as cadeiras se movem no apartamento de cima, alguém abre ou fecha janelas (chove, talvez ora fique abafado, ora quente na sala), a madrugada se define como dia 28 de dezembro, o ano, o mês termina com esta fresca sensação, não sei de qual estação: sinto frio e senti calor! os olhos doem das/nas leituras pequenas, doem da preguiça de olhar. e, o que não está no lugar, não consigo arrumar. as vozes estão quietas, todos tentam dormir ou dormem, ou quem sabe dançam, escutam música…
a madrugada parece cheia de possibilidades coloridas, já trancada a noite segue, o corpo inteiro se desarruma fora do horário. e a respiração parece trancada, abafada. sensação, não exatamente vontade. os jogos de viver sem regras, atropelam o vazio da desordem feita em promessas prometidas. elas nos acalmam, ou agitam? desejos sem abraço, sim, todos nós queremos um abraço, não importa a hora, e sentimos o desejo de querer e uma danada ausencia gritando…
eu preciso, tu precisas, e o brinquedo não marca o tempo, então, a gente sente saudade, saudade do tudo, do nada, saudade indefinida, com tanta luz, depois o escuro. a vida fica triste, num repente, dói um aperto. vou voltar a tentar… a chuva faz uma voz na calçada, mas não é ninguém, sou eu conversando baixinho contigo… a mágica é mesmo ser a criança que fomos, e começar a embalar a doçura e a gentileza. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2022 – Torres




“Apenas os jovens têm tais momentos. Não me refiro aos muito jovens. Não. Os muito jovens não têm, a bem dizer, momemento algum. É um privilégio do começo da juventude viver adiante de seus dias, em toda a bela continuidade de esperança que não conhece pausas ou interrupções.
Fecha aqui resplandecem cheias de si o pequeno portão da mera meninice – e adentra-se um jardim encantado. Até as sombras aqui resplandecem cheias de promessas. Cada curva de vereda tem suas seduções. E não porque se trate de um país desconhecido. Sabe-se muito bem que a humanidade toda já trilhou aquela senda. É o enanto da experiência universal, da qual se espera extrair uma sensação incomum ou pessoal – ou algo que seja só nosso.” (p.15) Joseph CONRAD A Linha de Sombra