“Suponho ser inevitável que, após semelhante perda, a gente queira guardar cada corda que se rompeu, cada franja que se esfiapou nas últimas horas.” (p.372)
“[…]nenhum volume de ternura carnal podia ou pode fazer passar pelo verdadeiro amor, […]” p.373
“Em outros mundos mais profundamente morais que esta bolinha de lama, devem existir impedimentos, princípios, consolações transcendentais e até um certo orgulho em fazer feliz alguém a quem não se ama de verdade, mas, neste planeta, as Lucettes estão irremediavelmente condenadas.” (p.373)
“Não sei dizer, caro Van, o quanto estou infeliz, tanto mais que nos bosques de Ardis nunca aprendemos que podia existir tamanha infelicidade.” (p.374)

São marcas do livro Ada ou Ardor dos últimos capítulos. Sofro, eu também, ao me despedir da leitura, de Vladimir Nabokov, o autor. Da paixão amor, dos desencontros amorosos que se misturam na vida de verdade. Enlaçados fazem um nó dolorido com perdas e dores. Perdas, perdas, perdas e desencontros. Penso, uma vez vividos, os momentos de especial paixão, amor, deveriam abastecer até o fim, preencher vida inteira. Abastecer. Mas não acontece assim, aos poucos me esvazio. Tão lentamente! Não percebo. De repente transparente, ou oca. E também devagar reconstruo um lugar, uma possibilidade remota de encontrar o começo, o recomeço. Suponho que vai chegar colorido, se fazendo ora música, ora desenho, depois um conto, ou até uma risada. Abro os olhos e lá está, outra vez, o amor.
De alguma forma, trazemos de volta alegria e tempo e força de tudo o que foi como um acerto de luz e sombras. O agora não será como foi antes, nem como se deseja, o agora será a possibilidade de amar outra vez. Será amor, o amor somado aos outros amores. Equacionado e dividido, mas inteiro porque somos únicos neste hoje. Matemática de amor… Então, um novo amor, mais ou menos confusa, ou muito atrapalhada, inexplicável, apenas a sentir… Ok. Um novo brinquedo sério, pode ser assim? Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2020 – Torres
