“[…] A teu ver, o que esse absurdo pode significar? – […]
– Eu mesmo não o sei plenamente; sei apenas que o meu sentimento era sincero. Ali eu experimentava momentos de vida plena e esperanças extraordinárias.
– Que esperanças?
– É difícil explicar, só que não eram aquelas em que você talvez esteja pensando, eram esperanças…bem, numa palavra, esperanças de futuro e de alegria com o fato de que talvez lá eu não fosse um estranho, um estrangeiro. De repente gostei muito de estar em minha pátria. Em uma manhã de sol peguei subitamente da pena e escrevi uma carta para ela; por que para ela eu não sei. Às vezes a gente sente vontade de ter uma amiga ao lado; e, pelo visto, me deu vontade de ter uma amiga… – acrescentou o príncipe depois de uma pausa.
– Estarás apaixonado?” (p.356)
Por que transcrevo uma conversa tão simples/prosaica e cheia de reticência? Porque me apaixono pela prosa e narrativa de Dostoiévski tão tarde! Este prazer me chega tão tarde! O Idiota deve/teria/precisa de leitura lenta.Eu devoro o texto. Quero interromper, mas não consigo. Os olhos me fazem interromper a leitura/fechar o livro. Eu também escrevo cartas, cartas emergenciais, escorregadias, pontuais e, às vezes, apaixonadas porque, porque… Não sei. Queria tanto compartilhar, mas não estás aqui, e nunca respondes, sequer sei se lês o que escrevo. Resguardas os teus sentimentos. Tu tens com quem compartilhar, eu, eu…., não tenho. Então te escrevo, e espero. Beth Mattos – junho de 2020 – Torres

Os três pontos, dispostos paralelamente à linha e ao lado de alguma palavra, usado para marcar uma pausa no enunciado, pode indicar omissão de alguma coisa que não se quer revelar, emoção demasiada, insinuação etc.