ENCRENCA da memória voluntária ou memória da indigência ou ainda emocional e apegos / prisões em todos os estágios. Esforço para seguir sendo. A verdade que busco está em mim, o amor que sinto pela vida está em mim. Cada pequena decisão de ir ou de ficar, ser ou deixar de ser está escondida dentro de mim. Encontro inesperado, e poderoso preenche o que não tenho. Contigo desenho o arco-íris: azul amarelo vermelho verde. Sem angustia eu te procuro, vou ao teu encontro todos os dias da saudade. Perto desejável seguro, só tua voz me importa. Bromélias margaridas e hortênsias. Pessoas não são de papel. As letras se desenham pela vida vivida: a tua e a minha. Não sou a menina bonita da tua meninice, nem tenho o colorido das tuas lembranças, mas estou viva. Elizabeth M.B. Mattos julho cinzento de 2018 agarrada no tempo perdido de ser com Marcel Proust porque Frank Wan oferece estas voltas retornos e encontros: citações ilustradas. Estamos de mãos dadas, e a porta está aberta, posso sorrir.
“ Em breve, maquinalmente, acabrunhado com aquele triste dia e a perspectiva de mais um dia sombrio como o primeiro, levei aos lábios uma colherada de chá onde deixara amolecer um pedaço de madalena. Mas no mesmo instante em que aquele gole, de envolta com as migalhas do bolo, tocou meu paladar, estremeci, atento ao que se passava de extraordinário em mim. Invadir-me um prazer delicioso, isolado, sem noção de sua causa. Este prazer logo me tornaria indiferente às vicissitudes da vida, inofensivos seus desastres, ilusória sua brevidade, tal como faz o amor, enchendo –me de uma preciosa essência: ou, antes, essa essência não estava em mim, era eu mesmo. Cessava de me sentir medíocre, contingente, moral. Se onde me teria vindo aquela poderosa alegria? Senti que estava ligada ao gosto do chá e do bolo, mas que o ultrapassava infinitamente e não deveria ser a mesma natureza. De onde vinha? Que significava? Onde apreendê – la? […] É claro que a verdade que procuro não está nela, mas em mim. ” (p.71) Marcel Proust No caminho de Swan – A procura do tempo perdido – tradução de Mário Quintana – editora Globo – São Paulo – 2006
“Et bientôt, machinalement, accablé par la morne journée et la perspective d ‘ um triste lendemain, je portais à mês lèvres une cuillerée du thé où j’avais laissé s’ amollir um morceau de madelaine. Mais à l’ instant même où la gorgée mêlée des miettes du gâteau toucha mon palais, je tressaillis, attentif à se qui se passait d’ extraordinaire em moi. Um plaisir délicieux m’ avais envahi, isole, sans la notion de cause. Il m’avais aussitôt rendu les vicissitudes de l avie indifférentes, ses desastres inoffensifs as brièveté illusoire, de la même façon qu’ on opere l’ amour, em me remplissants d’ une essence précieuse: ou plutôt cette essence n’ était pas em moi, elle était à moi. J’avais cesse de me sentir medíocre, contingente, mortel. D’ où avait pu me venir cette puissente joie? Je sentais qu’ elle était liée au goût du thé et du gâteau, mais qu’ elle le dépassait infiniment, ne devait pas être de même nature. D’où venait-elle? Que signifiait – ellle? Où l’ appréhender? […] Il est clair que la vérité que je cherche n ‘ est pas em lui, mais em moi.” (p.45) Marcel Proust Du Côté de chez Swann A La recherche du Temps Perdu – Bibliothèque de la Pléiade – 1954 – Bruges
Rio de Janeiro – 1972 com Ana Maria, Pedro, e Joana