Fico a pensar em ti como se estivesses a minha frente, sem falar. Então, eu me transporto. E tu estás sem palavra a me olhar. Quieto. O tempo nos devorou, nada a dizer ou fazer. Encabulados, não dizemos nada… Desaparece a lógica. Nós olhamos quietos. Esperamos. Alguém toca a campainha, fico constrangida e me apresso. A vizinha explica qualquer coisa que não lembro. Ela se desculpa. Sinto o rosto quente, vermelho. Não convido para entrar. Estás olhando pela janela. Se pudéssemos acender um cigarro e fumar! Nos ocupar com a fumaça. Ofereço um vinho, quem sabe uma caipirinha, ou um whisky? Abres um sorriso iluminado e me dizes: tão cedo! Olho para o relógio. Ainda não são oito horas. O azul se faz dia, devagar. Eu me sento ao teu lado. Levanto. Vou passar um café, e cortar uma maçã, (adoro maçãs), queres uma fatia de pão? Sacodes a cabeça sem falar. Desespero na timidez. Não sei o que fazer.


O tempo enrosca / apavora o amor amado: escabela o sentimento. Arranca a tal da lógica. Que situação! Não deveria ter dito aquilo / pensado assim / feito deste jeito. Não deveria ter escrito, não deveria ter atendido ao telefone… Desespero outra vez. Sento ao teu lado. Encosto o ombro, tu te surpreendes. Não resisto. Eu te beijo. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2020 – Torres