Vianna Moog

Memória picotada: o recorte, página inteira: o escritor gaúcho Vianna Moog em Porto Alegre, a estrela – o primeiro diretor da Folha da Tarde – e foi homenageado – estes velhos e importantes recortes que se movimentam na sala e se debruçam… a vida volta entusiasmada a querer ser dita/contada. E não escrevo, fotografo os picotes. Depois o tempo apaga, os livros não foram reeditados, merecem. O exílio foi no Amazonas / e sempre soubemos protestar e dizer! Somos brasileiros / sobrevivemos… levaram nosso ouro, mas ainda somos ricos e poderosos. Temos V O Z. Elizabeth M.B. Vianna Moog – uns anos, depois voltei a ser Menna Barreto Mattos – agosto de 2022 – Torres, e, inventei o AMORAS.

O Homem Medíocre

“Ser digno significa não pedir o que se merece, nem aceitar o imerecido. O pão ensopado na adulação, que engorda o servil, envenena o digno. Este prefere perder um direito a obter um favor.”

” O homem é. A sombra parece. O orgulho é uma arrogância originada por nobres motivos, e quer aquilatar o mérito; a soberba é uma desmedida presunção e procura ampliar a sombra.”(p.112-113)

“Os caracteres dignos permanecem solitários, sem trazer na anca nenhuma marca de ferro. […]”

” […] o digno se refugia em si mesmo, se entrincheira em seus ideais, e cala, temendo perturbar, com as suas palavras, as sombras que escutam. E até que mude o clima, como é fatal na alternativa das estações, espera, ancorado no seu orgulho, como se este fosse o porto natural e mais seguro para a sua dignidade.”

Vive com a obsessão de não depender de pessoa alguma; sabe que, sem independência material, a honra está exposta a mil ciladas, e, para adquirire-las, suporta os mais rudes trabalhos, cujo fruto será a sua liberdade no porvir.

Todo parasita é um lacaio, todo o mendigo é um domesticado. O faminto pode ser um rebelde, não é nunca um homem livre. A miséria é a inimiga poderosa da dignidade: ela esmigalha os caracteres vacilante e incuba os piores servilismos […]”

“Os estoicos ensinam os segredos da dignidade: CONTENTAM-SE COM O QUE TEM , RESTRINGINDO AS PRÓPRIAS NECESSIDADES. Um homem livre não espera nada de outro, nem precisa pedir. A felicidade que o dinheiro dá está em não ser obrigado a pensar nele; por pensar nele o avaro não é livre, nem feliz. […] Os únicos bens intangíveis são aqueles que se acumulam no cérebro e no coração, quando estes faltam. nenhum tesouro os substitui. (p.116 – p.117) José Ingenieros O Homem Medíocre

ironia

Nada nos salva da vida, não tem saída, temos que viver. O pacote alegria, surpresa, prazer vem cheio de espinhos e ardências, mas o remédio e a resposta, meu querido, é viver a vida, por inteiro, sempre. No susto, no pânico e na tranquilidade de estar apenas a respirar. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2022 – Torres, e, é intrasferível, agarra minha mão e vamos…

tolerância

entender o outro, deixar a generosidade transbordar sem exaltação, se aproximar, e estar pronto para receber

a grande / enorme cratera traz espanto, a visita que não se explicou deixou apenas a marca, o cigarro aceso no cinzeiro, a fumaça a modificar o ar

tua voz atravessou meu espírito e eu desanimo porque desanimas, desaprendo junto contigo, e todas as letras do alfabeto se misturam… são cores o que vejo? não tenho certeza

a vitória, a conquista do outro alimenta minha expectativa, talvez eu consiga chegar na tua ilha

queria ser doce, mansa e gentil, estou atropelando a lógica, o carinho

preciso entrar na jaula, e não ter acesso a chave

alguém precisa me salvar, alguém precisa querer e eu preciso compreender o socorro. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2022

inacreditável

Reencontrar, saber. Querer voltar, entrar na brincadeira (no jogo) e não tocar…, eu corro, olhos fechados, reconheço pelo tato. Sinto teu cheiro. Toco no teu braço, escapas. Eu te sigo, outra vez. Droga! Não te esqueço. Ok! Já sei como deve ser. Eu conto até dez para brincar outra vez, procuro, te escondes! Vou esquecer! Outro jogo! As regras! Inacreditável como demoro / como sou lenta para aprender. Eu vou entender, não te preocupes! Vou ficar bonita outra vez. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2022 – Torres entre cinzento, menos frio e saudade apertada de ti. Vou voltar a cozinhar, estes preparos nos enriquecem. Comprei panelas novas. Vou te mostrar.

herói

Um sorriso na voz. Não preciso de nenhum sonho entre nós e a vida. Teu sorriso, tuas certezas…

Eu me deixo ir, eu me deixo ficar, ora acredito, ora sinto medo…, mas acredito, um pouco em mim, sou eu, outro pouco em ti, és tu. Agarra minha mão. Nunca foi fácil. O sorriso na voz. Concluo: a realidade só pode ser descrita mediante uma transgressão do social, mas não deve me trair, eu sou o meu foco. Cada um tem a luz própria…

Sem explicar por completo, tentando: a palavra se arrasta, não alcança o completo, porque sou incompleta, sem definição, tu também não tens definições. Eu quero que ele seja herói (herói das suas próprias conquistas), afinal os vinte anos são mesmo um amontoado de equívocos. Deste/neste emaranhado as flores crescem, e se transformam em frutos. Nunca ficarei sem alimento. Ele será sempre o meu herói preferido. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2022 – Torres

“A única maneira de extrair o medo ou preconceito seria a partir de dentro, de baixo, e como naturalmente esse tipo de mente preconceituosa ou atemorizada se esquivaria à menor sugestão de tratamento psicanalítico, ou mesmo de estudar e pesquisar dentro dessa linha, você não pode chegar a raiz do problema. Cada palavra, pronunciada em minha defesa digo, para indivíduos já preconcebidos, serve para aprofundar ainda mais a raiz.” (p.112) Hilda Doolittle Por amor a Freud

os ódios, ou as raivas mal compreendidas saem a passear pelas calçadas…contaminam, temos que estar alertas / vivos /, não importa se choramos, importa continuar…

lento

Conseguimos decidir: escolhemos a casa com jardim pequeno na frente, um canteiro, a bem da verdade, um portão grande, curiosamente, pintado de rosa. As janelas vermelhas forte/ vermelho sangue e a porta vinho. Suponho que as flores, hortênsias margaridas, duas roseiras, nos darão trabalho. Tudo parece em bom estado. E tem uma chaminé, uma lareira com um canto para assar pão. Duas quadras do apartamento, cheiro de mar. Uma grama mal tratada, mais terra do que gramado.

Como o João me advertiu, senti um pouco de medo, parecia desprotegida a casa. E a inquietude me agitou num ir e vi frenético como se testar portas e janelas pudesse me contar da paz a das boas histórias. Uma aventura meio deslocada, numa vida desfocada, de aventura. Dois anos! Seriam dois anos a dormir escutando o mar. Elizabeth M.B. Mattos – agosto de 2022 – Torres