
Brasil truculento, ameaçador, perdeu aquela suavidade de existir na beleza, pela beleza, pensei. Escrevi para me descrever / ou escrever… Distância entre teu país e o meu, teu idioma e o meu. Festejar/pensar nestes quarenta anos amigos. Quero explicar: não existe sigilo, guardados ou segredos. Derramo amoras pelo chão. Devoro as colhidas destes galhos mais baixos. E me delicio com as pitangas: o silvestre dos tempos urbanos de hoje. Nada está organizado, pronto, elaborado, revisado… Apenas as intenções de um momento a descoberto: deve, tenho certeza, deve mesmo existir outro mundo onde será tudo invertido. Ou melhor, ou pior, ou apenas diferente: o mundo de outras inverdades. Nós, as crianças de ontem, somos todos tão os mesmos! Nós nos atrapalhamos com sombras. Somos nós caminhando… Eu amo, eu sinto uma raiva danada, eu tenho ciúmes, eu ignoro. Eu me apaixono pelas cores, pelos pincéis e por todas as possibilidades de aquarelar, desenhar, fazer outra vez, recomeçar, e me envolver. Do francês ao inglês, ao espanhol para brincar. Depois / de repente/ então/ no sono / ou ao acordar, esqueço o que preciso fazer. Volto ao fogão, aos temperos. Passo roupas, lavo o céu para que seja oura vez dia, hora de acordar. Ou tenho vontade assim, sem rumo, vontade de escrever, escrever, escrever ou / dizer/ contar/ inventar, ou subir como o João do Pé de Feijão, subir pelo galho até chegar ao gigante, e enquanto ele dorme, roubar a chave. Abrir a porta, e salvar a minha alma. Ah! Verdade que também quero aconchego, paz sem luta, certeza do para sempre, o impossível do E foram felizes para sempre, ah! Gostosa verdade impossível! É tudo mentira, mas, a gente faz de conta que acredita, e posso, então, devorar o bolo de chocolate entre duas xícaras de chá e comer todas as nozes do pote. Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2021 – Céus! Falta tão pouco para ser 2022, ontem era apenas 1964 – como venta cinza neste verão!
