“Então comecei uma listinha de sentimentos dos quais não sei o nome. Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto – como se chama o que sinto? A saudade que se tem de pessoa de quem a gente não gosta mais, essa mágoa e esse rancor – como se chama? Estar ocupada – e de repente parar por ter sido tomada por uma súbita desocupação desanuviadora e beata, como se uma luz de milagre tivesse entrado na sala: como se chama o que se sentiu? Mas devo avisar. Às vezes começa – se a brincar de pensar, e eis que inesperadamente o brinquedo é que começa a brincar conosco. Não é bom. É apenas frutífero.” Clarice Lispector – Brincar de pensar – 1967
E pensar exige felicidade, ou tristeza, ou aquele vazio, ou a melancolia intensa, quase febre a sacudir e nos fazer voltar e redescobrir e ficar… Ainda nesta mesma crônica:
“Pois para pensar fundo – que é o grau máximo do hobby – é preciso estar sozinho. Por que entregar -se a pensar é uma grande emoção, e só se tem coragem de pensar na frente de outrem quando a confiança é grande a ponto de não haver constrangimento em usar, se necessário, a palavra outrem. Além do mais exige – se muito de quem nos assiste pensar: que tenha um coração grande, amor, carinho, e a experiência de também se ter dado a pensar. Exige -se tanto de quem ouve as palavras e os silêncios – como se exigiria para sentir. Para sentir exige – se mais.”
…e eu volto para conversas perdidas. Recados atrasados, e história / estória de te esperar. Tu e eu conversamos, e pensamos juntos. Era / foi tão bom! Conseguimos. Voltaste no tempo de lembrar. Da ida para o Rio de Janeiro. Do meu casamento. Da tua visita, dos teus desencontros festivos. Eu te senti por completo. Ressuscitei da tristeza, e fui menina outra vez. Acordei do susto da morte. Voltei para te esperar. Agora, devagar e mansa, retomo o silêncio necessário. E volto aos livros, os mesmos. Quero te contar a novidade: estou a ver filmes, muitos filmes. Quieta. Não é bom? Sou de natureza agitada. Beth Mattos em janeiro de 2020 – agradável e imprevisível a temperatura deste verão.
Tuas confissões tão humanas. Menna. Como me encontro em ler-te e perceber-me cheio de vazios. Todos agradáveis. Pois são pausas dramáticas de minhas rotinas. Obrigado. Instiga-me e depois pulas o muro sem não antes dar uma paradinha sobre para olhar-me sapeca e fugir descalça pela charneca de teus textos lindos.
Tu és maravilhoso!