Por que só agora?

“- Por que só agora? – perguntou alguém que não sou eu. Por que mamãe sempre me…porque eu queria gritar como outrora, quando se ouviam gritos na superfície da água, mas não conseguia…por que agora…

Palavras ainda me deixam em apuros. Alguém que não gosta de conversa fiada me mantém prisioneiro de minha profissão” (p.7) Günter Grass Passo de Caranguejo

Procurei. Procurei o livro: remota ideia de ter estado com ele nas mãos, antes dO Linguado, antes de Nas peles da Cebola. Quase comprei. Ia ser outra vez/mais uma vez  livros duplos. Estes ímpetos! Esqueço… Livros caminham, e caminham, e desaparecem em lugares incríveis! Eles se permitem viajar… Estou feliz! Reencontro e festa! Desejo e vontade satisfeitos. Estou com ele nas mãos: todas as memórias. Günter Grass, eu volto.

Confusão! Grande Sertão: Veredas, vai se misturando! Céus! Ninguém deve ler assim. A disciplina perco pelas esquinas, também no amor o ímpeto. Espera! Sossega! Já vou… Elizabeth M.B. Mattos – abril sempre volta eriçado!  A caixa, outro livro/prazer/luxo com pernas e braços, lembranças de ‘agarrar’!

 

 

 

se apagando, este dizer

SOFISTICAçÂO do Rio casamento de uma ARANHA no RJ

o dizer vai caindo e se apagando… lembro, agarro, seguro

naquele/aquele verão de tanto dizer!

lembro que me mandaste calar: querias tudo contar e contar e eu, a te esperar?! sentia que nunca ia terminar, então, paciente, eu te ouvia, eu te amava, eu te amo

paz tão boa! certeza tão certa!

não foi como sonhei, terminou: sinto saudade, e te pergunto: por quê?

chega logo, sem avisar, mas…chega!

tantas e outras perguntas se questionam mudas

silenciosas, insatisfeitas…quero tanto te ver, um pouco de olhar, apenas um pouco porque merecemos, já expliquei

houve troca/desejo/confusão = nós dois

risada também

encontro e palavra solta e silêncio

o silêncio tem gosto tato cheiro vontade própria e meninice brejeira

tem mundo, tem nós dois: que não somos

tem o verbo cheio de bocas pernas e braços e lembranças meninas

gosto de pensar tu e eu, eu e tu e nada mais: o acaso,  a hora marcada

Elizabeth M.B. Mattos – abril chegando num domingo amanhecendo – Torres de 2019

amontoado

 

amabilidade

Fui à noite a seu apartamento e no princípio tivemos café e amabilidades, sentíamos o que inevitavelmente se sente quando alguém mostra sua obra a outro e sobrevém esse momento quase sempre temível em que as fogueiras se acenderão ou será preciso admitir, escondendo – o com palavras, que a lenha estava molhada e fazia mais fumaça que calor.” (p.57) Júlio Cortázar – argentino bem francês  – Orientação dos gatos -, contos. Este conto Recortes de jornais, tem epígrafe: Embora não ache necessário dizer, o primeiro recorte é real e o segundo imaginário. Tradução de Remy Gorga, filho –  Rio de Janeiro – Nova Fronteira, 1981.

Abril como temperatura. Estado de ânimo e energia, fato. Encantamento, outro. Ando a te pensar e a estranhar os empurrões: aconteceu tão fácil nosso abraço, natural, e assim, como eu vou explicar, estupidamente, trágico e silencioso.

Um ano, não meu querido, dois anos. Eu, de natureza alegre, vou me distraindo com a flor do vizinho, a risada na sacada, a moça do oitavo andar olhando/medindo o sol já de roupa de banho! Hoje é domingo, obrigações cumpridas, um banho de mar…

Afago a preguiça. Quero um dia de não fazer nada. Igual aos gatos espreguiçar e ronronar. Sono domingueiro.

Velhos vícios: vou trocar móveis de lugar, medir espaço e comprar rosas. Omelete de espinafre e as últimas rodelas de abacaxi. Colecionar amor neste teu olhar castanho preguiçoso, inquieto e barulhento. Céus! Aquieta! Respira! As pessoas dizem, repetem assim, respira! Ansiedade e saudade se misturam imprecisas: ioga e mentalização! Aguento  miséria, descalabro e até indiferença. Respira! Elizabeth M. B. Mattos – abril de 2019 – Torres: Domingo de Ramos , os sinos!livros esta não usei ótimo aquele dia inesquecívelAquele dia foi inesquecível! Quero voltar. Paris e Torres: uma festa em movimento! O farol: iremos/ subiremos o morro e lá de cima, no farol sentiremos o desalento do tempo: mudou. E 1968 foi um ano decisivo e inquietante, sobrevivemos. Tínhamos que ter nos encontrado nos meus dezessete anos, eu sei. Beth Mattos

Do amor

Estratos Del Amor. A los tres estratos del ser humano – carne, alma, espíritu – corresponden tres manifestaciones del amor, desde el rigurosamene animal instintivo hasta el amor espiritual, fenómeno peculiar del hombre. Pero nos aparecen en recintos herméticos, ni são estáticos, ni definidos, pues todo lo que se refiere a la vida es dinámico y contradictório. De tal manera que és fácil discernir matices sexuales en el más alto amor espiritual – Santa Teresa,  San Juan de la Cruz -, como inesperados tons espirituales en el amor físico.” (p.31) Ernesto Sabato Heterodoxia

foto da mãe menina.jpg

Meu avô Athayde, as duas filhas: Anita e Joana. Guardados, no tempo, em tempo salvas.

dedicatória pra mãeVontade de transcrever em português, o nosso, mas a vizinhança é tão grande! Preciso? Não. Afirmo, tudo de/em Sabato encanta! A reler. E ficar! Apaixonada transcrevo em português: “O AMOR e AS COISAS. Diz Jung que o amor às coisas é prerrogativa masculina, miendras (como traduzo? apesar de?) embora seja um rasgo essencialmente feminino pelo amor a um ser humano. […] Pois o amor concreto da mulher aos seres que a rodeiam se projeta (se lança) nas coisas inanimadas que de algum modo estão vinculados a eles: uma pipa (pandorga), um traje (uma roupa), um brinquedo e, em geral, a todos os objetos que constituem (que fazem parte) do universo caseiro.” (p.17) Ernesto Sabato Heterodoxia

Estou no delírio. Sempre quis ser como minha mãe por dentro: forte, corajosa, intensa, apaixonada. Na vida, os sentires confessados confidentes, eu a julgava: não deveria ter feito isso, ou aquilo. Olhar-pensamento crítico de filha. No entanto, eu me despedaço, como ela a cada desencontro. No entanto, sou pacífica e conciliadora esverdeada como meu pai. Não o belicoso e o generoso viver da minha mãe. Volto a rotina (que me salva), e sigo em frente. A rotina que condena, como afirmou minha amiga Simone: sair desta rotina impulsiona, sacode. E…

Aferrada estou nas lembranças, e nos objetos: o que guardei traz pai, mãe na saudade. Pedaço de mãe, outro de pai, da tia Joana. Da minha avó Rita. Depois,  colecionei a vida dos outros… Entro devagar na alma alheia, esqueço a minha. Hoje adapto o tamanho das coisas: demoro no livro, no retrato, no vidro de perfume, no lenço com renda (alguém ainda usa?), no lenço de segurar o vento…  Eu me desfaço, ou coloco em caixas. Nas gavetas, prateleiras. Também na memória enquanto te espero em dias apressados.  Penso: gosto de ser, gosto da vida, gosto da filha, do filho. Do neto e da neta, da sobrinha, da irmã… Eu mesma me gosto. Tudo singular, mais bonito. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2019 – Torres

livros da mãe

sai correndo o dia…

2002 com LAURO

Saindo apressado: já se foi, e nem cheguei. Agitada neste fazer sem terminar, narrativo. Gosto. Eu assim mesmo…, espero. Escrevo, às pressas, no pensamento: sem lápis, sem teclar, sem caderno, nas beiradas da memória. Encontro amigos, aqueles que ficam a sorrir, não desaparecem não se apagam, comigo, assim como o Lauro, estão… Amorosos. E me espiam, apoiam. E não me deixam parar, então, escrevo. Estou com eles. Contigo. Eu te espero. Estás chegando. Tão bom! E espio o Xico: já faz tudo tanto tempo! Iberê, Stockinger Glauco Rodrigues, Scliar, Carmélio Cruz. E nesta memória com Lauro, com Célia Ribeiro (minha chefe, a vontade de escrever, artes plásticas, Flávio Tavares, ainda no jornal a Hora. Antes das demissões! Quanta história nesta minha memória quase estória…

shopping

A contar… Quando  dO Jornal Feminino com a Célia Ribeiro, Lauro Shirmer,  no jornal das vinte e duas, âncora. Dono do horário, lembro, ou seria das vinte horas? Uma noite participei, a televisão convidada vez que outras os novatos (exercício). Eles, Lauro e Célia, mimavam. Eu tão jovem! Visibilidade, juventude, liberdade e vontade! Boa experiência!  E eu citando em pleno programa Exupèry, cheia de opinião! O Pequeno Príncipe não tem idade… Depois: G.Bernard Shaw, Aventuras de uma Negrinha que Procurava Deus: 

Meu conselho é que você faço todo trabalho que lhe surgir pela frente, o melhor que puder e enquanto puder, e assim torne úteis e honrados os dias que lhe resta viver antes do fim inevitável, quando já não haverá nem conselho nem trabalho, nem fazer, nem conhecer, nem ser:

– Haverá um futuro quando eu estiver morta – disse a rapariga. – Mesmo que não esteja mais aqui, posso conhecê -lo?

 – Você conhece o passado? Se o passado, que realmente aconteceu, está além do seu conhecimento, como pode querer conhecer o futuro, que ainda não aconteceu?” (p.27) tradução de Moacir Werneck de Castro – Editora Globo  1949

Sim. Tudo remoto. Antigo. Verdadeiro nestas primeiras e apaixonadas, misturadas e misturas leituras. Ávidas. Pendurada nas estantes, limpo os livros, não resisto: leio um, abro o outro, e penso na moça, na sonhadora menina que eu fui/ era/ sou. Os encontros, as novas experiências de hoje e eu comigo. Lauro Shirmer e Célia Ribeiro! Tanto tempo!

Todos amarrados neste livro, neste texto. Uma memória dentro da outra. Eu nunca deveria ter abandonado o jornalismo nem a televisão, nem meus sonhos. Deveria ter voado com eles na minha pandorga. Sem lamentar: na memória dele a lembrança… “velhos tempos“! Quando me presentou este livro eu escrevia as memórias do Xico, e já gerenciava a Garagem de Arte / eles me prestigiaram na galeria . Jornalismo na Revista do Globo,  Jornal Feminino na televisão, tudo foi antes.  Enfileirados nas estantes, empilhados: livros velhos, e os novos. Memória escorregando, e eu enfiada em 2002. Quero agora. Que chegues logo! Elizabeth M.B.Mattos abril de 2019 – Torres, ancorada a te sorrir!

2002 com LAURO

abril, mês de surpresas

Limpar e lavar e ordenar, preparar o grande dia! O amanhã.  A cada peça uma volta no tempo, quebrei uma xícara preciosa, depois esqueci. Volto a pensar em histórias perdidas. Quebrei uma xícara,  lasquei um prato. Um copo está  faltando. Não.  Está  ali… universo  aos pedaços. E a memória grudada naquele vidro de perfume… Por que guardei esta flor? Não lembro mais. Bom que existem retratos. Tinta aquarela barro escultor e pintor – escritor e arte e beleza! Recortes: música e silêncio e voz. Estás  do outro lado.  Não.  Estás  aqui! Que dia tão lindo! Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2019 – Torres

louçaaaaaa

as mesmas ladainhas que se explicam

A vida mudou aos 48 anos. Eu estava em profunda depressão: minha segunda tentativa de ter uma vida  definitiva…, tranquila, para sempre…um casa com todas as implicações que pode trazer, terminavam. Não tinha mais cachorro, nem casa, nem jardim, nem árvores. minha filha não tinha mais pai. Não foi viuvez, mas abandono, o homem que eu pensava /imaginava/ apontava com caráter/ certezas/ sonhos, enfim, dignidade… demonstrava de todas as formas, com todas as palavras que eu havia cometido outro grande engano.

amorosidade

Pseudônimo

1.

Não lembro bem como nos encontramos: os textos deram as mãos. Vontade de ser livre, pessoa, idade, mutação. Lembro de ter sido alegre acaso. A rede nos segurou. Prendeu ao mesmo tempo. Estamos amarrados um ao outro mesmo quando não nos falamos. Alguma coisa mágica nossas mãos, e guardo o olhar. Eu te penso todos os dias A.

Perto do meio dia: tinhas que sair, buscar um neto, ou filho, posso errar. A história veio devagar com descasos; retomadas. Conversa longa, outra apressada. No tempo, guardada. Tratamos de rir. Faz dois anos, ou três: enorme este um, dois e três. Sempre. Torres se atravessa. Eu distraída. Tu menino. Inverto. Escondo. Volteio no prazer de lembrar… Lágrima seca. Tentamos, tu e eu, agarrar a juventude, liberdade. Atrapalhada, escondida memória, a minha. Brejeira, tímida, alegre, a tua.

2.

Atrás de um pseudônimo, escreves. Eu exibida logo a me mostrar. Brincadeira nova de voltar, reconhecer, agarrar e perguntar. Imaginar. Já eu a curiosar…  Quero saber. Encabulados ou medrosos. Amarrados. Risadas e sorrisos escritos. Expectativa. Talvez seja sempre assim quando masculino e feminino se encontram: livres e compromissados. Sou dos saudosos anos sessenta, sessenta. Ser jovem, céus! Dificuldade de explicar como éramos jovens naquele tempo. Esbarrar um no outro não era, necessariamente, se comprometer. Ou era? Eu queria ser moderna. Entender amigos e amigas. Afetos. E permanecer abrigada nas certezas. Entendo a gurizada: relações abertas, comprometidas sem ser, remexidas e prazerosas. Eles se mostram como são, sem medo. Ou ao contrário, ousam, assumem. Se o medo chegar, recuam, mas o desencontro, o fato, já virou passado e ponto. Depois. Mais tarde, outro dia já é futuro. Recuei antes sempre antes, e deste jeito canhestro, esquisito estacionei no tempo de segurar a palavra. E o vento levou… quantas alusões, paixões apaixonadas, trabalho, recomeçar. As mãos mudaram, os dedos não são os mesmos, apenas no sono do sonho voltamos. A pensar, reencontrar o amigo, o amante de amor, o passado, a ideia de ser outra vez aquela que fui. De certa forma, seria / ou é rejuvenescer no outro. O completo, a certeza fica incerta olho no olho. Eu, não sei como eu sou. Eles avançam, e recuam e se sabem, os jovens de 2019. Não nos imaginamos com oitenta anos, nem com noventa porque somos os mesmos de antes, jovens. Vontade de te ver. Teremos que fazer acontecer. Eu te espero, meu amigo. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2019 – Torres

Pseudônimo

1.

Não lembro bem como nos encontramos: os textos deram as mãos. Vontade de ser livre, pessoa, idade, mutação. Lembro de ter sido alegre acaso. A rede nos segurou. Prendeu ao mesmo tempo. Estamos amarrados um ao outro mesmo quando não nos falamos. Alguma coisa mágica nossas mãos, e guardo o olhar. Eu te penso todos os dias A.

Perto do meio dia: tinhas que sair, buscar um neto, ou filho, posso errar. A história veio devagar com descasos; retomadas. Conversa longa, outra apressada. No tempo, guardada. Tratamos de rir. Faz dois anos, ou três: enorme este um, dois e três. Sempre. Torres se atravessa. Eu distraída. Tu menino. Inverto. Escondo. Volteio no prazer de lembrar… Lágrima seca. Tentamos, tu e eu, agarrar a juventude, liberdade. Atrapalhada, escondida memória, a minha. Brejeira, tímida, alegre, a tua.

2.

Atrás de um pseudônimo, escreves. Eu exibida logo a me mostrar. Brincadeira nova de voltar, reconhecer, agarrar e perguntar. Imaginar. Já eu a curiosar…  Quero saber. Encabulados ou medrosos. Amarrados. Risadas e sorrisos escritos. Expectativa. Talvez seja sempre assim quando masculino e feminino se encontram: livres e compromissados. Sou dos saudosos anos sessenta, sessenta. Ser jovem, céus! Dificuldade de explicar como éramos jovens naquele tempo. Esbarrar um no outro não era, necessariamente, se comprometer. Ou era? Eu queria ser moderna. Entender amigos e amigas. Afetos. E permanecer abrigada nas certezas. Entendo a gurizada: relações abertas, comprometidas sem ser, remexidas e prazerosas. Eles se mostram como são, sem medo. Ou ao contrário, ousam, assumem. Se o medo chegar, recuam, mas o desencontro, o fato, já virou passado e ponto. Depois. Mais tarde, outro dia já é futuro. Recuei antes sempre antes, e deste jeito canhestro, esquisito estacionei no tempo de segurar a palavra. E o vento levou… quantas alusões, paixões apaixonadas, trabalho, recomeçar. As mãos mudaram, os dedos não são os mesmos, apenas no sono do sonho voltamos. A pensar, reencontrar o amigo, o amante de amor, o passado, a ideia de ser outra vez aquela que fui. De certa forma, seria / ou é rejuvenescer no outro. O completo, a certeza fica incerta olho no olho. Eu, não sei como eu sou. Eles avançam, e recuam e se sabem, os jovens de 2019. Não nos imaginamos com oitenta anos, nem com noventa porque somos os mesmos de antes, jovens. Vontade de te ver. Teremos que fazer acontecer. Eu te espero, meu amigo. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2019 – Torres