“Os apuros de Giacometti com um rosto japonês. O professor japonês Yanaihara, de quem fazia o retrato, teve de atrasar dois meses a partida porque Giacometti nunca estava satisfeito com o quadro e o recomeçava todos os dias. O professor voltou ao Japão sem seu retrato. Esse rosto sem asperezas, mas grave e doce, devia desafiar o seu gênio. Os quadros que subsistiram são admiráveis de intensidade: algumas linhas cinzentas, quase brancas, sobre fundo cinza quase preto. E o mesmo acúmulo de vida de que falei. […] Poo desenha com precisão – sem dispor com arte – o forno e a chaminé que estão atrás de mim. Sabe que deve ser exato, fiel à realidade dos objetos.
Ele: É preciso fazer exatamente o que está diante de nós. Digo sim. Em seguida, após um momento de silêncio:
Ele: E, além disso, é preciso também fazer um quadro. (p.64-65) O ateliê de Giacometti – Jean Genet
Volto ao retrato aquarela de Carmélio Cruz: meus dezoito anos. Cabelos despenteados se desenham no detalhe do pincel. Penso nos retratos de Goya, e no fantástico, na violência da guerra. Alberto Giacometti não encontra, no rosto do professor, alma-artista.
“Essa capacidade de isolar um objeto e de fazer afluir nele suas significações próprias, únicas, só é possível pela abolição histórica daquele olhar. É preciso que ele faça um esforço excepcional para se livrar da história, sem se tornar uma espécie de eterno presente, mas antes, uma corrida vertiginosa e ininterrupta do passado para o futuro, uma oscilação de um extremo ao outro, sem repouso.” (p.48)
Alguns livros pequenos e intensos voltam. Assim arte e desejo se abraçam… E o esforço o método a vontade acontecem / se realizam num único e certo e possível esforço. A lágrima de um soluço. Perfeita. Elizabeth M.B. Mattos – fevereiro de 2020 – Torres