Je m’ en vais

“Ce n’ ait qu’ un lieu de passage, un sas, une fragile façade au milieu d’une plaine, un belvédère… […] grains de sable de tous les déserts, paillettes d’ or et de mica de tous les fleuves, poussière vulcaniques ou radioactives, pollens et vírus, cendre de cigare et poudre de riz.” (p.10)

Je m’ en vais: Les Éditions de Minuit, mars 1974

Eu vou embora, diz Ferrer, eu te abandono ( este sentido, não seria numa boa tradução, mas o sentido. Eu ‘ te largo/ eu vou / e te deixo tudo, mas eu vou partir. “Je m’ en vais, dit Ferrer, je te quitte. Je te laisse tout mais je pars.” Jean Echenoz

Estou sempre abandonando, deixando alguém, alguma coisa para trás…,  e o recomeço tem gosto/sabor de perda/abandono. Ao mesmo tempo, gosto de liberdade, de voltar A estranheza destas pequenas histórias é/são os possíveis amigos, os desconhecidos prazeres, e os desejos frustrados. Estou, sempre, a pensar esperança azul rosa, e no amarelo, porque ilumina. E o verde acompanha  a natureza. Pincela o mundo. Elizabeth M.B. Mattos – O livro foi presente do Branco e da Lizete – março de 2013, em Torres.

Evidente desafio

Esquisito, ficcional, e tantas vezes confuso! Não se firma o passo, resvala-se na ânsia de acertar. E o nada está presente, e ausente. Paradoxalmente entre um e outro. Escrever tem esta coisa confusa… Evidente desafio. Espelho das tantas leituras! Vagar lento, mas interessado no que agrada… Pronto. Na leitura e na escrita. Urgência. Por quê? Onde é o começo? O de sempre… A tecla, o manuscrito. Tinta. Loucura. Personagem. A pessoa desaparece. Sensações se misturam ao prazer… Suponho. Se é que escrever não é mais… A leitura inquieta. Sigo ao encalço de Beckett: “A gente pensa que vai só descansar, para agir depois, ou sem outra intenção, e eis que em muito pouco tempo estamos na impossibilidade de jamais fazer alguma coisa[1].” Citação, ilustração, detalhe do acaso, como se fosse possível tirar fotos deste uivo do vento, deste frio súbito. Um vinte de março que é Outono. Estamos desavisados pro cheiro da chuva, ainda queremos o mar, o sol, o vagar do verão no longo sol da luz. Ou entramos no plástico texto de Proust: “(…) tornando-a como uma dessas grandes ‘bocas de forno’ do campo, ou desses panos de chaminé de castelos, a cujo abrigo nos vem o desejo de que rebente lá fora a chuva, a neve, até mesmo alguma catástrofe diluviana para acrescentar (…)[2].  E venta. E chove. Faz frio. E tudo não passa de coincidência! Um texto completa o outro nas perfeitas e loucas diferenças. Esta trama se justifica na ansiedade de acertar, insegura naquilo que faz. Até o nada carece de ilustração. Movimento interior que galopa! Tão retroativo! E amanhã o inverno sombrio que o Rio Grande do Sul sabe fazer…


[1] Beckett, Samuel. O inominável. Ed Nova Fronteira. 1989.( p.5)

[2] Proust, Marcel. No caminho de Swann. Ed Globo. 2006. (p.77)

Vou pisar nas flores e apagar o sol

Cheguei a casa, não encontrei os meus óculos pequenos, os de leitura! Droga! Fui salva pelo bifocal de armação dourada, sem ouro. A casa limpa, ensolarada. Viagem pro nada: como é fácil desfazer-me dela toda, por dentro, por fora… Tudo. Reguei as plantas, abri as janelas e tratei de escrever o tratado. Palavras bem quietas, obedientes. Discretas. Divago, empilho, faço doações.  Encaixoto, tenho um cofre, e me escondo… Não vou. Não vou contar para ninguém quem foi que amei de amor, quem foi que amei de pai, quem foi companheiro. Quem emprestou dinheiro. Quem fugiu de mim três dias, e quem telefonou com riso, na despedida foi o Donário, Vicente Donário quem me abraçou. Tantas vezes casamos, outras dançamos.  Corremos dentro do bonde. Descemos na praça pra amanhecer tomando café de rei, com brioches, flores e lavanda! Reajo com simplicidade, mas gosto da realeza… O tempo passa, e passa por cima.  Esquisito o suor, o frio, e a prostração. Nem percebo que é ele a me maltratar… Dou risada desta vergonhosa distração! Abraço o Sérgio. É magia. E ele fica a tocar piano pra mim, toca batendo forte nas teclas. Olho pras mãos e pros dedos musicais. Livre para chorar! Bebo água, como uvas, bebo água e choro comendo passas. Preciso abraçar! Tantos apertos, tanta voz sussurrante que nem por minuto percebo o caminhão… Os homens já esvaziaram as duas salas. Rio de Janeira espera outra vez. Deveria ter voltado… Ou quem sabe nunca saído? Nasci carioca. Cresci aqui, mas fiquei gente lá… E agora Minas Gerais? O provinciano do provinciano se acomoda.  Voltar pra casa? Conseguirei voltar para casa? E Santa Cruz do Sul, a cidade dos amigos, dos carros, das apostas, deles todos crescendo, e eu porque diminuindo? A poção errada que Alice bebeu… Vou ficar giganta agora, cabeça no céu… Vou pisar nas flores, apagar o sol, e deitar no mato…Elizabeth M.B. Mattos – março de 2013 – Porto Alegre (desmanchando o apartamento – indo para Torres)

 

Notícias invertidas

Hoje sempre ontem. Se quiser saber o que aconteceu com Alice, com a Suzana, Sandra, e Roberto, ou com a Joana, Maria Augusta, José, Ricardo, Agnaldo Pacheco, Vladimir, Flávio e Eduardo. Ricardo Vilas. Anita.  Francisco. Antônio e Agilberto, nada contundente se revela. É preciso a Comissão da Verdade. Desapareceram sem deixar notícias nos jornais. Ou em mim? O que faz a notícia não diz tudo, ainda. Ernesto Sabato protestou.  Agora saberemos como  foi a morte de Jango . E como o marido de Dilma, presidenta, foi castigado. Albert Camus  morreu num acidente de carro. Walmor se suicidou. João Pedro caiu no mar. Seguimos sem saneamento básico. Ruas esburacadas.  Trânsito caótico. O dinheiro roubado não foi devolvido. Ou foi? Mas tudo será dito sobre a tortura. E tudo será feito pelo miserável, não haverá pobreza extrema.  Tranquilizo. E, meninas dançam, namoram.  Usam bonde tanto quanto  automóveis. O bonde de Santa Tereza enfeita o Rio de Janeiro. Longa tarde de risada e sonho. Vou para Portugal! Juízas. Advogadas, mães, promotoras. Resoluções. Importa é estudar. Ou no ócio, o prazer… Pedregulho. Caminho estreito. Digitalizado. Simples.  A notícia de ontem ainda se faz hoje. Amadora sou eu a reler, e reescrever. Já passou… Tudo estórias.

O espelho esconde trapaça, discute. Labirinto.

De qualquer jeito, cristal ou vidro, destorcido. Que seja bem vindo espelho!  Tua imagem invertida. Elizabeth M.B. Mattos -março de 2013 – Torres

ANA e ONIX

Ana Moog – 2020

joana a minha cara.jpg

Joana Moog – 2020

fto minha atual e bonita

Beth Mattos – 2020

luiza e eduardo

Luiza e Eduardo – 2020


Espelho

Em Sociedade 1966 1967 1968 1945 1946

A noite. A festa. O dia, o brilho. Hora de tempos seguros. A luta. Os reencontros.

“Na hora do jantar, servido de maneira bem informal, confraternizavam Ricardo Marino, Maria Lucia e Rosa Maria Campos. Paulo Bello e Dayse D’Arriaga foram lideres da noite destacada.”Imagem

Outras fotos. O calendário. A certeza. A exposição. A conversa hoje. Os recortes. As pessoas.

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Roberto Menna Barreto Mattos e Anita de Athayde Mattos

Baile do Perfume – Clube do Comércio 1945

Imagem

Anita Menna Barreto Mattos. Érico Veríssimo em primeiro plano. 1946 com champanhe…

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A noiva,  Elizabeth M.B. Mattos, Érico e Mafalda Veríssimo! Porto Alegre 1968

014

Digitalização! A conversa hoje em sociedade…

“Magda Biavaschi e Heráclito Pereira – destaque em ritmo de ié-ié-ié. O exclusivo grupo estava formado por Paulo Bello – sem dúvida um dos lideres da jovem sociedade. – e Daisy D’ Arriaga (vestia um sari e com muito charme e categoria dirigiu as danças. Heráclito Corrêa e Magda Biavaschi (graciosíssima, de saia e blusa em tons lilás) foram os mais animados da noite, Déa Maria Henriques e Mauro de Athayde Bohrer, Nilton Lerrer e Sandra Azevedo, Ana Lúcia Werther e Juan Foianinni, Maria Lucia Campos e Agilberto Franciosi, Rosa Maria Campos, Lucas Cirne Lima e L. A. Antunes.”

Paulo Raymundo Gasparotto

As máquinas

As máquinas

01 – março de 1932
Viagem a Caxias.
Parece que a máquina de Pedro Alexandrino está em dificuldades! Roberto Menna Barreto Mattos a esquerda da foto, empurrando.

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1-3-32

A ” Nash” em descanso.

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Da esquerda: Julius, Ary, Sdenko e Roberto.

Tudo te é falso e inútil

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carta um ibere camargo

“Porto Alegre, 19 – 9 – 92.

Querida Beth,

O vento não sopra, o pássaro não canta, o céu está mudo e Beth não fala.Não sei o motivo desse silêncio inquietante, como ele sempre é, seja de pessoa ou coisa. O sol nasce, o sol morre, e eu e meus ciclistas continuamos numa caminhada sem fim. Para onde?  A meta, o horizonte é uma linha de mentira.

            Meu último quadro tem este título que vem de uma poesia de Fernando Pessoa: – “Tudo te é falso e inútil .” O passado, um montão de sucata envolto nas brumas da memória.

            Fala, Beth. Estou muito triste e deprimido.

            Há mais de quinze dias que estamos sem motorista. Diz ele que está com catapora ou coisa parecida. Como estou com o braço direito meio travado, devido uma artrose ou outra porcaria qualquer trabalho com dificuldade e não dirijo carro. Como vês estou preso. Não sei quando poderei por este bilhete no correio. Vida difícil!

                        Abraços e muito carinho

o Iberê.”

015

IBERÊ CAMARGO  – FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO

Manuscritos. Correspondência. Acervo de um artista. Sinto saudade de nós dois. Das palavras, da voz. Iberê levou arte para a ElizaBeth da fazenda de Rio Pardo para Santa Cruz do Sul. Do Rio de Janeiro a Porto Alegre, e depois Torres. Trinta e tantos anos de missivas fidelidade, e amizade. Elizabeth M.B. Mattos

CARTA IMPORTANTE IBERE CAMARGO

fragmento ibere camargo

mesa preta com ibere camargo