Isabel limpava as estantes. A escada de quatro degraus, aberta. Já tinha escovado e separado os livros por assunto. Os volumes estavam em pilhas na mesa encostada na parede ao lado. As crianças brincavam no quintal, sem gritar. E Francisco consertava o rolamento da janela, distraído com as hortênsias azuis, demorava.
Ela entrou agitada com os papéis na mão, e com peculiar entusiasmo largou no tapete junto à escada, não sem antes reclamar a posição dos dois quadros de Marcel, recém-colocados, na parede, e falou depressa: ‘Terminei. Não está na boa sequência, aliás, invertida. Do fim para o início; acerta isso para mim, Isabel. Os desenhos ficaram ótimos, vais ver.’Francisco olhou para a sala somando urgência. Ela saiu, feito vento passageiro, convocando as crianças.
Isabel desceu da escada, olhou para as folhas. Uma sequência erótica de momentos domésticos. A saia se enrolou nas suas pernas quando deitou no tapete. Francisco se inclinou para examinar os desenhos. Suas mãos tatearam o corpo de Isabel que encostou a cabeça no assoalho. As pontas do casaco roçaram seus pés descalços. As mãos dele percorreram, carinhosamente, seu corpo por cima do vestido de lã.




