Chuva. Inquietação. A música muda o ritmo, posso dançar e… dançar! Confetes sonoros! Vento das folhas! Buganvílias se abraçam: brancas rosadas e avermelhadas! Jasmins espiam faceiros entre folhas miúdas e aquela orquídea preguiçosa toda florida! Ah! Eu me divirto com o faz de conta! Chover tem mistérios. O cinzento, parente do escuro e do entardecer leva o tempo, eu me transporto: país sem sol, gelado em qualquer estação. Gosto. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres
Mês: outubro 2019
na guerra
Em guerra com cupins! Eles acabam comigo, ou eu acabo com eles! Luta armada! Proibi a Ônix de se envolver no conflito. Beth Mattos – outubro de 219 com sol e sol, céu entre cinza claro, tão claro; e azul desmaiado. O amarelo explodirá no amanhã: o verde revigorado deve sofrer, eu sei!
da dor
Misturo a dor, remexo, e depois eu me escondo.
Não resolve.
Esqueci a janela aberta… Entrou chuva, olhar e saudade.
A dor voltou. Voltou mais forte e desenhou azul na minha perna. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres e tanta e tanta chuva que a cama está boiando no meu sonho!

Fernando José Valente De Senna Júnior Os momentos… ah os mínimos momentos. De cada desvão surge um perceber. Um nada a respeito e resistir. Outro dia olhei minhas mãos. Quando se tornaram pouco simétricas? Meus pêlos mais abundantes nelas. Minhas unhas…. estas meninas frágeis. E os muitos nós dos dedos? Agora contam dobradiças antigas. Sei que muitas portas com elas fechei e outras tantas bati assustado e pedinte. Virei-as. E as palmas já são fáceis de decifrar. Os calombos de lidas passadas. O enrijecimento de um dos dedos idêntico ao de papai. Dói. Mas sorrio ao perceber-me semelhante a ele até nisto. Nos rudes defeitos. Não. Não tenho sinais azuis nas pernas. Mas certamente estão sob as mesmas. Sinto me tão jovem neste corpo sexagenário. Tão acolhido em minhas rugas e os tais desvãos que citei. Comparo me à sacada que cedeu diante do avanço do mar. Acaso não serei a sacada? Acaso não serei o próprio mar? Borda e fronteira de mim… ah Menna… como provocas
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Elizabeth Menna Barreto Mattos Que texto loucamente perfeito! A cada detalhe! Eu pude te ver a examinar e sentir. Senti semelhança com ele explodindo amorosamente! Tu, meu amigo, a sacada… obrigada pela palavra, vou incluí – lo no Amoras para que os dois textos conversem. Adorei o Menna, Obrigada Fernando José Valente De Senna JúniorEdite ou exclua isso
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Claudionor Matos “… para mim a chuva no telhado é cantiga de ninar, mas para o pobre do meu irmão a chuva fria penetra no barraco e faz lama pelo chão.”
citações insones
“Tão diferente é meu hoje de qualquer dos meus ontens… que às vezes me parece que vivi não uma única existência, mas várias,inteiramente diferentes entre si. Pois muitas vezes, quando digo desatento, ‘minha vida’, sem querer me questiono: ‘Qual vida'” Stefan Zweig – Autobiografia: O mundo de ontem
Cada autor, cada leitura um susto e a certeza: tão igual o sentimento! O céu e a terra, o vento e o excesso de chuva que traz excesso de nostalgia, um cheiro de bolo quente, uma conversa inacabada, aquela angustia fervente porque preciso decidir, fazer e terminar de acertar e amoleço exausta em um minuto.
Tão diferente! Tão da insonia e do amor o meu J.M. Coetzee, reservei e pensei…
“Mas estaria disposta a discutir ideias com ele? Isto é o que interessa, na realidade. A discussão só é possível quando existe um terreno comum. Quando dois oponentes estão em disputa dizemos: ‘eles que raciocinem juntos, e raciocinando esclareçam suas diferenças, para se aproximarem. Pode parecer que não tem nada em comum, mas pelo menos têm a razão em comum.”
ainda, de novo, sempre
Posso deixar de entender, aceitar o que acontece tão devagar, o momento de ser parece apertado e insipiente. Esgotado!? Não desejo/não quero sentir assim. Prefiro a leveza confiante espontânea, abraçada, despida de intenção. Lisa. O frio não pode se instalar na soleira do verão. O sol se atrasa, a chuva se excede, eu me atrapalho. O vento grita tanto e tanto que eu o vejo em perigo nesta força sem controle. Não quero descrever o tempo. Quero chegar no teu abraço, no teu olhar surpreendido porque envelheço dentro da minha juventude a transbordar. Meu querido, não consegui te esperar colorida! Estou debruçada na angustia azul, ligeira da nossa fantasia… Fecho um dia no outro. Antes, ordeno e limpo (uma doença como outra qualquer!), os armários, as gavetas, os vidros. Encero as lajotas. Aqueço o corpo e me escondo no amontoado de cobertas coloridas, todas. É verão, tu me dizes. Eu não sei, respondo. Carrego outra estação nas mãos. Imagino que estejas distraído a caminhar pelo campo com os cães, ou a colher as flores, e aquelas frutas azuis… Gosto de te espiar indo e vindo, voltando. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres
“Você passa tanto tempo respeitando, que não sobra tempo para pensar.” (p.105) J.M. Coetzee Elizabeth Costello
o proibido
Silêncio e susto se avizinham. Limpo, limpo, aspiro, seco, lavo, e lavo. Obsessivo. Esparramo livros pelo tapete, descuidada.
Inquietude barulhenta. E a chuva do calor. Sou eu a pensar o proibido. Beth Mattos – outubro em Torres com tanta chuva! Necessária e importante tempestade…
água, água
Raios, trovões e tanta chuva! Venta. Vidraças fustigadas, pelas frestas, água e água. Transtornado desconforto. Será medo? Desacerto. Indiferença?
Chove, alaga. O trágico e a verdade se alternam. Eu me reconheço vulnerável, despreparada, sem voz. Sinto o cheiro do medo. Recuo, depois avanço. Dúvida, depois certeza. No envelhecer o bom fica perto, o descuido se afasta, e o medo persegue. Sinto frio. Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres
azul quente e redondo

Dia de sol azul, quente e redondo. Domingo penteado, cada pedaço de luz uma invenção. A lua revirou a noite, e bocejou e cantou, exibida! Minha insonia revirou a casa, e se perfumou com o jasmim miúdo da varanda. Tua voz me espanta e surpreende. Estranho telefonema! Desejos de verão! Ao mesmo tempo a força do tempo retorce a memória. És uma pedra obstáculo, preciso da liberdade, das minhas pequenas vagas e confusas escolhas! Elizabeth M.B. Mattos – outubro de 2019 – Torres

transcrever
Escrever como exercício de leitura, escrever para não esquecer consoantes duplas, e redobrar atenção, dificuldade a ser vencida.
“ Sa tête bourdonnait, ses artères battaient, et ses yeux étaient pleins des torrents de lumière. Rouge et or, sous ses paupières closes. Or et rouge, dans son corps. Immobile, engourdie sur sa chaise, un instant, elle perd conscience…” Romain Rolland L´âme enchantée
Seus olhos cheios de torrentes de luz, tomados de luz estão seus olhos, ou derramam luz teus olhos, ou ainda, teus olhos me iluminam. Dourado e vermelho, no teu copo… Teu corpo! E qualquer texto/poema atravessa o possível do som. Segue orquestrado pela beleza colorida. Interrompo o fluxo, desligo as luzes, fecho os olhos: preciso adormecer. Fuga estúpida / ridícula e escura. Paraliso. E consigo. Depois vou voltar devagar a tradução, e ao impacto. Ainda é sábado. Não tem chuva, e o sol apenas se esconde faceiro. E o dia feriado festeja crianças, e pais por terem crianças a festejar. E todos voltam para a Nossa Senhora Aparecida! E.M.B. Mattos – festejamos entorpecidos, esquecidos.
Nossa Senhora Aparecida
Neste dia de Nossa Senhora Aparecida minha mãe morreu, o pai perto do Natal. Num verão de tanto calor! Tia Joana no hospital, sadia, ia apenas fazer exames. Eles se foram nesta ordem, seguindo ao chamado. Viveram na mesma casa – rua Vitor Hugo, 229. Agregadora / generosa / amiga, minha mãe. Seguraram sua mão estendida os irmãos de criação Júlio, Clóvis e Telmo. Comprou a casa de Guaíba, onde moravam. As histórias se perdem, e a memória vai picotando no tempo. Somos a próxima geração nesta roda. A cada dia uma vibração extraordinária, porque sendo verão, o corpo aquece. Beth Mattos – outubro de 2019
