voz desperta, obrigada

Entre tintas, odores, o movimento. Atordoada com a pressa… Nem pausa nem movimento, no imóvel ponto do mundo revoadas e pincéis. O mundo se refaz, eu olho, observo, vejo, mas não penso, acompanho. Deixo acontecer. Nem pausa nem movimento. Penduro o movimento, depois vou entender. Liberdade interior, desejo prático da mágica.

Ah! a beleza caminha, conversa e me agita. A onda, o mar, o vento! Renovada. Hoje volto a cozinhar e a pensar. Obrigada. As palavras se movem, a música se move no tempo, o tempo…

Amigo, lamento à infindável agonia das flores agonizantes. Estaremos juntos a baldear as águas! Vai ser um novo ano apenas quando o pesadelo nos acordar, urge esperar… Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2022 – Torres

invento a viagem

Se encontro a paixão, nada importa, fica tudo mesmo como o diabo gosta, na correnteza do rio. O dia sombrio dentro do sol. O sol se esconde atrás da cômoda, das cortinas, espia.

Se o tédio me agarra, o desânimo avança, volto à rotina, ao fazer consequente. Arrasto os chinelos. E neste pensar encontro o motivo, o viés… Sair para a calçada da rua Vitor Hugo, sentar no meio-fio a esperar as gurias. Logo, animada, levanto e vou preparar o jogo, risco a pedra, vou desenhar a amarelinha… Invento uma flor. E os jacarandas copados espalham a sombra. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2022 – Torres passeando por Porto Alegre.

sapo princesa e príncipe

Uma analogia com os contos de fada! Vivemos! A lembrança já não de alguém para alguém / não tem corpo físico, mas intensa emoção! A sensação, o colorido, a paciência e o espaço (castelo) estão no hoje a colorir a vida: distribui /promove / entrega a cada um o que importa. O sentir galopa. Como tu eu sinto o tempo, os anos amassaram o corpo, trituraram. E o cansaço é grande, pesado! Arrasto até a memória! Meu filho Pedro passou uns dias comigo, comprou uma enorme televisão, arrancou uma estante problemática, revolução: já na terça-feira virão os pintores e me assusto com o movimento e… céus! O sufoco desta desordem! O bom é que as buganvílias estão floridas, e, verdade, estou feliz e plena, animada. Sinto saudades do que foi sonhar o sonho, mas eu me acomodo na madrugada de viver. Borralheira: cozinho, lavo, passo roupa. Varrer o castelo, os páteos, encerar o assoalho, amassar o pão, amassar. E, por que não escrever? Escrever aos amados, escrever a memória que já espapa – fantasia, ou a ttua vida vivida, ou a imaginada. GLXXYKQ Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2022 – Torres

humor

A vida se embala no humor, aquela vontade de rir, ou de xingar, apedrejar, depois a cortesia gentil consigo mesmo, e, com os outros, por que não? Presentear com a delícia do almoço fora de hora: bifes e tomates, no meio da manhã. Horário!? Não existe hora certa para ser feliz, apenas somos, assim, sumariamente, felizes, porque as cores estão, adequadamente, azuis. ah! Os advérbios desnecessários e pontuais! Elizabeth M. B. Nattos – dezembro de 2022 – Torres e os efeitos da visita generosa do filho.

Reviravolta azul

Não era a cor preferida, de todas eu me inclinava para a luz do amarelo ou à vibração dos liláses, ou para o verde que não termina nunca. O azul. O verde se multiplica em nuances o dia inteiro a olhos vistos! De certo azul também. O mundo é colorido, presente surpresa com fitas e mágicas.

Ah! meu querido! Tuas marcar por toda a parte, nas fotos, nos livros anotados, nas músicas. Tu entras na minha vida por todas as portas – o som, a leitura, os olhos sobre o passado. Fico feliz e assustada. Fico sem acreditar que está acontecendo no meio deste cansaço de envelhecer, tu, outra vez, perto de mim. Uma desordem imposta remexe a vida… Amanheço possuída de paz, e te confesso, sonolenta. Assim mesmo te escrevo. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2022 – Torres

Temos que ser competentes para sermos loucos. A terrível loucura do idealismo. Tão perto dos festejos natalinos! Tão completamente, absorvida com a pintura do quarto, a nova estante, o novo gosto de tempo! Esta alegria que chega picada como confetes, e se enfia por todos os cantos, todas as dobras.

TERMINANDO 2022

Amiga silenciosa, ocupada. Deves estar a correr, a pontuar o aqui e o agora entre os jogos e o trabalho, entre o parque e o amado. Igual fico a pensar que não vou te ver, e, quando nos reencontrarmos (num remoto dia), sequer vais me reconhecer, tanto o tempo se sacudiu dentro de mim! Arrancou a alma, recolocou, reorganizou, e a pobre alma se imobiliza assustada. E eu? Sinto cócegas. Agitada, tropeço nos chinelos, esqueço as frutas no balcão, penso em laranja e tangerina quando as uvas estão chegando… E durmo assim agitada, com os travesseiros voando pela cama. E te escrevo longas e detalhadas cartas que desaparecem depois, tal é a desordem… Encontro um bilhete teu, depois uma carta, depois um retrato. A presença presente da amizade. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2022 – TORRES

Perdido da voz

Quando eu te escrevo, imagino que possas estar ocupado, integrado, feliz ou infeliz, mas, completamente, distante da minha voz… Impossível alcançar tua mão ou encontrar a palavra certa para me aproximar. Algumas distâncias se tornam intransponíveis, o que foi tão fácil, quase banal, falar e contar histórias para ti, e tu contares dos sentimentos audaciosos, e, também daquela juventude tempestiva! Ah! Eu fazia conexões impossíveis! Aquela tua juventude era fatia perfeita entre sabores e fazeres culinários, a minha debruçada na janela a ver a banda passar… Colorido do dia diferente, no mesmo dia, lado a lado da memória. Ah! Tenho saudade sim. Não sei se tu podes sentir este cheiro nostálgico no que te escrevo, se é que te escrevo. Uma inibição na exposição de feira aberta! Represei este sentir: o escrever, o entendimento, e até o emocional respeito por estares a sofrer enquanto atravessas tempo incerto. Não sei. Quando te escrevo, pelo Amoras, registro o que faço, espio. Estou inteira: corpo e pensamento, mas não estou… A fantasia é a máscara, evidente, obscura: meu declarado amor. Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2022 – Torres no meio das mentiras KJMCLYW

às vezes

às vezes eu sonho teu sonho: voltar a estudar, voltar no tempo de acreditar no sol mesmo quando a tempestade alagou /encheu a terra… tanta água, já estou com sol.

não posso te dizer o que sonho na /com tua vida, apenas dizer que eu sonho teu sonho.

quero te dizer mil vezes, ou um milhão de vezes, te cuida!

presta atenção! e te cuida… Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2022

amado amor, te cuida! atenção! olha para todos os lados, cautela!

quem sabe tu me sonhas também, e, nos damos as mãos!