Estes romances portugueses dançam, a língua sonora do embalo da canção. Portugal doce! E eu devo caminhar por estas pedras a reconhecer o meu pedaço apartado, e reencontrar outra memória que lá enterrei. É a saudade do meu pai que me sacode, a presença da minha mãe e a carta encontrada/guardada:
Torres, 12 de abril, quinta-feira
Elizabeth
Recebi duas cartas tuas e hoje escrevo[…] Aqui passo bem recordando meus dias passados e na sala estou me vendo sempre com a Anita, olhando o quadro do pintor Klimt – ele se parece muito com tua mãe: o mesmo jeito, a mesma postura de quando a conheci, em 1937……
Tudo aqui me traz recordações, boas, graças a Deus! Vejo vocês a meu redor, relembro as passagens dos nossos verões e penso o quanto valerá para ti este lugar que tanto amo e me agasalha na minha velhice. […]
Fragmentos de uma carta do meu pai. Eles me sacodem. Respinga ausência. Eu já costurava a vida com Jorge, em quem ele confiava… Nosso casamento lhe tirou aflições. Céus! Eu tinha trinta e dois anos quando nos casamos, – de alguma forma, ainda não tinha saído de casa… Meus três filhos eram/foram também as crianças do meu pai e da minha mãe… E.M.B. Mattos
Sentaram-se ao pé de um fio de água, um ribeiro pobre. A Adelaide ficou sentada no chão, continuou abraçada à mala, a olhar para os homens que cortavam lascas de pão, ofereceram – lhe um pedaço, recusou, ou a olhar para dentro da noite, desconsolada. É a ausência que faz nascer o pensamento.” (p.97) José Luís Peixoto LIVRO
O beijo – GUSTAV KLIMT
uma foto tirada do neto João Brentano – beira do ria Mampituba –