Estou sempre começando. Mas, na verdade, eu não sei onde é o início. Deve ter havido mesmo um início destas inseguranças. Das frustrações, dos desencontros.
Antônia arrumou a mala, pensou no que eu precisaria… Olhei para ela, laboriosa, mais cansada. Sua agilidade me fortificava. Movimentava o corpo pesado pela gravidez com leveza. Eu me dei conta do quanto viajar era/seria inoportuno: não estaria aqui quando a criança nascesse. Era tarde para mim. Enfim, eu descuidava das recomendações. Principalmente Antônia precisava de mim. Baixei os olhos. Sobrevivência seria olhar pela janela, olhar pela janela, olhar pela janela. A vida repetida na tristeza: pressão. Lágrimas. Fui acarinhada, abraçada. Arrumou o meu cabelo.
– Está tudo pronto mãe. Artur colocou gasolina no carro, revisou os pneus… Aprumei meu corpo. E pegaria aquele avião. E.M.B. Mattos 1999