Minha amiga:
Carência é a falta que sentimos de nós mesmos. Carência nós temos de todas as necessidades internas de nossos talentos enterrados… enterrados tão distantes, num jardim desconhecido, talentos que não florescem, não brotam, não saem da terra. Carência somos nós esquecidos de nós mesmos, mediocres, pedintes de um olhar, ou de um toque que nos diga: volta, volta, eu te preciso, tu existes no meu mundo, ou meu mundo não existe se tu não estás nele… Volta. Acorda! Não és a sombra de um sonho és tu comigo. Ou apenas tu sendo pessoa, inteira.
Como posso te consolar? Nos percalços deste nada que nos afunda, (as duas) na inércia – ficamos sendo mendigos da luz de sermos nós mesmos. O que me consola? Se tu estás do outro lado, livre, quieta, feliz ou infeliz, diz/conta amiga, diz da tua alma, derrama teu cheiro, teu toque naquilo que importa, não naquele que te ameaça…. Vira as costas. Pensa que o outro, amiga, é sombra nas sombras do desejo criado/inventado. Pedaço do teu barro , da tua fantasia interior: um nada se não está em ti / contigo. Será vazio se em ti não há o completo. Se o riscares da tua vida, ele desaparecerá. Agora círculo de fantoches, tu fazes viver ou morrer.
Enche a alma do teu poder. Eu ando solta, projetos soltos, projetos de fazer isso e aquilo. Procuro um tempo vazio. Um espelho de alguém-eu para esquecer-me do interior de ser eu, ou ser tu.
Quanta saudade! Coisas esquisitas me acontecem. Inclusive um novo namorado… Mas bem velho, presta atenção! Destes encontros que chegam para te dizer que as coisas não podem ser sempre horríveis. Noutra carta eu te conto da galeria, e de como as coisas se desenham… Estou a pensar como será a vida mais adiante…Volto a te escrever amiga. Elizabeth M.B. Mattos – janeiro de 2023 – Porto Alegre – todos os médicos agendados.