Deslocada sim. Desanimada sim. Desencontro. Tumulto. Destas maternidades juvenis, competitivas, afinal massacrantes. Encantamento e aflição com fraqueza ou insegurança segura. Aborrecida com o envelhecimento: descuido com o corpo. A última e catastrófica investida no amor…, mas atrapalhada com a vida/sentimento. Preocupação com o sono sim. Sono fuga, mas reparador. Combustível. Ansiedade assusta no limite regulador da energia. Perco o pique de fazer/agir/ fazer acontecer. Amoleço. Na angústia do momento, mudo ritmo. Paciente complicada. Emperrada. Mau exemplo, mas esta sou eu, assim, inquieta. Aquela questão da idade, num tempo apressado. Quase uma valsa / ou tango: ridículo. Talvez procure apenas ser abençoada. E as noites insones, o enjoo da indução agarrada num método de desacelerar. Enfim! Acho que sigo no meio do caminho. Não sei exatamente o que devo ajustar. Corro atrás do tempo, meio apertada pelas dores espaçadas do tempo / dos horrores / destes assassinatos brancos. Gostaria de fugir de questões intransponíveis. Não se resolvem, porque, na / em verdade, estão todas resolvidas, não me pertencem. Quero pular obstáculos, ter vida própria, ser eu comigo, mas estou, visivelmente, enredada neste emaranhado. E, paradoxalmente, não estou. Eu me nego a ser como os outros e me ajustar. Conversar, às vezes, me parece penoso, inútil e cansativo.

novembro de 2020 / uma espécie de enfado, constrangimento, com o aborrecido compromisso com a vida / da vida. Esta evidente necessidade de vencer um dia após o outro numa pequena guerra interior q não é exatamente vida, mas um constante despertar. Suicídio diário diante da obrigação de respirar estar e ser alguma coisa para alguém. Talvez se fosse vigoroso na raiz, alguma coisa brotando…, ou se fosse de fato possível viver em / na bolha. Ser bolha narcisa e colorida. Não. Sabes o que acho? Vive – se na ilusão de ser egocêntrico e único e importante, apenas para nós mesmos, mas é tudo ilusório, somos arrastados. Estamos sempre a explicar e a puxar. E nos desculpando por isso por aquilo…. ok. Posso ser eu para mim, mas não consigo alcançar o importante, ainda espio a fresta do vizinho, e peço socorro quando me assusto com sombras. Apenas sombras e poeira, eu me assusto. É o tal do beijo e do abraço necessário, prioritário e confuso. A vida se fecha nesta confusão misturada de ser meio ao ter, meio a violenta e agressiva solidão imposta e incompreendida. Ou seja, confusão. O tempo fica a nos cobrar solidariedade, comunhão, generosidade, e já o carinho e amor. Resiliência. Não entendemos nada disso, e, no final, nos explicam que somos sozinhos, únicos e metade: confuso isso. Há que seguir, eu sei. Mesmo que não exista rumo ou rota. Cura e saúde. Depois da Terapia. O tratamento para dormir corretamente certo. Afinal, o grito. Depois o socorro. Perfeito artifício e não tenho mais o gancho. Pontuou. Agora o convencimento. Talvez esteja cansada. Terrivelmente cansada desta batalha constante. Desta luta diária. Ansiedade como maior mal, sim. Uma ansiedade adquirida. Relações e pressões alteram as pessoas. A cura deveria estar no momento em que fosse possível agarrar/acertar. No momento em que a pressão de tão forte explodisse. Ou virasse doença. Há um momento x ou y em que isso se potencializa. A cura libertação, ou ainda fuga? Sim. Acho que depois de ceder ceder ceder aos eventos / e sofrer consequências mais ou menos desastrosas estou a pedir socorro. Virar as costas faz/ou fez parte das diferentes curas. É voltar ao equilíbrio, ao prumo/eixo. Rebelar – me contra certezas. Aceitar meus limites, ou melhor, escolher em vez de se deixar levar. Tantos e tantos e tantos anos agradando, cedendo…, uma construção de poucos, mínimos anos… e ah! Como estou cansada de ceder ceder ceder. Sim. Eu quero me libertar. Deixar de obedecer. Enfim! Não sei exatamente se a definição…, ou a minha doença transbordasse além da ansiedade seria diferente, ou tarde demais.
Pensando: talvez estejas certo, sim, passar a roupa, limpar a casa, enfim, os banhos, está coisa terrível só/apenas cheiro. A importância da limpeza, tudo casado com a obsessão. Uma fuga prática. Vida no internato perfeita. Brutal influência materna. Limpeza e organização. Sou igual. Com menos sucesso. De fato, em tempos mais folgados a casa seria mesmo impecável. Agora não consigo fazer, estou a envelhecer. No trabalho consegui preencher minhas exigências, digamos, com sucesso. Qdo fraquejei, eu me aposentei. Interessante que a leitura tenha sido precisa. Sim. Acho que acertaste. E minha ansiedade está apoiada, sentada, sedimentada na vontade de acertar como mãe, mas não consigo me libertar… Do que exatamente seria necessário, não sei, estou cega. Não há libertação, mas omissão. Maternidade sempre sempre presente. Sim. Poderia ser festiva e normal, mas me foi imposta pela vida. Não consegui me rebelar, nem fazer diferente. Ansiedade transborda qdo recomeço do zero. Este eterno recomeçar infernal. Altivez pesada. Este remar para ser o que não sou. Alguém que se inclina, e se dedica / deseja / ama. As sombras me definem. Penso. Não me considero, não levanto a cabeça. Não ouso. Esta audácia me paralisa. (Paradoxal, eu sei.) Há sempre uma cruz a ser removida . É depois vem Torres. Uma não escolha, ou a escolha do mais fácil. Contexto negativo? Eu me sinto vencedora. Ainda vou chegar lá, terei meus textos em livro. A história vai se escrever com enredo e personagem e não serei culpa. Elizabeth M.B. Mattos – novembro de 2020 – Torres


Beth Mattos: com certeza o melhor dos teus textos que li. Impossível não se identificar com o sentimento de agústia e perplexidade diante da vida e da inexorável passagem dos anos, do tempo, que a todos nos aflige. E isso que tua perspectiva é essencialmente feminina, mas visceralmente humana. Ademais, conseguiste uma adequação de forma e conteúdo, com um stacatto que reproduz a respiração entrecortada da Angst. E isso no dia do meu aniversário de 76 anos, quando me sinto nervoso como nunca. Impossível não identificar-se com que escreves com a maestria de um estilo próprio, original, denso, profundo. Beth Mattos em seu melhor. Viva o 26 de novembro de 2020.
Baccioni
Fernando
O que escreves sempre me atinge/perfura/envolve. Tens o dom de avançar, entras no texto com atenção e cuidado. Quero te felicitar ainda uma vez, homenagear mais e mais, soprar as velas contigo.. Sou grata e te gosto muito, muito. Não te esquece, estou contigo, embora, tens razão, atravesse um rio profundo, cheia de medo, nadando como posso… um beijo, um carinho.