A mesa de jantar era para que dez pessoas se sentassem a volta, confortavelmente. O luxo, um acerto de conforto. Assinatura do poder. O alcance que eu tive/tenho sendo visceral se diluiu no que de fato transcende poder e coisas e matéria. Escolhi amores amados! Crianças se aconchegam no cheiro e sobrevivem indiferentes, ou transparentes ou renegadas.
Superei. Atravessei o fosso, venci o medo. Agarrei o galho daquela árvore. E nem o vento, nenhum raio nem as chuvas mudaram minha posição. Devo ter recebido tudo o que precisei para sobreviver e crescer.
Estou a me debater na crueldade, neste desprendimento dilacerado e maléfico. Mergulhei no sentimento desconfortável/estranho de não me importar. A energia se derrama na limpeza, no esforço para manter o cheiro perfeito da casa. Janelas abertas, móveis escovados, roupas lavadas e louça a brilhar. Não tem verão nem inverno. A temperatura adequada para ser agasalhada por um cobertor e lençóis perfumados. Preencho o prazer com o cansaço prazeroso de fazer. Não penso ternamente em ninguém. Não amo mais. Preparada estou para a batalha final, indiferente, anestesiada pela vida. Cansei de mendigar. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2020 – Torres
não é preciso mendigar… a vida é mais do que isso…
igual o sentimento, sendo mais do que isso (e tens razão) no balanço final fica a sensação de mendigar associada ao esforço
de encontrar o lugar certo naquele núcleo
Eu te entendo…
“mergulhei no sentimento estranho de nao me importar”…ahamm..tantas verdades em um dia inteiro de uma vida inteira…
Marta! E o sentimento enorme deste sentir impressiona! o estágio se prolonga macabro…Acho que talvez seja “uma vida inteira” que se derrama neste abismo