Sigo cortando e reduzindo. Sigo engolindo livros e palavras. Liquidificando. E assim mesmo, desarvorada ou perdida, insisto: vou de lá para cá, daqui para a ponte, atordoada. Apaixonada. Sim, apaixonada pela possibilidade da paixão, não real, mas a imaginada. Imaginação que devora, ou pontua, ou alucina, e depois, se esvazia… E se acomoda na mesma sala, no mesma cadeira. Penso as cores. Eu me imaginei com pincéis. Esparramo tinta, lambuzo a tela, e alucino nos azuis. Simone, não consigo. Não sei fazer. Olho. Vejo. Enxergo devagar o verde, depois o amarelo, e o roxo vejo as riscas pretas. Certeza da luz. Voz voa verdade venta, voracidade. Depois desanimo, Eu me apaixono.
“Sua própria explicação para os fracassos no amor, […], é que tem que encontrar a mulher certa. A mulher certa enxergará, enxergará, através da superfície opaca que ele apresenta ao mundo, as profundezas interiores; a mulher certa desvendará as intensidades ocultas de paixão dentro dele.[…]” .
Milhões de vezes o êxtase / transe persigo autores amados, escondidos. Vivos, contemporâneos / eternos. J.M. Coetzee. Preciso respirar. Quando me demoro, e ou tensiono, eu me apaixono outra vez… E outra vez. Elizabeth M.B. Mattos em outubro ventoso.
J.M. COETZEE nasceu na Cidade do Cabo, na África do Sul, em 1940. É um dos principais escritores contemporâneos de língua inglesa, e já recebeu diversos prêmios por sua obra, entre eles o Nobel, em 2003 e – caso único – dois Booker Prize, 1983 por Vida e época de Michael K , e em 1999, por Desonra.
Não encontro adjetivo. O texto segue substantivo. Absoluto. E rasga e cola e esfarela. De repente eu penso na importância do lugar / do pertencimento, fazer parte para poder, afinal, dissecar e mostrar. Ele descreve, não a biografia, mas o tempo, a época. “ Ele acredita em amor apaixonado e em seu podes transfigurador. Sua experiência, porém, é que relações eróticas devoram o tempo, o exaurem, e aleijam seu trabalho.” […] (p.88) J.M. Coetzee, Juventude – afinal escrever exige, e aos vinte anos já temos muitas, muitas e certeza, o suficiente para encontrar… Talvez aos quinze, ou sempre. E tudo já foi escrito poetado e representado. Aonde um Eu se encaixa? Apaixonada, eu quero. A conversa que preciso ter contigo, ou o olhar no olho, e sentir o vento, e o cheiro, e o mar. Eu quero te sentir. Por que te escondes?