” O esquecimento é o espetáculo de uma só noite; assistimos a representação uma única vez, não haverá outra exibição”

Vladimir Nabokov – ADA ou ardor – página 241.

Sim, eu vou retomar: re / tomar/ o mar / voltar com pulmões cheios de ar e revisitar / ampliar o olhar no visita vista. O livros tem/possui/tem a qualidade, os adjetivos / ativos de/para a melhor revisão.

Nenhum aparelho de oxigênio o ajudará a evitar ‘ a agonia das agonias’, […] Os tormentos físicos que vai sentir [….] O pensamento do homem, monista por natureza, não é capaz de aceitar dois nadas: ele sabe que houve um nada, sua existência biológica no passado infinito, pois o branco total de sua memória assim o diz, embora este vazio residindo como é o caso no passado, não seja muito difícil de suportar. Mas um segundo nada – que talvez não seja tão difícil de suportar – é logicamente inaceitável. Quando se fala de espaço, pode – se imaginar uma partícula viva sem limites do espaço; mas não há analogia entre esse conceito e nossa breve vida no tempo uma vez que, por mais breve que seja (e um período de trinta anos é de fato obscenamente curto!), nossa consciência de existir não é um ponto na eternidade, mas uma fenda, uma fissura, um precipício que corta toda a extensão do tempo metafísico, dividindo – o em dois e brilhando – não importa quão estreita a abertura – entre os painéis do antes e do depois.. […] podemos falar do tempo passado e, de forma mais vaga porém familiar, do tempo futuro, mas simplesmente não podemos esperar um segundo nada, um segundo vazio, um segundo branco. O esquecimento é o espetáculo de uma noite só; assistimos à representação uma única vez, não haverá outra exibição. Por isso devemos encarar a possibilidade de alguma forma duradoura de consciência desorganizada […] mas uma coisa é certa: a única consciência que persiste no além é a consciência da dor.” (p.241)

Tudo importa neste livro. Assim, a leitura tem medo de terminar. De parágrafo em parágrafo. Que passe um dia! ” O esquecimento é o espetáculo de uma noite só”. Amanhã será mais do que um minuto.

O medo de terminar faz com que eu me apresse a fazer/cozinhar/terminar o feijão. Lavo a roupa, estendo as camas, ventilo os travesseiros no sol da manhã. Faço o café num ritual apenas meu, como marca deste cotidiano igual, desta monotonia preciosa de estar, ainda, viva e presente ao meu espetáculo particular. De forma louca acalmo a grande ansiedade. Coloco os pés no chão, na terra planto o coração. Fico horas e horas e horas apreendendo / visualizando o mapa dos Estados Unidos, seguindo as rotas e as cores. As eleições americanas como febre da minha ignorância absoluta. Ainda existe compromisso, luta, garra, força, vontade, disposição aguerrida Afinal, quem eu sou? Escrevo apressada, leito feito caranguejo, deixo rastro da gosma. Um gosto de perda, uma loucura de pensar e pensar e dobrar, guardar. Sem nenhuma finalidade. Este foco desfocado parece o nada, do nada. Medo de terminar o que não foi começado, sair correndo, fugir de um nada tão absoluto! Somos uma fenda…um corte mínimo. Esquisita sensação! Beth Mattos – novembro de 2020 – Torres

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