diferenças

Ando atrás das diferenças, das disparidades, daquilo que não sou. Ando atrás do gosto, do teu sorriso que me escapa, das tuas certezas, de tudo que tens e não tenho. Ando atrás do meu passado, …das distrações, das cirandas. Ando atrás das nossas brincadeiras. Do teu medo. Da tua raiva. Ando atrás de ti …, da tua timidez, das tuas audácias. Dos teus esconderijos. Das tuas ameaças. ando atrás dos teus segredos. E da tua voz. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2018 . E não adianta nada estar ao teu encalço. Tu me escapas.

tudo muito, absolutamente, errado

Tudo errado. Tem dia assim, tudo errado. Sim, talvez o Amoras seja apenas um diário sem nada de verdade, feito ou criado. Droga de diário íntimo. Espanto. Estou ali, estou? Oxalá estivesse, oxalá fosse, oxalá a questão fosse coragem. Tanta coisa que não é. Vou tomar café, vou tirar a roupa, vou fazer amor, vou comer sem parar, vou gritar. Ser gentil o tempo todo. Vou me olhar no espelho. Por que fico tanto e tanto tempo longe do espelho. Esqueço. Esqueço a alma, a vontade, o desejo. A verdade, esqueço que não temos amigos, nem inimigos: projeções. Votar. Sim, tenho que votar para presidente. Escolher alguém que governe, faça e ajude e seja honesto, a verdade. Onde está a verdade? Sim, como é mesmo ser honesto bacana e certinho? …, céus! Como é mesmo que as pessoas tem que ser para ser. Estou com raiva. Uma raiva canalizada. Deve ser de mim mesma, deve ser do tropeço. Deve ter raiva da vontade de acertar. Deve ser raiva de estar no lugar errado, mas, afinal, o lugar é apenas um lugar, não és tu, não sou eu. Errada. Equivocada. Entranha. Esquisita esta coisa de entender e aceitar. Estou completamente equivocada…Estou? Gostei desta palavra. Quero consertar alguma coisa. Não sei o erro, não sei nada. Se eu tivesse certeza do nada. Se fosse apenas o vazio sem beijo tato ou desejo. Do absolutamente nada seria mais fácil. Que droga! Quando amanhece eu acho que vai ser diferente, melhor. O bastante. O tranquilo, seguro, certo, bom e melhor. Raiva é um sentimento pequeno, tão imediato, tão simples! Porque não jogo tudo pela janela,  e vou…, vou tomar um banho de mar e sentir frio. Frio. Está gelado lá fora. Eu queria começar do princípio. No começo tu não estarias aqui, não serias, nem eu seria. Não haveria acaso… Elizabeth M.B. Mattos – setembro venta e porque o vento faz ruído a vida fica (…), fica como? Não sei. Deve ser bom estar no vento. 2018. Se o telefone tocasse, provavelmente, eu não atenderia. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2018

Acho tudo um escândalo. Perfeitamente gritante. Sempre que leio AmorasAzuis.com fico com a sensação de que poderia ter dito, escrito ou pensado algo semelhante. É tua humanidade, profunda, sensata e irrefreada que te faz errada e certa. Variante. O humor e a auto-percepção. Como gosto de espelhos! Vejo-me sempre. Talvez seja mesmo narcisismo. Mas geralmente não. Olho o meu rosto no espelho, o rosto só não…, e busco o rosto daquele menino a descobrir as dores dos fracassos e as alegrias dos sucessos. Me sinto presente. Totalmente. Também tenho raiva. Afinal, os fracassos costumam ecoar pelos anos afora e os sucessos geralmente são subestimados. E tens, nesta de hoje, um detalhe sobre o tempo que valorizo muito. O vento. Este fantasma a nos dizer que vivemos no fundo de um Oceano Atmosférico. Pode destruir construções, arrancar árvores e nos jogar ao longe. Mas geralmente tenho-o como meu ponto de referência. Não rastejo, afinal, ao fundo deste oceano… Sou parte dele. Vento vente sobre mim, meus cabelos, meu rosto nú. De todas as partes do meu corpo geralmente é o rosto que se deixa despido mesmo que voces, mulheres, o maqueiem… ainda assim está nú. Prestes a sentir a temperatura, o aroma, a força e tudo o mais. Errada? Não… Humana.

Gosto desse seu jeito intenso de falar coisas… Assim, a alma não engasga!

Poesias boas de ler. Rápidas. Aparentemente leves. Mas que trazem uma mulher à procura do ser. Sem choros ou gritos mas com pesadas lágrimas nas entrelinhas suaves e descomplicadas. O impacto forte da leveza,
a aparente simplicidade das coisas. Pungente mulher no claro-escuro do inverno. Em Torres, contra o mar, ao relento do frio vento. Maresia. Vida e morte.

notícias diluídas

 

Notícias estranhadas, ou diluídas entediadas, as mesmas.

Retomo palavras da citação: caminho, frescura  +  vergonha e inferioridade = eu me renovo, eu me proponho, eu recomeço, mas sinto vergonha do pouco progresso, da mesmice, de apreender devagar, ou até de emburrar, empacada. Vejo um muro, porta fechada. Por que isso ou aquilo? E eu me consolo, eu me embalo. Eu ouço música. Bebo o café, penso que deveria fazer um bule de chá, arrumar o armário, ou pendurar as roupas.

“A caminho, a frescura do ar, e a vergonha que lhe causava a consciência de sua inferioridade, puseram – no em condições de ordenar suas ideias; e o trajeto foi curto, e à medida que se aproximava da sua casa, o conde sentia renovarem – se todas as suas angústias. ”  (p.149)  Umberto Eco Elogio do Monte Cristo in Sobre os ESPELHOS e outros ENSAIOS

Esquisita falta importância ou loucura, ou raiva. A cabeça deslocada, insanidade. A dor veste uma memória. Lembrança se desmancha e brota. (…, risos.) Falar, falar, falar ou escrever. Respirar. E tudo será defesa. Nem era o grande amor, nem era especial, nem era para sempre, nem era o que imaginei. Chegou perto / muito, e perigosamente perto, e me desnudou com voltas / feitiço e encantamento. Rodeado de casos amorosos. Minúsculos, ou insignificantes. Pequenas aldeais povoadas. E as estórias se misturam em conversas compridas soltas feito fitas coloridas a balançarem ao vento: todas com palavras suspiros e verdades e mentiras e … aquela poeira levanta. Eu me esquivo. Eu me exponho exibida. Eu respondo que não sei, foi tão depressa, tão ao acaso, tão num repente, de imediato, sem data, assim, … nem sei se foi comigo?! É a defesa. A defesa se agarra no esquecimento, se afoga na negativa, não tem nada de altaneira, de visível. A defesa se multiplica num emaranhado de palavras conceitos lembranças e tantos não me lembro. Quem eram estes dois?

Volto para dentro de mim mesma e vejo a menina acordando, a jovem se espreguiçando. A mulher a se contar estórias. Repasso as roupas pretas, os lenços coloridos, escuto risadas, bebo outra vez o vinho, e já tenho cabelos brancos. Trabalho. Sou feliz, refeita, livre, presa, amarrada, sou eu aquela mulher que corre, que vai sem ir … sou eu mesma? Não sei. Uma transfusão. Desvendar o inventando fantasiando. Entro na minha vida -, luz e jogo, estou presente sem estar. Estou anciã depois daquela adolescência toda. Perco a memória e me desencontro dos fatos evidências ou provas.  Coloquei os óculos em qual mesa? Perdi o livro, mas faz dois minutos estava nas minhas mãos. Eu já almocei? Céus!  A roupa não está na gaveta que pensei estar. Assim, este amontoado de histórias sem começo nem fim …, e eu me volto para quem se coloca insistente ao platônico faz de conta que é … O que importa se fecha na ausência e na imprecisão. Conversas se abrem e se fecham como flores. Eu te espero. Elizabeth M.B. Mattos – setembro de 2018 – Torres

de volta

Consegui (esforço/ apego/ preguiça/ descaso/ esquisitice; pode ser tudo ao mesmo tempo este hábito de estar com a mesma roupa a mesma roupa, a mesma roupa …, todo um mês) colocar o velho jeans para lavar, como não tem água por aqui …, consegui jogar num canto, perfumar o corpo, e vestir preto, aquele uniforme rebelde. Ontem a roupa se arrastava no meu corpo, e o ânimo infestado, agarrado num sono louco durou um dia. Acordei. Outros livros, outro animo. Claro que me desgostei do espelho, a cara parece mais amassada do que nunca. As rugas trazem mapas desconhecidos. Tenho faróis, e nem acho que os cabelos me escondem… Jasmins entram festivos pelas janelas. Um sol ameaça o dia, e posso receber um batalhão de visitas e sorrisos, … estou pronta. Elizabeth M.B. Mattos setembro de 2018 – batom, brincos e anéis –

na fazenda com os cães

eu te espero na chuva

Não compreendo recuos, nem  silêncios. Nem surpresas. Ou o vazio. Estou preenchida,  e transparente. Seguro alegria com cuidado. E caminho, passos leves, pelos jasmins perfumados. Eu te espero, mesmo na chuva, em baixo daquela mesma árvore. Elizabeth M.B.Mattos – setembro de 2018 – Torres

sem os cães uma cabeça virada

 

história de amor

História de amor, loucura a dois, a três … De quantos forem os envolvidos, segue sendo loucura, segue sendo amor absolvido tanto quanto tenha sido desvairado, ou complicado. Paixão não é terrena. Transita (como gostamos de usar esta palavra nos dias de hoje!), pelo divino. Transcende ao comum. Alienação irreal. Foge da coerência da lógica. O mais cruel é o gesto cordial. Conciliatório. Paixão é aleatória ao controle. Ninguém exerce lógica. Não há raciocínio no amor. Assim, passado o tempo tempestivo deste amor, a história toda vira conto, anedota açucarada, lenda. Quem lê, quem escuta, faz aquele meio sorriso e diz, bonito! Havemos de pensar com seriedade, afinal, o que significa a exclamação? Nada há de bonito no desespero, no ciúme, naquele sexo ensandecido e voraz, nas mentiras, nos enganos, no tempo roubado.  Mesmo assim sinto uma sádica saudade do amor amado. Descrever, ou colocar em palavra, em discurso coerente, coeso, linha reta parece impossível. Tão repentino e tempestivo, escandalosamente, sentido este amor agora esvaziado, enlutado. Queima despedida e deslocamento, a urgência,. Foi assim que nos amamos, meio ao transtorno todo do proibido. Compulsivamente nos colocamos um a caminho do outro. Não lamento. Elizabeth M.B. Mattos  – sem data, refeito – Torres 2018

 

intolerância

Não há palavra, gesto …, tem dia assim, manchado ruidoso e inútil. EM

“A intolerância, o preconceito e a violência ou a ameaça de violência não são ‘valores’ humanos. São a prova da ausência de tais valores. Não a manifestação da ‘cultura’ de uma pessoa. São mostras da incultura de uma pessoa.” (p.186) Joseph Anton MEMÓRIAS Salman Rushdie

SALMANNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNNN

 

pedalar

Pedalar, voltar a ter segurança na bicicleta. Bicicletar, para substituir a caminhada a passos lentos feita pela lagoa. Uma amiga atravessa a cidade, vem lá da beira do rio Mampituba até a Lagoa do Violão pedalando, e na cesta o pão e o bolo para tomarmos chá. Corajosa. Segura. Sinto medo de me distrair, não olhar certo, desviar errado, sei lá o porquê, eu sinto medo de sair a pedalar. Procuro a coragem para seguir…, mas não vou. E a bicicleta guardada na garagem. Outra vez: tênis chapéu insegurança escabelada, mas controlada, lá vou eu na caminhada igual. Os mesmos passos, as mesmas voltas, distraída. A pensar em teclar, teclar e seguir bordando no AMORAS. Igual a todo dia, hoje com sol. Inventei um/uma personagem para chamar de eu. Nela não coloquei vaidade, nem uma pontinha da ElizaBETH que eu fui. Sem Eliza. Sem Liza e sem Beth. Assim mesmo penso nos amigos amados, nas ruas de Petrópolis, na Tatuíra, e no João C. e na Luiza W., sentados ali perto, a nos ver fazer roda. Penso na princesa. E na rainha. Aniversário da SAPT: lembras daqueles bailes?  Penso na boate Marisco, nas barracas coloridas da Praia Grande, nas tardes na Guarita, no vôlei e no tênis de praia. No futebol, nos banhos de mar, e naquela caminhada pela areia em direção aos molhes, ao rio nas nossas manhãs de Praia Grande. Lembro do primeiro duas peças, nos biquínis, nas gincanas, e nossos embalos até meia-noite na SAPT. E penso que ainda vamos nos lembrar de outras coisas … Tão bom ficar a descrever e a pensar este tempo de sermos nós, jovens, meninos e confiantes, e ter crescido um perto do outro. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2018 – Torres. Tudo que veio depois, casamento, filhos separações, netos é um D E P O I S diferente. A magia guardamos, enterramos naquela areia torrense. Somos aqueles grãos de areia. E de onde estivermos a Ilha dos Lobos, o mar nos pertence, e esta saudade também.

BICICLETAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA.jpg

são de amor

Histórias de amor embalam a nossa particular história de amor. E eu te digo, não importa que tenha sido aos quinze aos, aos setenta anos ou aos setenta e dois. Vivida inteira, aos pedaços, ou apenas imaginação. Fervo/respiro/ sinto ao imaginar o beijo. A tua mão. Sei do teu olhar, e esqueço estrada, montanha tempo de distância. Imaginação. Gosto da palavra. Seguem sendo elas,  as palavras, o sangue das histórias/lágrimas de amor. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2018 – Torres

Cartas de amor, apesar de serem apenas cartas de amor, seguem únicas, e menos tolas como ficaram conhecidas na literatura poética. São de AMOR.

FOTO delessssssssssssssss

Condessa.

Você sabe quem ocupou completamente meu coração. Que culpa tenho eu de que ainda está me dizendo que é verdadeiramente seu – e creia que o ano que começa há de ser como os outros de quem lhe quer como você nem imagina e pede –lhe cada vez mais o consolo de suas cartas […]. Deveras você é digna de tanta afeição e fique persuadida que tudo nela é no suprassumo. Desculpe –me falar assim, porém meu coração é ainda o mesmo e sempre o será por quem me inspira sentimentos. Diga – me se alguém já lhe quis mais do que eu e se não devemos nos regozijar de tamanha felicidade? Portanto, venham, venham cartas que amenizem este deserto e umedeçam lábios sequiosos. Não há leitura, não há estudo que supra a falta de certas cartas. Quem me dera que assim fosse e que depois me deixasse fazer as pazes com você. Não sei por quê, porém responda –me a esta pergunta: Como viveria eu sempre ativo e animado sem esta imaginação que tenho e a amizade que lhe consagro? Todo seu.

P.”

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 Ela acabou com a timidez dele. Sua malícia era um convite. E ele aceitou, confiando nela. Admirava –lhe e lhe concedeu todas as intimidades. E acabaram vivendo um romance único. O elo que os unia era muito forte. Ia muito além das ‘ necessidades primitivas’, nome que se dava ao puro e simples desejo sexual. Era uma mistura sublime de amizade, ternura, entusiasmo pela beleza e o encontro de almas. Um sentimento construído num momento histórico especial: o século XIX, o século do romantismo. Ele era D. Pedro II, o imperador do Brasil. Ela, a condessa de Barral. (p.11) Mary del Priore – Condessa de Barral A PAIXÃO do IMPERADOR

 

Histórias de amor embalam a nossa particular história de amor. E eu te digo, não importa que tenha sido aos quinze aos, aos setenta anos ou aos setenta e dois. Vivida inteira, aos pedaços, ou apenas imaginação. Fervo/respiro/ sinto ao imaginar o beijo. A tua mão. Sei do teu olhar, e esqueço estrada, montanha tempo de distância. Imaginação. Gosto da palavra. Seguem sendo elas,  as palavras, o sangue das histórias/lágrimas de amor. Elizabeth M. B. Mattos – setembro de 2018 – Torres

ninho

o ninho

passarinho no ninho

amanheceu barulhento movimentado

assim perto e com sol.

Volta o ânimo esta piação.

Qualquer palavra irônica, ou mal humorada se resolve com uma taça de café . Elizabeth M.B. Mattos – Setembro de 2018. Às vezes perco as forças …, mas volto. E continuo lendo, pensando, e me olhando menos ao espelho.