A vida do cotidiano, da caminhada pela lagoa, da compra na feira livre, de olhar o mar e da leitura se mistura entre real e fictício. As citações importam nesta travessia justa / única e perfeita: a voz do escritor. Leio com a voracidade inquieta. Não consigo respirar, perco o fôlego. J.M. Coetzee acena altivo.
“O diabo está em toda parte debaixo da pele das coisas, procurando um jeito de sair para a luz.”(p.187) Coetzee in Elizabeth Costello
Sentimento do mal, do perverso atravessa. Reagir, perdoar e escutar outra vez, mais uma vez para abraçar. Não se trata do definitivo. Estou sempre a querer/nem sempre a conseguir. Lacuna na conversa, na indignação. Não resolver apressado, resolvendo… O corpo a gritar por socorro! Deve ser o diabo!
“Esta é minha tese de hoje: que certas coisas não são boas de se ler nem de se escrever. Vamos colocar a questão de outro jeito: levo muito a sério a ideia de que o artista se arrisca bastante ao se aventurar a lugares proibidos; arrisca, especificamente, a si mesmo; arrisca, talvez, tudo. Levo essa afirmação a sério porque levo a sério a proibição dos lugares proibidos.” (p.193)
Tenho eu também, lugares proibidos. Certamente proibidos. Interrompo a leitura. O inferno deste “porão, onde em julho de 1944, foram enforcados os conspiradores,[…]”. Penso rupturas a rasgar, danificar, sangrar. Existiam rosas. De certo toco no inferno. O purgatório do silêncio. Castigo. Gosto das conversas do dia: “o pastel estava delicioso”, “a sessão da tarde, doce de leite”. Ou “Bermudas incríveis, mas coloca um chapéu.” “Hoje o sol ferve”, ou outras tantas banalidades importantes. Simplicidade de nada dizer no meio do abraço. Decisão difícil não te pensar! Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres