Ana Helena! Enquanto fazia, e desastradamente, virava as panquecas, lembrei de nós e de ti muito, as internas do Instituto Nossa Senhora das Graças!! Lembras das aulas de culinária, e dos nossos cadernos-dever com recortes das comidas as mais prosaicas: arroz branco, feijão, biscoitos e panquecas. Conferi ingredientes, resolvi fazer. Como a farinha de trigo do fatídico e festejado bolo ficou por aqui…, investi. Resolvi almoçar panquecas! Perfeitos 12 ou já eram 13 anos a cozinhar entre risadas. Esqueço que detestavas o internato, eu adorava! Esqueci o nome da Madre. Vivemos alegria! Vais rir! Fiz a receita tal qual, está no caderno. Eu te digo! Ficou delicia substanciosa! Gostoso mesmo, mas desastre completo as tais viradas necessárias, quebrei tudo, e pasma! Quatro(4) panquecas! Comi duas, recheadas com o guisado que fiz ontem. Achei divinas! Grossas, amarelas de tantos ovos! E macias! coloquei óleo Mazola no lugar da manteiga, ficou incrível! Sigo um desastre na cozinha! Juro, a memória e as ditas panquecas, ótimas! Deliciosas! Faz a experiência – magia de voltar para o colégio! Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2019 – Torres (vou fotografar! kkkkk)
Mês: julho 2019
viáveis e inviáveis
danada saudade! linda e espessa
incrível intimidade que nunca existiu, e parece / certamente que nunca acabará
nada mais sensual do que envelhecer juntos sem vergonha da nudez… Elizabeth M.B. Mattos – Torres – 2019 tuas palavras, minhas palavras, nosso encontro! Volta!
Fale com ela
Conversar / dizer / e falar, falar e falar. A história que ia te contar tem a simbologia deste filme: tenho dificuldade de contar. A estranheza das histórias de amor. Perder, mas jogar, jogar e competir e seduzir. É preciso arriscar a perder. Os atletas sabem / tem conhecimento da vida, do prazer. Da derrota da resiliência. O jogo. Apreendem / sabem observar… Este olhar conversa, não descansa, e se move o tempo todo. Há diversas maneiras / formas de acordar para viver, adormecer para se deixar morrer. O estremecimento do amor acorda. Também nos adormece e arranca um pedaço da alma, ou ela inteira: sobrevivemos. Não importa o tempo real, se anos, meses e se foi apenas um agora. A escolha define, talvez, mas a escolha não tem lógica. Pode ser o toque / o desejo / a indiferença.
Gosto de dizer, ou de pensar: não escolho, assumo a dianteira, reajo, mas não escolho. A vida me escolheu, ou me fez equivocada, ou sou eu a me equivocar? Não sei… Não há decisão. Há destino. Aperfeiçoamento. Sinto. Uma vez eu te disse que estávamos, tu e eu, blindados. Circunstâncias. Podia ter sido diferente. Sei do teu coração, sabes do meu. E não definimos nada estando perto, tão perto! Nunca nos encontramos. E o que encontramos significa. A história que ia te contar tem um fim inusitado. Uma amiga me disse que eu era o Benigno. Não posso de sempre este paralelo quando penso no que aconteceu. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres, quase chegando… Um dia vou entender. E tenho São Paulo, o Rio de Janeiro e Recife, e ainda um monte de lágrimas.
O filme FALE COM ELA, com roteiro e direção de Pedro Almodóvar, foi produzido em 2002. Os principais atores e seus personagens são Javier Câmara, como Benigno Martin, Darío Grandinetti como Marco, Leonor Watling como Alícia Roncero, Rosario Flores como Lydia e Geraldine Chaplin como Katerina Bilova.
Depois que tudo ou nada ou o tanto aconteceu viajei para Pernambuco – já estava na agenda, conheci Recife e a Oficina de Francisco Brennand, e a vida seguiu para o lugar que tinha que seguir, e o que se apagou não morreu, queimei palavras, voltei a falar e a viagem foi inesquecível, Luiza fotografou. Senti tudo outra vez, mas cheia de medo, inventando fantasiando, e tu estavas do outro lado. Tocar no real, apalpar, acelerar, ou acreditar de verdade pode ser perigoso! E pessoas importantes / definitivas e reais chegaram perto. Senti o abraço. E aquietei.
seis ondas
Das leituras presas, escondidas no recente encontro de eu ser eu, hoje. Sensação / lucidez / encanto / certeza esquisita. Sentir o balanço da rede, naquelas leituras apressadas. Livro devorado, substituído. Foi na casa de veraneio da Ieda e do João Franco. Numa daquelas tardes delícia! O pai e a mãe, o rio Mampituba e eu. O Nelson deveria estar, frequentou a mesma biblioteca, não esqueci do menino. Coisas da memória! Assim foi com Cabeças Trocadas de Thomas Mann. Daquela coleção da Edição da Livraria do Globo – Porto Alegre – 1945
” – Aqui parecemos estar além das seis ondas da fome e da sede, da velhice e da morte, do sofrimento e da ilusão – disse Shridaman. – Que paz imensa! É como se fôssemos removidos do incessante redemoinho da vida para o centro imóvel onde se pode respirar profundamente. Escuta, como é quieto aqui! Digo’ quieto’ porque exclamamos ‘quieto’! quando queremos escutar e só se pode escuta onde há quietude. Pois esta nos permite ouvir tudo que não seja inteiramente mudo, de modo que o silêncio nos fala como no sonho e nós o escutamos também como se estivéssemos sonhando. – O que tu dizes é bem verdade – concordou Nanda. – No clamor do mercado não se escuta; isso só é possível onde há quietude na qual todavia há algo que escutar. Inteiramente desprovido de som e saturado de silêncio, somente o Nirvana. Por isso ninguém poderia chamá – lo de quieto, nem de acolhedor.” (p.22-23)
Hoje a leitura vai ser nova. Não posso reler, nem os preferidos, tanto a conhecer, o não lido! Não volto ao amado (passado) tantos novos amores! O precioso, o intenso ser descoberto, o novo amor. Esquisita vida, esta vida de memória! Com a lembrança chega / desperta a urgência do hoje, do agora da sétima onda, da última ventania. Do amigo que te agarra e sacode para dizer: ‘Acorda! Sempre estiveste lá, não abandona teu reinado…’ E eu não disse nada, e porque não disseste nada…, distraída! Eduardo Alves da Costa o poeta gravou/imprimiu este pensar, o que me impressiona, desta memória, poema lindíssimo!
“Na primeira noite eles se aproximaram e colheram uma flor de nosso jardim, e não dissemos nada. Na segunda noite, já não se escondem: pisam as flores, matam nosso cão, e nada dizemos. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba – nos a lua e, conhecendo nosso medo, arranca – nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada já não podemos dizer nada”.
Ninguém esquece estes versos. Lamento, não posso voltar, nem sorrir. E não digo nada. Não posso nem pegar pela mão o sonho, nem acordar do pesadelo. Esquisita esta vida! O desvendado engodo, o verdadeiro cinzento do nevoeiro: os peixes salvos pela chuvarada! Ninguém fez nada. E o inverno caminha rápido / apressado, como o degelo do Alasca. Logo estaremos outra vez no sol das piscinas, escaldando os pés nas lajotas quentes do verão. E o mar… Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres –
“Dizem que em algum lugar parece que no Brasil, existe um homem feliz.” Maiakovski – 1913
paulo amigo menino jovem e querido Paulo Paulo Paulo e ainda Paulo
Velhos e doces.
Abençoados jovens!
Somos nós:sem ponte, sem feio, sem palavra este cheiro de alfazema estrelada.
Tão longe nas amarraras!
Eu te escrevo, tu te esqueces. Eu danço contigo. Tu te esqueces Tu bonito, lindo e eu me esqueço.
Na tua juventude a nossa, no teu inglês, o meu, no meu sopro, uma memória.
Nos teus dizeres o sorriso perdido distraído! Obrigada.
Cabeça de nuvens e de mar até o céu, teus poemas… Obrigada. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres, nunca mais nós, que pena! Para Paulo voando na viajam americana, escorregando no português gaúcho, nunca mais
extraviado
acordo cheia de sono, pronta para dormir: envelhecer
inventar inventar e aguentar
arrumar desarrumando…
Papai Noel existe, e aborrecimentos também
chapéu com abas, vento, e peixes sem oxigênio, lagoa agoniza: Torres
venta neste vento azul de hoje: três dias de chuva e somos salvos!
E.M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres
sem lutar, exaustão
Exaustão. Apatia. Ou consigo reagir? Quando a loucura se solta, não adianta! Desânimo. O jogo enlouquece! Soldados dignos, ou indignos! Homens invadem o roteiro do sol, vou virar o tabuleiro: nada de reformar, de ir ou voltar. Perfeito: céu e inferno. Casa, comida, posições sólidas! Trabalho, empresas, quanto sucesso! Cegos! Está bom, tão bom! O frio já foi embora, posso tirar o casaco, tomar sol e mate, refresco, praia e um samba tocando gostoso.
Ma ra vi lhooo sa!
Nordeste e turismo e sol…, lá vou eu a voar! Brincadeira infantil e boba esta de votar, decidir com sim ou não, destacar o vermelho, o azul ou o roxo, não fazer nada, nada, muito melhor… Para que trabalhar? Estranho verbo! Será que este doce ócio de palavrado resolve?!? Comer bananas. República das bananas! Empurro com a barriga. Voo de lá pra cá! E nem precisa televisionar (obsoleto), escrever jornal (risos), noticiar, para quem? E por quê?
Lagartear e deixar rolar. Decidir o já decidido? Obstruir. Não fazer. Tá tão bom! ‘Com que roupa eu vou ao samba que você me convidou?’
Vestido bom e bonito. Novo! Quero roupas novas. Tecido importado, costureiras habilidosas, bordado. Sapatos altos. Luvas. Malhas quentes e coloridas, nada sintético. Ah! Maquiagem. Não esquecer o rouge. E pedir chá, café e champanhe, água mineral. Ah! (risos) Não esquece o feijão com arroz. (sorrisos) E virar o tabuleiro. Queima / termina/ dá risada com este brinquedo Imobiliário, danado jogo! Em agosto vamos ver o que acontece no planeta. Não estou achando/vendo brincadeira na manobra divertida. Agora só balões, colher flores, olhar estrelas e bocejar. Fogueira dos livros! Santa ignorância! E vou pro mato! Globalizar! Elizabeth M.B. Mattos- 2019 –
…,obstruir? Não: se não rejeitar o otimismo — ao menos substituir o mantra leibniziano de Pangloss, “tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis”, por um preceito enigmático: “devemos cultivar nosso jardim.”E tudo será perfeito. Já era maravilhosamente bem feito… Que cegos! Que ingênuos! Este é mesmo o melhor dos mundos possíveis! Voltaire
Explodir, implodir, destruir, destituir, liquidar, negar, enterrar, salvar os oprimidos e deixar chafurdar, brotar, continuar. Tirar o ar dos peixes, sacudir os ombros, glorificar a idiotice. “Deixa que falem deixa que digam…deixa isso pra lá, vem pra cá“. Oprimidos a desaparecer, acinzentar. Passeata e canto e idiotice e loucura. Olhos fechados e olhos abertos. Chuva e sol. Trabalhar por quê? Para quem, sem motivo, trancar tudo. Trancar pauta, janela, porta, estrangular.Sair correndo ou viajar. Elizabeth M.B.Mattos – Torres – 2019 – peixes morrem na lagos, e o gramado está bem bonito, verdinho. Que venha chuva de dois dias, ou de três. E que o vizinho acorde. As escadas fiquem limpas, automóveis nas garagens. Céu azul, um filme, dois filmes, três. Recesso. Pausa. Férias. Lanche, Corredor, salas cheias?! Saídas… Voos que ficam ou que vão. ESTRATÉGIAS misteriosas. Dos bruxos e das fadas! MAGIA branca e negra! Tudo vai dar certo.Um dia. Quatro dias. Vamos nos encontrar na Lua ou em Marte? Bom DIA! Boa Tarde! Calçada limpa, orgulho estufado. E vamos lá! Podar / limpar/ abrir… Vamos obstruir!Elizabeth M. B. Mattos Torres 2019
na esquina da rua da Praia, Andradas, eu te conto a história esquecida
Desde cedo quero/preciso escrever. Penso no dia, no inverno. Na tua vaidade. Na narrativa. Depois, na roupa a ser lavada, na poeira, no passeio necessário. E em outro livro de Simenon! Nunca releio, e agora esta coceira com os psicológicos do criador do Comissário Maigret. Releio. Na contra capa:
“São obras em que ele se volta para problemas de solidão, da incomunicabilidade, do medo, da opressão e alienação que caracterizam a época em que vivemos. Quando André Gide, um dos ‘maiores a literatura francesa’ tomou conhecimento desses romances, não se conteve e declarou: ‘ Se Balzac tivesse nascido no século XX e na Bélgica, certamente se chamaria Georges Simenon.'”
A revisar volumes. Apressada, doida leitura, maluca. Intercalada com o Guimarães Rosa. Atrapalhada com o Kafka em Cartas a Milena (correspondência, missivas, incompreensões, este tema me persegue). Nunca livros policiais. Acabarei sendo/ será, serei, apenas leitora? Desde ontem fixada no feijão preto, no bom caldo. Desde cedo construo narrativa sigilosa, tua história. Aperto a tecla da vaidade, da obsessão, e do equívoco. Penso: homem alto, cheio de voltas, de escolhas curiosas, e conquistador elaborado. Quase corriqueiro este conquistar, conquistar. O professor. Eloquente. História comprida, às vezes arrastada / infindável, e enfiada em ponderação interna, psicológica filosófica, ou não. Apenas narrativa. Espanto se chama sigilo. Palavra voa, corre, ou se espicaça. Não se vive atrás de biombos, nem de aparas: somos a platéia mesmo instalados no palco… Eu me pergunto se te salvas, ou se te entendes em espraiados amores dito fiéis e comprometidos. Ironizo. Explicar ironia não é possível, deixa de ser ironia. Céus! Eu explico.

Sempre a beleza: enfeitiça, corrompe e cria equívocos.
Quando converso / menciono citações, evidências mapeadas por mim, ou por um livro. Por que te surpreendes. Eu me salvo na releitura a sublinhar o que não digo pessoalmente. Assim, permaneço agarrada neste e naquele autor, nesta ou naquela lembrança. Lembras da conversa apressada pela rua? Eu voltava a Torres, e tu ias comprares o livro-presente para filha aniversariante. A história / ou a estória que não escrevemos, sequer sentimos, tão longe de um, e de outro era do que se chama comunhão / entendimento. Narrativas diferentes. Monólogos.
George Simenon
“Damos excessiva importância à beleza. Quase sempre é ela quem decide nossa escolha. Mas quanto tempo dura? E quantos anos nos sobram para viver depois?” (p. 95) Ainda existem aveleiras -, F. Perret-Latour diz: O que Simenon nos apresenta neste romance, com força e originalidade extremas, é o comportamento de uma humanidade tal qual ela é, sem dúvida tal qual será cada vez mais, num mundo de simples apetites e de apetites simples. Isso, porém, ocorreria fatalmente, se já não existissem aveleiras, árvores que F. Perret-Latour (personagem principal do romance) redescobre durante um breve passeio ao campo…
[…] A velhice é o espaço que nos separa tenuemente da morte: mas dispomos da escolha, durante breves minutos, entre nos imobilizar pouco a pouco para lhe dar lugar em nossa vida, ou ainda ao contrário, ainda confiar em alguma coisa verde…” Robert Kanters
Citações presentes ou indicações para leitura em tua vasta e magnífica biblioteca: de nada valeria. Os fantasmas te acolherão. Os meus me levam ao passado. E o beijo que eu te dei (confesso), espontâneo, volta. O que eu lembro? Não ganhei / nem recebi um beijo, apenas, deixei cair um beijo. Incomunicabilidade. Não importa a beleza da juventude, nem a da velha senhora, nem a espontaneidade com que recebi tuas inúmeras cartas explicativas. Tua exposição, minhas confissões. O encontro importa mesmo na singeleza de uma troca de olhar. Se maquiavélicos ou mirabolantes, secretos encontros foram planejados!? Não participei. Tu ficaste a imaginar e querias materializar. Que susto levei quando tu te apresentaste como se ele fosse nosso… E como eu poderia saber que a viagem não era visual, mas intencional. Eu sou uma caixa de surpresas e cheia de voltas como o rio Camaquã (risos), acertei?
Franz Kafka:
Não, não irei a Viena, exteriormente porque somente seria possível mediante uma mentira, teria que mandar dizer que estou enfermo […] o telegrama; obrigado, obrigado; retiro todas minhas censuras, embora tampouco fossem censuras, apenas era uma carícia com o dorso da mão, porque já há muito tempo desejo o que não tem. Há um instante veio visitar – me outra vez o poeta-gravador (embora especialmente seja músico), vem a cada instante, hoje trouxe – me duas gravações em madeira (Trotski e uma Anunciação; como vês, seu mundo não é nada reduzido; para sentir – me mais próximo de suas obras estabeleci precipitadamente uma relação entre tu e elas, disse – lhe que mandaria uma a uma amiga em Viena […] (p.99) Cartas a Milena
Não, não irei / não fui / não correspondi ao encontro do teu obstinado encontro conclusivo, e da tua mágoa silenciosa. Nunca senti o homem, (aquele beijo derramado, que eu dei, contou para a mulher a verdade, eras uma ideia, não uma pessoa). Nunca esclarecemos este episódio rapsódia desastrado. A materialidade da história se perdeu. Nada objetiva, nublada. Não vejo o motivo para mágoas, ou, sei lá, qual absurda vaidade masculina te persegue. Depois veio/ se fez a farsa de conversa virtal: eu era eu, e tu imaginação colorida escondida. Consciente tua brincadeira. Ao te relevares (muito tempo depois), e dizeres, como defesa, que eu sabia que eras tu… Levei eu o susto, como tinhas certezas desconhecidas! Hipótese estranha para quem não se esconde, ao contrário se fragiliza e desenha e depois me proíbe de publicar… Esqueceste das inúmeras vezes, caminhando ao teu lado pela calçada da rua Andradas, em que mencionei meu fantasma que se escondia atrás de um pseudônimo, e nada revelaste, apenas falsas pistas: bom se tivesses sorrido, e dito, sou eu.. Acreditei em ti (o amigo que não eras), e nas mirabolantes hipóteses. Mentias, nesta ocasião, sem nenhuma preocupação com fidelidade. Ser fiel é mais, muito mais do que meia dúzia de palavras…
Michel Krüger:
“Desde a chegada de sua carta, venho, contrariamente ao meu hábito e também a um melhor juízo, examinando minha relação com o mundo à minha volta. Até agora eu trabalhei ou vagabundeei, escrevi livros, respondi cartas, ouvi e proferi palestras. Tudo tinha um nome, o qual me bastava repetir para me fazer entender. E, com certeza, os outros me entendiam. A união peculiar de entusiasmo e revolta selvagem com relação ao curso das coisas parecia funcionar. Provavelmente, beneficiei – me do fato de a vida cotidiana cada vez mais complexa ter resultado num empobrecimento interior que beira a imbecilidade, e sobre o qual minhas histórias de aventura exerciam algum fascínio.” (p.127) A ÚLTIMA PÁGINA
Ele escreve o que não consigo te dizer, sou de natureza covarde. Seria uma frontalidade te apequenar, retirar a tua empáfia e creditar na vaidade dos teus equívocos lisonjeada. No entanto, eu me salvo quando escrevo. Mesmo se a história parece incompleta ao leitor: sou uma blogueira, não artista como te asseveras ser. Este, naturalmente, preenche todas as lacunas ao ler. Sigo com Krüger para te confessar, e talvez isso te importe:
” Não é o medo da morte que nos faz pensar na imortalidade, mas é o desejo ser ser imortal que atiça em nós o medo da morte – dizia Leo com frequência, citando um filósofo austríaco. A consciência da morte, da mortalidade, está no princípio do ato de narrar. Esse era um dos comentários que ele fazia, quando eu não sabia mais o que fazer. Agora eu não sabia mais o que fazer.”
O livro vale cada palavra: A Última Página
Contar uma história tem este drama que o escritor vive, colocar o ponto final. Deixar de amar o amar, o amor ele mesmo. De chorar a lágrima, de caminhar em direção da verdade. Resvalo nesta incoerência de ser quem não sou… Tu és quem não és. Estranho! Ou acreditar que outro vai ceder a sedução apenas por ceder. Tocar apenas por tocar. Ser quem não é apenas num minuto de tentação, e voltar… Não é assim a vida. O triste, o definitivo, pode ser apenas apenas chafurdar na vaga ideia vaidosa entre escolhas esdrúxulas, incompletas. Lutar para ser. A elegância não está na roupa, mas na forma de levar/vestir/ portar esta ou qualquer roupa. Palavras da estilista Coco Chanel /Gabrielle Bonheur Chanel se a memória não me escapa.
Beth Matos: Houve / tive uma história de amor – lembras? Eu mencionei / contei. E inúmeras vezes eu te pedi / disse / expliquei: apenas, não morras, tens que prometer. Agora eu me dou conta que não existias, tarde. É verdade. Não existes na ficção, nem na vida real. A morte já estava selada: não adiantou pedir nem suplicar. Tu já estavas morto, ou melhor, não existias. Tinhas um nome fictício. Eras uma máscara, o personagem. Elizabeth M. B. Mattos – julho de 2019 – Torres
não dizemos, eles dizem
É preciso dizer, não se consegue parar de amar, como a flecha em voo não retorna ao arco. Nem sempre é certeira / nem justa / nem… O amor não tem jeito, nem acomodação, existe ou não existe; o ficar com / ficar junto, já é bem lá outra história, outro acerto, pode ser. Não trocar a cadeira, ninguém levanta…, deixar ser como é. Possível. Complicação ou acerto. Beth Mattos
“Suponho que eu tivesse algum dia amado minha mulher, já não a amava, e pronto. Outro fato. Está claro, não? Então, o golpe, se golpe houvesse, seria aparado. Porque enfim a dor, quando se ama, vem de não ser mais amado e, depois de saber que aquela que se ama ama outro.” (p.159) George Simenon in CARTA A MEU JUIZ
Esquisita ignorância, vaidade e prepotência ao se tratar / se pensar / se imaginar do que seria se já foi, – uma leveza! uma risada! um brinquedo! um não saber nada de nada. Como se a mágoa apertada de uma expectativa fosse o fel, fosse ferro, fosse. Dor absoluta: não apenas o encontro, também o desencontro. Vergonhoso medo de ser baile, com dança, com hora hora marcada para terminar. Claro! Sempre tem o voltar para casa. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2019 – Torres