2.
O mar enfrenta, desafia. Ele se impõe. Mar lavrado, azul, verde, turbulento, calmo, transparente, com renda sem renda. Perigoso ou amigo. A voz do mar enlouquece, acalanta, conversa. Sem se interromper vai dizendo, sublinhando, e o sol responde. Quando escrevo ou te conto/digo deste verão escorrega inquietude, ou solidão, ou exagero, ou fantasia. Não sei. Escorrega.. Por mais que tenha procurado, não encontrei o tal caminho… Areia queima, apaga e… Ontem os cães latiram durante a noite. Eles escutam o que não ouço. Eu já disse. Enlouqueço, depois esqueço de ser louca e volto a cozinhar, lavar, passar e dobrar. Tirar o pó. Aspirar. Estas coisas todas evidentes e corriqueiras. Normais. Escolhi o feijão. Coloquei de molho. Molhei as plantas. Troquei os lençóis. E perfumei a casa. Como te escrevo todos os dias, às vezes, nem sempre, o assunto esclarece, mas morre porque esqueci. Esta coisa de morrer assusta, não consigo aceitar o natural, o simples, esbarro na prepotência. Quero a realeza e a liberdade. Esta coisa de ter que escolher me aborrece. Sou rainha, sou mulher, e sou gente entre gente, comum, sem palácio, nem obrigações, sou eu ora! Ora, ora nunca sei me explicar. Tenho casa é verdade. Boas roupas, também é verdade. Empregados. Carro/ automóvel, prata, cristal, boneca, fantasia, ideia. E tenho amante, marido, filho, irmão, tios, mãe e pai. Madrasta e padrasto. E muitas, muitas, muitas respostas! Hoje estou louca. Amanhã eu volta tranquila. É o calor de verão. Não se mexe, brinca de estátua, dá risada. Beth Mattos em janeiro de 2020