o que não é mais…

O tempo revirou tudo, não, não foi o tempo, nem foi o tudo. O sentimento se fez nó. Ferrolho, stop! Na ponta o limite, e…, depois, outro nó apertado, daqueles que levam anos para se desfazer, ou paciência. Perdi coragem e paciência, ou fui sempre assim mesmo apressada e distraída. Não sei. Com medo. Hoje tão fácil ter medo! Pertinente, adequado o medo. Um jeito de brincar de Estátua, Quantos passos? A delícia de cair na cama e dormir antes de fechar os joelhos. Estava a vida à frente/diante da expectativa. O anos demoravam tanto, e tanto para  o importante/ o justo/ o adequado o limite. E agora pergunto, timidamente, como estás? Com medo de receber a resposta. Estamos na vitrine, confundidos com os manequins (reler Cecília Meireles), ah! Nossos poetas! Deu saudade. Que loucura voltar no tempo! Beth Mattos – julho de 2020 – Torres

 

peste e guerra

Nunca estive na guerra, ou campo de batalha. O sangue a escorrer dos olhos… Mesmo cegos atiraram. Atiraram sem parar. Virulência absurda, parece ficção, mas não é. Querem  a guilhotina… Foi promessa. Céus!E.M.B. Mattos – Os ratos saíram das tocas, vorazes.  É a peste. julho de 2020

frio frio frio e silêncio

O estranho nesta reclusão é o gigantesco, enorme silêncio. Ele se prolonga: há todas as possibilidade de linhas telefônicas, videos, vozes e risadas, mas o silêncio é/fica/está maior, – fantasma grandão. Casado com o desânimo. Aquele entusiasmo de limpar, ordenar para o depois/um amanhã de alívio desaparece, e se esconde. Cozinhar perdeu a graça, e esvaziar as prateleiras, cuidar da casa uma monotonia silenciosa. Namorar não faz sentido / sonhar? Imaginar, ter ou ser ou possuir: remoto. Agora a chuva. A chuva esperada, necessária…, uma barreira. O vento sacode tudo, mas a água faz música nas calçadas. A janela é o posto. Amolecemos a imaginação em baixo das cobertas. Beth Mattos – julho de 2020 – INVERNO

Dinah Silveira de Queirós e Jorge Amado

Por que citar e nunca dizer? Porque as palavras escapam: tudo dito/escrito ou pensado. Claro! Não esta pandemia a sufocar, interferir, apertar a cabeça. Tortura premeditada (a surpreender), uma gota d’água a pingar. A solitária. Punição de crime que desconheço. Não aprendo a ver nem a pensar o principal/essencial. Este ter desmedido, obsessivo se dissolve em tocar, beijar, abraçar. Estar / não estás. Tanto demoras a chegar! A decidir.  Parecia simples e perfeito: rir juntos. Por que não vieste? Beth Mattos – julho de 2020 – Torres – prisioneiros, os dois.

Ia bem descuidada pelo braço de João Maria, subindo e descendo encostas, vencendo distâncias, de maneira a bem conhecer da natureza da ilha. Na parte oposta àquela em que desembarcamos havia alguns montes, todos com seus cimos de rocha; variavam as cores. Eram uns cinzentos, outros lembravam a ferrugem, e outros muito vermelhos se mostravam, embora todos no alto possuíssem uma touca de neve, brilhante e limpa.

– Logo que fique melhor desta maldita ferida, subirei a um desses cimos, para ver toda a ilha e maus além dela! falou João Maria.” Dinah Silveira de Queirós  Margarida la Roque

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Com o seu corpo cobriu o pudor, ela cerrou os olhos. Rompeu a aleluia sobre o mar de Itapoã, a brisa veio pelos ais de amor,e, num silêncio de peixes e sereias, a voz estrangulada de Flor em aleluia, no céu e no inferno aleluia!” Jorge Amado –Dona Flor e Seus Dois Maridos 

Escuto a tua voz a ler em voz alta, retomas o ritmo do amor nas leituras que já foram, mas voltam. Tu te escondes. Eu me escondo. Que importa? Eu ainda te escuto.

 

loucamente

O terreno proibido, a terra demarcada, o sinal de alerta. E interrompo o processo. Criar, ou  viver. O talento de dizer: poder. Sou prisioneira do sentimento. Apaixonada. Perdida com a perfeição de Nabokov. Investigo o texto nos detalhes. Chegou a edição L O L I T A, pela Alfaguara, vi o filme, depois nada. Leio devagar, retomo encabula, entendo o porque deste volume não estar nas estantes possíveis. Claro! Tudo me surpreende! O escritor encontra o caminho  da transgressão.: “Alguém me contou mais tarde que ela fora apaixonada por meu pai, e que se dera à leviandade de aproveitar – se dela num dia de chuva e esquecer – se de udo assim que o tempo melhorou”. O livro é escrito na primeira pessoa, uma narrativa confessional:” Cresci, menino satisfeito e sudável, num mundo muito claro de livros ilustrados, areia limpa, laranjeiras, cães amigos, vista para o mar e rostos sorridentes.” Alguém resiste a simplicidade, esta precisão e já o verbo crescente. Maravilha! Páginas iniciais. E chego a de número dezesseis:” De uma hora para outro, descobrimo – nos loucamente, desajeitadamente, desavergonhadamente, torturantemente apaixonados um pelo outro; e inutilmente, devo acrescentar, porque aquele frenesi de posse mutua só poderia ter sido mitigado com o efetivo consumo recíproco e a assimilação de cada partícula da alma e da carne do outro; mas lá estávamos nós, incapazes sequer de nos acasalarmos como as crianças dos cortiços logo teriam encontrado uma oportunidade de fazer.[…] Ali, na areia macia, a poucos metros dos adultos, passávamos as manhãs inteiras esparramados num paroxismo petrificado de desejo, aproveitando cada bendito desviou no espaço e no tempo para tocar – nos; a mão dela, semioculta na areia, arrastava – se lenta na minha direção, seus dedos finos e morenos num avanço de sonâmbulo cada vez mais próximo; então, seu joelho […] E o texto avança para a página dezessete assim, segue a desnudar alguma coisa proibida sentida, escondida. E segue: “Folheio e torno a folhear estas memórias desoladas […] Sei também que o choque da morte de Annabel, consolidando a frustração daquele verão de pesadelo, transformou – o num obstáculo permanente a qualquer outro romance por todos os frios anos da minha juventude.” (p.18)  Vadimir Nobokov Lolita

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panqueca obsessiva

Céus! Café da manhã orgia. Depois, o que posso fazer? Caminhar no chuvisco, dar prazer ao prazer. Tenho a calçada de manhã, de tarde também, antes de dormir, rápido, para olhar o céu… Bom que acordei cedo. Luzes acordam. A chuva  se movimenta forte e faz música. Beth Mattos

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Pavilhão de Mulheres

Eu gostaria de tê – lo conhecido quando ele era jovem gigante,  pensou Madame Wu. Ela continuou sentada, numa paz perfeita, absolutamente imóvel, as mãos cruzadas, os anéis brilhando suavemente em seus dedos. Isso mesmo, André quando jovem devia ter sido uma visão extraordinária para uma mulher. Ele era bonito mesmo na meia-idade, mas quando jovem devia ter sido um deus. Depois, ela sentiu pena daquela jovem mulher […] Mas, em algum lugar de seu coração, ela ainda pensava em André, com amor ou ódio. SE fosse uma mulher de coração pequeno, haveria de odiá – lo; se fosse uma mulher de coração grande, não o teria culpado e ainda continuaria a amá – lo. Ou talvez não pensasse mais nele. Era possível que ela estivesse simplesmente cansada e além de qualquer sentimento, como pode acontecer com as mulheres, quando seus corações e corpos são usados demais. Era a fraqueza da mulher que o coração e o corpo estivessem unidos; quando o corpo era usado demais, o coração também se desgastava, a menos que tivesse amor, como o que ela sentia agora por André. A morte a aliara do corpo dele. Se ele tivesse vivido, poderiam  perder suas almas na armadilha da carne. Ela ficou surpresa ao sentir nesse instante um súbito movimento do sangue.

‘Sou uma mulher, apesar de tudo,’ pensou ela, um tanto divertida. […] Notando pela porta aberta como o luar estava maravilhoso sobre as suas orquídeas, sob os bambus, […]  Pearl S. Buck – Pavilhão de Mulheres – (p. 250)

Quem não leu este livro? Madame Wu há de ficar para sempre na literatura mundial, como uma das mais fascinantes personagens femininas. Pavilhão de Mulheres é considerado um dos melhores romances de toda a extensa e brilhante bibliografia de Pearl S. Buck, Prêmio Nobel de Literatura em 1938.

pensei em ti

Penso todos os dias. Hoje mais do que ontem, e antes de ontem, e sempre… Foi o vento a sacudir as vidraças. A gritar forte nos meus ouvidos, violento. Foi o sol de hoje. O silêncio da tua voz gritando… Não era o vento, eras tu, meu amigo. E o frio de inverno lasqueado. Penso em nós dois, no teu abraço, no beijo lento. Volto às conversas perdidas! Eu te ouvia e…, e sem terminar deste dormir, no sono da insônia, eu te ouço. Sigo teu pensamento, teu inquieto, e completo galope de amor. Penso em ti tanto, e tão demorado!

Corri para o espelho, acendi todas as luzes para poder ver, procurei os óculos, eu me inclinei para enxergar. Desenho a estória. Desenho o tempo que não tivemos/ fantasiamos intenso, tu e eu. Eu contigo… Demorei no olhar triste de te pensar a me olhar também, assim, demorado, como sabes fazer quando me apresso a calçar os sapatos, enfiar os casacos, e enrolar o cachecol. O tempo passou…Posso repetir cem vezes, mil ou o número incontável, sem rimas, apenas dizer/ assoprar: idade não importa, nem a distância, nem o silêncio sonolento… Quero ser imprudente. Corro ao teu encontro sem cortesia, sem civilidade, sem lógica. O tempo vai/segue preso, acorrentado ao meu corpo: eu mudei, e teu olhar sem pudor, pois é…, não me deixa imaginar juventude. Não explico. Quero o que eu era antes, antes de saber que eu te amava e eu te amava, não imaginas o quanto!, na loucura deste verbo, assim mesmo, eu te amei… Quero entrar na tua fantasia, na tua infidelidade, no meu descaminho… Digo, envergonhada, no escuro do teu abraço… Bom teres pensado em mim!, eu sei, do mesmo jeito penso/pensei em ti, com desejo, não importa que faça vento, ou sol, ou tanto frio, ou tanta chuva! Penso em ti todos os dias. Elizabeth M.B Mattos – julho de 2020

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