Quando o tempo atropela soterrado de verde amarelo e de vermelho: dizemos vida. Estações se misturam na memória amorosa. Colei etiquetas, empilhei as caixas. Sem pudor atravessei a sala devagar. Pecado perfeito, maltratado ou prisioneiro, vivo.
Fronteiras foram/são/serão violadas, ou não existem… Somos os mesmos: verdes, azuis, amarelos, pretos, marrons ou com pintas coloridas, ou transparentes. Dourados, prateados, cobreados. Colônia amorosa: o mundo. E muito, bastante sono neste dormir continuado / induzido: sonoterapia reparadora e tranquila. Entre o cinzento e o branco e o negro da noite. Sem interferência. Durmo, acordo. Duas bolachas, uma maçã, macarrão com iscas de sabor. Uma preguiça, outra saudade, uma melodia: Schubert ou Chopin ou Liszt:. O piano toca dentro da minha caixa. E o vinho se faz necessário, uma taça… O excesso me cansa. Medida comedida de vontade. Gosto da chuva e espero o sol para que os travesseiros se iluminem quentes e frescos e os lençóis se perfumem com luz! Então, o vento engrossa a conversa do mau humor. Eu respeito. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2019 – Torres (14/11/2019 10:27:01)
2.
Amei /amaste / amamos solto. Fácil o mapa do nosso corpo. A cada surpresa outra certeza de prazer. Apenas sentir o gosto um do outro. A saliva e o mesmo odor. Sem filosofia, sem psicologia, sem literatura. E sem medida que não fosse exaustão. O tato o jeito e o riso derramado num copo com água bem lindo! A pequena sacada aberta e flores emolduram dias e noites. Horas desavisadas: somos coloridos. Temos, por inteiro, um ao outro. Desejo ardido. Posse. Acelero sem medo da velocidade, de ultrapassagens, nem da chuva nem da noite tenho medo. Nem das madrugadas. Então, sem pressa, somos abraços. O brinquedo da alegria e da brejeirice. Não pretendo mudar, alterar, concluir nada. Não há medida. Usufruímos. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2019 – Porto Alegre – Torres – sem medo da verdade. E já não estás mais aqui!
3.
“Pois nada é mais perigoso do que a ambição dos pequenos de serem grandes, e o primeiro objetivo das pequenas nações, mal foram criadas, fora intrigar umas contra as outras, brigando em torno de minúsculas faixas de terra, poloneses contra tchecos, húngaros contra romenos, búlgaros contra sérvios; e em sua condição de país mais fraco de todos nessas rivalidades, a minúscula Áustria defrontava – se com a Alemanha todo-poderosa. Esse país despedaçado, mutilado, cujos soberanos outrora reinaram sobre a Europa, era, devo repetir sempre, a pedra angular.” (p.355)
Stefan Zweig já conheces. Lembro que te mandei o pequeno livro “24 horas na vida de uma mulher”. Perfeito. Finalmente, eu me encontro com Autografia: o mundo de ontem. E também a vontade de reencontrar a OBRA COMPLETA que esteve nas estantes da biblioteca da casa na rua Vitor Hugo, 229. Compreendo a importância. E se mergulhar em livros didáticos de história, ou específicos, tendenciosamente, eu pergunto, por que não na literatura universal? Zweig faz um traçado de autores com quem conviveu e sofreu influência, e me reaproxima de Romain Rolland, e retoma a música! Ah! Viver tem este gosto de fel e mel e prazer na dor! Eu estou viva! E gosto de respirar! E hoje acordei com aquela vontade de revirar os livros as estantes, o tempo e o amor. Efeito de bons livros e boas insônias e tanto sono! Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2019 – Conclui que os amores amados foram os melhores, e os pais perfeitos, e as irmãs especiais, e os amigos perfeitos. Retrospectiva dos 70 anos esparramados nas buganvílias e nos jasmins, de fronte pra lagoa e no tempo. E hoje relendo volto ao ano de 2020 já no seu ritmo verão. Com chuva. Cinzento. Entre o calor e o fresco. É Torres. Elizabeth M.B. Mattos – janeiro de 2020 – Torres