ônix na beira da Lagoa do Violão, trabalho na catalogação das cartas de Iberê Camargo

 

do vento

Quando o Vento passa, o capim se encrespa como um lago e o trigal ondula como o mar. É a dança do Vento. Não ouves o Vento contar histórias? sua voz é um canto, tem vários sons. Ouvido entre as árvores da floresta, tem um som; através dos buracos, das fendas, das rachaduras das paredes, tem outro. Vês lá do alto, o Vento tangendo as nuvens como se fossem um rebanho de ovelhas? Ouves como aqui embaixo o Vento uiva através do portão aberto, como se fosse a sentinela tocando a sua corneta? Com estranho gemido entra pela chaminé. Erguem – se as labaredas, o fogo crepita, voam fagulhas, o clarão das chamas ilumina todo o aposento. Como é bom e agradável deixar – se ficar ali no aconchego da sala aquecida, e ouvir embevecido, o Vento lá fora, a assobiar, a uivar… Ele conhece mais lendas e histórias do que todos nós juntos. A voz dele é um canto e um gemido. Deixo – o entrar.” (p.437)Hans Christian Andersen (1805-1875) Quando o vento passa

 

 

estranho, virtual, paralelo

Enveredamos por caminho estranho, virtual, paralelo. E não estamos, nem tu, nem eu a pensar que a vida, a vida acontece noutra dimensão, sem ficção, sem poesia, eu diria até mesmo, sem música. Branco e preto. Tem odores, convicções, e na verdade, nem cartas existem, nem envelopes, nem tinta, nem o correio funciona, poucos telegramas, nem urgência. Tudo acontece na mesma hora, a comida pode chegar pelo telefone. E os livros aparecem inteiros e virtuais nos tabletes. Tudo é o agora. Já abro os olhos corro para fazer isso ou aquilo, café, aspirar, levar o cachorro para passear, lavar a louça, recolher a roupa do varal, colocar as toalhas na máquina de lavar, estas pequenas atividades que são chamadas de domésticas. Ou pensar neste ou naquele filho, perguntar pelos netos, ser ouvidos, dar respostas, perguntar, resolver o que vou comer na hora do almoço. E vivo sozinha. Consegui ser eu comigo mesma. Claro que antes tinha os filhos. Luiza tinha sete anos quando chegamos em Torres, já está com 32 anos. Nesta ocasião a velha estava na Alemanha, Pedro já voltara a morar no Rio de Janeiro, apenas a Joana comigo, em casa. Todos foram viver suas vidas. Um dia me dei conta que estava pela primeira vez na vida absolutamente sozinha. E já estava a envelhecer. Enfim, o curso normal / natural da vida. Enamoramentos não tinham lugar. Chegado o inverno de envelhecer também o razoável tempo de amorar, fazer amoras azuis. Enfim, acionei o equilíbrio e o lógica razoável de ser apenas uma avó como tantas outras, ou melhora, diferente porque amorando

Aos 70 anos começo o percurso para chegar aos 80, ou 90 anos. Então, terei vivido muito e bastante.

Estou me sentindo adolescente nesta investida que no meu imaginário inclui beijos e abraços, olhares, mão na mão. Quando lamento a morte de G. não é apenas ele, mas a minha ilusão de uma história que mais se diria estória porque fantástica, colorida. Onde um beijo, um carinho, o tato poderia voltar a significar. Um para o outro, eu. E depois lá estás a mencionar afinidades eletivas, e eu me desviei.  Eu me sinto esquisita, estranha porque insisto que preciso te olhar, sentir ou não ver o amigo, o outro, mas o homem. Neste sentido fico pensando que não é preciso marcar um encontro, passar pela espera, acertar um passo. Poderíamos guardar a marca do século XIX quando as missivas tinham a importância justa.  Seis aviões, em acrobacias, interrompem minha carta. Adoro aviões! Adoro a vida. E agora estou apaixonada por nós dois, é isso que eu gostaria de te dizer? Elizabeth M.B. Mattos –  abril de 2017 -Torres

Se for necessário, possível, estarei lá

Se for necessário, possível, estarei lá.

BELEZA

Depois de disputas e desencontros com a beleza retomo a louca vontade avassaladora de ser bela, linda, enquadrada no prazer de um olhar, na suavidade ligeira e tocante do desejo. Como resgatar? Como desfazer o equívoco? Ou como foi não receber dádiva? A beleza tem um tempo efêmero de consciência, depois esfacela-se na mesmice de caminhos sempre abertos, facilidades comuns, desperdício de qualidades, de dons. Tantos foram não, quantos misteriosos sim, resultado? Timidez. Equação comum da beleza, facilidades… Desvio. Súbito uma foto, um olhar, o escárnio, a ausência. O peso desta dor-difícil. Desaparece o brilho. Retoma coragem. O feio se arrasta como grilhão, prisão, e grandiosa libertação. E agora como compartilhar esta feiura ofegante, construída? A negativa. Tantos não conhecem a facilidade desta beleza doada.

A fome, o desejo, a futilidade, um desprezo do fácil chega como apelo. E a nominada beleza se transforma em falta. Surge como falta essencial ao abre-te sésamo da conquista. O feio se estratifica numa foto, num meio sorriso tímido, na careta transtornada da emoção. E o nublado da tristeza se afigura passado, fim, término. O enterro atropelado, às pressas, de sentimentos outrora fáceis, fluídos. A velada e contida tristeza está no peso daquele gesto que parece folha outonal, amarelada, dourada, perfeita, mas sem conotação do avizinhado inverno. O feio, o desforme, o deslocado, o tropeço ensaiado de não poder ser, fazer, ou estar se estratifica congelado no que será um sempre. O feio é o limite, o último passo pesado do ponto. Por que não podemos suportar o desfazer da beleza como troca, despojamento frágil? Aceitar o feio graduar como mais ou menos. A beleza se apresenta triunfante. O pequeno ser feio, ou o grande despojado irregular, disforme se fecha na inteireza do solitário. Um estranho paralelo. Este é bonito, este é feio. Este começa aquele segue. Este triunfa, aquele outro se afunda. E a beleza se apaga. Perde a luz, o brilho. As certezas se obscurecem nesta caverna invernosa. Toda a fragilidade se apresenta como certeza certa, terminou. A beleza na sua essencial vitalidade se constrange, se reconhece superficial, mas assim mesma essencial. A beleza seria o suporte de um tempo de permanência e facilidade…  Conto de fadas que eterniza o E foram felizes para sempre. Não existe um para sempre no vagar deste olhar em direção ao belo, alimento agregador? Terei carregado a beleza como peso, obstáculo? Em que curva esquisita do caminho significou dificuldade? Ou foi apenas um capricho do meu julgamento? Desfigurar o belo é pecado contra a vida. Um pedido de perdão! Ser belo, segurar/agarrar a beleza, encerrar o prazer desta fluidez é sinônimo de eterno, de para sempre. Assim mesmo percebo o perigo de forjá-la porque é voluntariosa. Tem o seu próprio caminho, e não se desfigura, ou desaparece. E também não está mais lá, não é mais a mesma curva, nem o mesmo ritmo, ficou esquisito, estranho, feio, outro caminho, sem perceber a essência desta beleza pousada. Nova perspectiva. A beleza vem de dentro, como reflexo, simples assim. Aquela tela, este mar, aquele caminho, a pedra, o livro, a mesa, uma Pantoche, a palavra, o lápis, a rosa, o vermelho tanto como o amarelo estão ali, belos. O que estou a procurar? A sombra nesta foto não é da beleza, mas a tomada de um momento.

As rosas chegaram…

No cartão mar, grama molhada, passarinhada…

E agora borboletas!

A loucura tem vida própria. O café cheiro bom. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres e bastante, muito frio azul.

 

 

 

 

 

ensaiando o tropeço

Repetido / ampliado. Reeditado na busca de outro texto. Escrever tem esta loucura de cair nas gavetas desordenadas do computador.

Depois da dor, daquela dor dura e persistente, o corpo parou de suar. A cabeça afundou no travesseiro. A mulher enrolada nas cobertas, braços apertados ao corpo, ou presos, ou amolecidos… O volume humano na cama.  Aquela cadeira de riscas geométricas ficou menor, a mesa abarrotada de livros, papéis, e caixas completou o desalinho. Desordem. No chão o vestido, meias e sapatos virados. O quarto foi mudando de cor:  azul, violeta, depois vermelho. Finalmente o perfeito da noite. Ruídos da rua sobem pelos degraus com a velocidade natural do som; entram lentos, comovidos. Janelas se fecham mansas. Ela não acordou no dia seguinte, apenas no meio da tarde de outro novo dia. A dor desafiando, pretensiosa, com pompa.  Eugênia se conformou. Olhou para os comprimidos, o copo vazio, levantou medindo os passos. Abriu janelas para o vento fresco…

O vermelho, o rosado, o branco, o amarelo das folhas se dobraram. Tempo enganoso. É preciso medi-lo com relógios, badaladas, números. O sentimento se acomoda no medo. Ela não sabe por que está ali tão cansada! Não há motivo. Apenas sentiu a dor, tomou o remédio, e se entregou.

A beleza daquele copo esquecido na mesa, junto as frutas, perto do pote violeta, transparente, neste momento redefine o espaço… sentimentos. O banal precioso. Olhar o tempo através dos objetos. Recontar a história matizada… A percepção zela este caminho. E se não puder olhar, pode escutar o silêncio, o gato, os carros, a luz no movimento das cortinas. Pode? E o cheiro de jasmim, doce, enjoado também descreve…

Deixou a água escorrer, encher a banheira. O cabelo ficou azul, o corpo uma espuma. E voltou para o mergulho. Repetidas vezes brincou com o perfume. Acomodar-se na vida do outro, entender, ouvir e ficar. Uma ideia confusa sobre a convivência. Expandir a dia numa hora solta com aquela conversa banal sobre peras e maças, farinha e beijos. Uma matemática difícil. Uma gramática impossível. Da dor para o olhar, do olhar para a ideia.

A dor invade, atrapalha. Volta para a cama. Desta vez as pernas se alongam, retoma a medida certa do colchão. Ocupa o espaço inteiro da cama, e volta a dormir.

Então?! Temos que voltar a escrever. Como? Assim mesmo, sem pensar, como se fosse um… Exatamente o quê? Diário? Carta, uma carta. Relato na terceira pessoa? Um nada. Um pulo. Sou eu.

 

Explicar o sentimento. Dar a receita. Transformar em risada tua angustia. Solucionar entraves. Desfazer o zelo em consolo. Contar da ansiedade miúda.  Do engodo, mentira, e o faz de conta da infância… Igualar sentimentos. Afeto certo. Respeito. Visão destorcida da paixão que por si só explica, ou justifica. Desmentir o pavor interno de possível rejeição. A escolha de estar apenas em si mesma, luxo excêntrico. O jeito errado de não ter medo. Ser indesejável na solidão consciente. A festa de balões verdes…

Trauma da infância ilegítima, e sem mãe, Marilyn Monroe. O sentimento do abandono. Expor, recontar, repartir, inventar. Queixas ranhetas, lembranças esquecidas: um guardanapo com monograma. Livro encadernado de vermelho. Ordem. Beleza. Excesso na simplicidade. Um tapete branco. Hortência. O retrato. É preciso sentir amor no milagre escondido, na natureza humana, do desabrochar da flor, na chuva, na terra, na areia do mar…. Procurar no sentido absoluto porque tudo já está encontrado, achado. Explicar desejo. Certeza absoluta. O fio imaginário na estante cheia de livros não lidos, sem pó. O escuro. Noite mal dormida.

Subiu as escadas até o terceiro pavimento sem dificuldade. Bateu, tocou a campainha. Logo a porta se abriu devagar, por inteiro. Eugênia vestia azul. Cabelos puxados para trás. A expressão lisa, talvez feliz, abraça Olivia.

 

Desatenta. Sem energia. Exausta. Boa conversa na cerveja, nas risadas. Cheiro de mar no asfalto. Leveza…Calor. Depois da noite fechada, e da manhã aberta retomar. Exatamente o que é preciso fazer? Árvore de Natal. Pacotes, listas, mimos. Não precisa mandar cartões. A mesma coisa. A mamadeira. Os brinquedos. O suor. O cheiro da grama cortada naquela casa que não existe. Cômodos vazios recém pintados. Venezianas. Já está lá. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres

 

 

desvio favorável

Escrever já é um desvio favorável ao esconderijo” escreve Patrícia Galvão. Também penoso, difícil, perigoso! Palavra deslocada, desfocada.

Pelas janelas abertas vejo a Lagoa do Violão iluminada. Chuva miúda. Antes, e depois da descoberta… Referência esquecida. A história antes, e depois.

O que verdadeiramente importa? Afetos, mesmo escondidos. Chorar importa. A alma se esvazia na lágrima… Escorre dor, e medo. A chuva continua. E já outra vez sem vento. O sol.

Música recupera sentimentos. A alma segue a luz da melodia. No silêncio, escutamos com o olhar. A memória agarrou uma xícara, este livro, aquela cadeira, depois a tela com tintas escorridas de Jean Lehmens. A carta, este caderno. A caixa das fitas, as pérolas descascadas. O bule branco. Objetos. Não sinto o cheiro dos eucaliptos, nem das magnólias. Esqueci o jardim dos jacarandás. Vamos construindo a memória com fitas, vidros, caixas, cartões e fotos. Guardados escondidos no porão, carcomidos. Elas caminham, estas coisas. Não ficam a espera… Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2009 – busca frenética por velhos textos – julho de 2019

 

 

Lenta, muito lenta esta memória

Tudo lento. Nada revirado neste ritmo inquieto e agitado, ou melhor, pronto ao duelo para ser um pouco mais, ou seguir impaciente, ser menos. Questiono. Vou a prova dos nove, ou melhor, já fiz, já brinquei na álgebra, e parei, não sei mais fazer conta…

Não estudei.  Nem matemática nem latim, muito menos história. Geografia? Em que fresta do mundo eu me enfiei e consegui abrir o sol, nem levantei nuvens, não fiz chover. Vou dizendo sem dizer indignada, consternada.

Nem o mais simples. Congelo, mesmo apressada…  Hoje fiz um bolo. O gosto. Bem, gosto de bolo, eu acho. Não embatumou, nem desandou, vingou, se fez bolo (risos), não tem / não ficou com aquele gosto divino (sorrindo), nem a leveza, nem o encanto do bolo saído do forno em forma mágica a se desmanchar na boca…

Ficou bolo, ora! Amanhã vou testar panquecas. Adoro panquecas! Carne, espinafre, ou de banana, ou de goiabada. Panquecas cobertas com queijo, molho de tomate feito ali na hora: manteiga, alho, cebola, cheiro verde, cheiro perfumado de cozinha. Frango assado, dourado. Rosbife, cebolas carameladas. Perdizes ao molho pardo.  Ou guisado, ovos cozidos, farofa e arroz com passas. Ou sem passas, arroz solto, feito na hora, em boa hora. Aos perfumes da cozinha, um brinde! Tudo/ ou muito temperado com vinho. Água da fonte se fonte nós tivéssemos, boa água. Ou uma picanha. Não sei. Juro que não estou com fome. Imagino agora as frutas: laranjas em pirâmides, bananas (sempre temos), abacate, talvez cerejas se pudéssemos, os pêssegos chegam com as uvas no verão. Limões amarelos (perfumados) e verdes.

Agora consternada! Estranha realidade! Consternada a pensar na entrevista exaustiva de ontem (televisionada), ou antes de ontem. Não importa mais. Os óbvios. E somos o submundo do mundo incauto vingativo, enlouquecido. Vida torcida. Solitários em cavernas escuras, nem tão escuras! Luz da tela, televisão, ao gosto… Qual gosto? Francês, americano, inglês, nacional, caipira, capitalista, metropolitano, populista ou remediado, conforme o orçamento doméstico. Inculto, superior. Preparado. Estamos paramentados para qual específica guerra? Eu e meu bolo mais ou menos, minhas conversas intercortadas, meu sono vigiado. E a ciranda da calçada esvaziada pelo frio: pássaros. Não posso divagar. Tenho que ir andando a caminhar muito, muito e muito devagar. Buracos. Apesar da lua do sol, dos amigos dos amantes e dos filhos, das estrelas e dos livros…

Tropeço estabanada. Aonde se esconde a boa memória? Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres

Não posso, não quero e não vou.”

Ainda pergunto o porquê. Sedução: misteriosa e instigante. Passageiro / passageira, ficamos, eu e tu, tu e eu no mesmo lugar: tu no lado certo, intrigado com os olhos azuis da Lucila, eu distraída, sem ver o olhar a dançar na alegria segura dos emblemáticos 17 anos, e era verão. Era Torres. Ano de ser rainha… Verdade.