No mármore quebrado da mesa de ferro eu me inclino para escrever. Sala limpa, silenciosa. O silêncio não me alcança, sentido inverso, ele salta de dentro do meu corpo para se espalhar na sala. Ordem, luz adequada: limpeza. As outras peças da casa tomadas pela desordem. Disponho-me organizar/arrumar a cabeça: equaciono possibilidades. Não, nada farei sem autorização.
Pequenas regras/ordens/lógicas de convivência abafam a voz. Outra vez amarrada na autoridade, submetida a ordem, presa na armadilha. Qualquer valsa, ou som de clarinete, tambor do coração parece excessivo, exposto. A madrugada abraça, os vasos da sacada respiram por mim, mas não é suficiente. Quero mais…
Cabelo comprido a se espalhar pelos ombros de menina. Esfogueada. Leitura adolescente, velhos romances: para sempre felizes, sem rebeldia. Dentro, nas entranhas, na criança, naquele olhar perdido: velhas injustiças se remexem: o namorado olhou para o lado, o vestido rasgou na cerca, ninguém descobriu o esconderijo, não entendeu nada quando a professora explicou. Olhar que não olhou. Silêncio. Beijo, dúvidas se esqueceram/afundam na gravidez. E o cimento cobre madeiras e pedras. A terra se mistura com adubo, floresce. E a casa surge… Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2020 (de outro tempo preso em Porto Alegre -2008)
Pensar pode ser uma batalha de perder pedaços devagar. Pura preguiça… Qualquer lado pode ser excessivo. O incorreto está dentro do correto. Sem margem. Então oscilo estico os braços e as pernas, bocejo. Engraçado! Sabes o que amor amor significa? O conforto de se esvaziar de si mesmo. A entrega não é física, mas com certeza de dentro… Com certeza, melancolicamente, no amor, somos o outro. Certeza de ser avesso sendo direto, esquerdo ou mais ou menos. Ah! aquela abençoada preguiça e entrega de ser assim o outro esparramado/envolvida/preenchido pelo nosso amor. No outro sou eu completa.