és um amor perdido

És um amor perdido não esperava encontrar“. Indigno ou achado amor. Perdido achando. Jogo de palavras brinquedo/ estória no jogo. Amor amor. O que é mesmo que sabemos de/ com /sobre amor. O toque do beijo. Aquela coisa física inexplicável e fugaz “acordando do sonho acordado que sonhamos juntos“. E não existe mais nada que estes versos a martelar sonho insônia tristeza nostalgia apatia tristeza. E  lembranças de amores amados encanto do encontro com outro, o não amor. O que são se já não são? Outro beijo outro caminho descaminho. E me pergunto por que invadir entrar insistir se te escondes no achado. Eu me perco neste não / descaminho “ouvindo o marulho do mar.” Afinal quem sou eu que não sou que na sombra sofro  o desamor deste nada. Fantasma errante que se assombra. Não sabe o rumo, assombra. O que é mesmo viver e viver nesta asfixia de dor e de nada. “Juventude de dois velhos namorados,” ou de dois enamorados velhos. Elizabeth M.B. Mattos

Beth Albertina ElizaBeth

PEDRO

Chegou Roberto. Chegou o livro. Obrigada. Em remota lembrança escuto tua voz dizendo/mencionando o projeto. Também lembrei de nós quatro: Fátima e o Flávio …  Tu tão meu herói …  Lembro deste livro. Linda a edição.  Feito criança patino na saudade. Saudade do Rio, deste Rio de Janeiro que amo. Rio de Janeiro alegre felicidade sensação de juventude livre. Copacabana sem Ipanema. Tenho que me levar/ voltar como turista. Ler as cartas que não me escreves, sem mapa delimitado. Tenho ido/priorizado Paty do Alferes. Apego enviesado ao Geraldo. Sim, fico plantando árvores e me esticando por lá. Sou enraizada / grudada na nostalgia. Bobagem isso … a Viúva Lacerda não existe, a Laila não existe, Geraldo foi quase remoto, Carlinhos Lyra não canta, o Colégio da Providência não existe nem a Notre Dame existe … Rio de Janeiro foi um sonho dentro de alguns pesadelos inacreditavelmente assustadores. O colorido generoso ainda escorrega na memória. Estórias de contar a Prudente de Morais com aquele mar verde a me dizer bom dia e seguir meu último bocejo. Leblon, não a Gávea. Depois Búzios, e toda a geografia recheada de histórias Beth, Albertina e Elizabeth viajando pelas quadras jardins praças e no mar. Elizabeth M.B. Mattos

Pedro  e o Leonardo na Livraria Travessa. E o Rio de Janeiro o meu Rio de Janeiro  Pernambuco, e Recife, e Torres e o mar,  sempre o mar, a praia e o mar

PEDRO MESA

LEO

lattoog e AnaVITRINE

A juventude de volta

Quando  nos reencontramos com o amor depois dos 70 anos… O que acontece? A vontade insana da juventude nos abraça. E  não se pode vender a alma pro diabo. Há que resistir, aguentar o tranco. Viver tem destas surpresas. De repente sai tudo do lugar.  Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2017 – Torres

OLHO para um Lado

olho para o outro lado
olho para trás
não há mais ninguém
então é comigo mesmo ?
quem és tu que acenas
chamando ao longe ?
não consigo discernir
vou caminhando na tua direção
vens caminhando na minha direção
vamos nos aproximando
cada vez mais
um ao encontro do outro
atravessando eras

Com a aproximação
agora te reconheço
agora já sei quem és
apalpo meu próprio corpo
mal consigo acreditar
és um amor perdido
não esperava encontrar
a cada passo que damos
ficando sempre mais perto
vamos ficando mais jovens
vamos ficando despertos
acordando do sonho
sonhado dentro do sonho
acordado que sonhamos juntos

finalmente paramos
um na frente do outro
totalmente rejuvenescidos
adolescentes na praia
nossos sorrisos se abrem
no mesmo instante
estendes teus braços para mim
eu seguro tuas mãos nas minhas mãos
nos olhamos bem dentro dos olhos
mergulho meu olhar no teu olhar terno e eterno
verde-mar que nenhuma fotografia captura
e entramos no espaço-tempo infinito
entre, galáxias, nebulosas, constelações e estrelas
acessamos a imortalidade da mente de Deus
antes da criação do mundo
e saímos pacificados e iluminados
caminhando pela beira da praia em silêncio
de mãos dadas na eternidade
jogando conversa fora
rumo ao Mampituba
ouvindo o marulho do mar
vendo o que as nuvens dizem com as suas figuras
desenhando corações com nossos nomes na areia
a juventude de dois velhos namorados “

José Celso Aquino Marques

abraco-modificadopelo-chao

Celso, Celso ! Lindo o poema! Voltei num tempo que sequer vivi, mas voltei para te encontrar. Estranho! Apenas senti. Muito estranho tudo isso. Justo neste momento de perda, o encontro sem encontro, eu reencontro.  TRaavadaaaaaa, sem tempo. Filhos netos chuva sol trovões eu cansaço desanimo e outros risos. Tudo acontece ao mesmo tempo. A vida assim nesta pressa toda de ser vida… (Pensei em transferir o poema pro Amoras,  já estamos no Amoras.) Obrigada por estares, afinal, me devolves o mar, e me levas a fazer este passeio pela praia. Muito bom caminhar contigo de mãos dadas em direção ao rio Mampituba, e, o mar a conversar.

A corrupção original

O mundo se descreve pelo pecado original. Culpa da mulher. Da maçã. E tudo se reescreve na tentação. A corrupção se inicia de dentro para fora na relação primeira. O poder de transformar. Erradicar o veneno. Compreender o processo que leva/envergonha/ arrasta o país até a tal latente corrupção. O que existe dentro de cada um? Preciso entender quem sou/e como sou. Lá estará a resposta, ou a possível explicação. Detectar/aceitar/ corrigir o início desta estagnada corrupção que paralisa. Esta corrupção interior, particular, a quebra, a maçã tentadora. Sou conivente com esta duplicidade. Sigo a necessidade de sobreviver absorvida pelo Eu. O que me conduz? Minhas próprias histórias mal contadas.  Enfim! Fica a pergunta. Maldito poder adquirido interno  e logo absorvido. O poder potencializa foco desejo. Situação cômoda qualifica esconde  Não importa quem se arrasta. Egoísmo cego engole o bom senso. Nós? Eu? Quem? Escravizamos sentimentos/ aviltamos relações/ chafurdamos na lama. Queremos mudar ou lamentar? Consolo no acaso. E ninguém é responsável.

Encharcado de lágrimas

Chore e chorará sozinho! – Que mentira! Chore e achará milhões de crocodilos para chorar com você. O mundo está sempre chorando. O mundo está encharcado de lágrimas…, mas a alegria, a alegria é uma espécie de sangramento estático, uma espécie desgraçada de contentamento que transborda por todos os poros do nosso ser. Não se pode alegrar as pessoas apenas sendo alegre. A alegria tem de ser gerada pela pessoa: é ou não é. A alegria se funda em algo muito profundo para ser entendido ou comunicado. Ser alegre é ser um homem louco num mundo de tristes fantasmas. ” Henry Miller

A chuva parou e o mundo ficou mais calmo. Ontem a angústia. Hoje a doçura de me saber em casa. Vou curar esta fobia de ir/sair, ou melhor, do não movimento. Encontrar o eixo e estar no ir/vir/voltar/chegar.

A ideia do quarto-alugado é boa, um lugar pequeno. E coloco gerânios na janela. Eu te gosto. Nunca esquece disto, mesmo no silêncio. Sou esquisita, apenas isto. No reencontro, a fantasia com lantejoulas que só fazem sentido neste meu vestido de princesa. Sei que o príncipe não tem dor, nem sofre. Para eles as hortênsias, descabelados crisântemos não estão no jardim real. Apenas rosas, orquídeas, cravos amassados, vermelhos, sombra e prazer. As conquistas são galantes. Não existem jornadas, nenhum esforço. Tudo está completo para o príncipe, e de certo, para a princesa também. Elizabeth M.B. Mattos – abril de 2017 – Torres

Meninos velhos

muitas pipaspipaspipa barco

Não irei viajar pela tua mão nem te seguir, não assim pendurada na pandorga. Eu te queria/ eu te quis escondido na caverna, e vieste. Se o mundo inteiro te chamava/atraía, sou/era eu teu singular, tua terra. Estupefatos! Espias velhos amores mais ou menos amados, e eu os amados mortos, despedaçados, mas paradoxalmente vivos. Vivos neste quintal transmutado, o laboratório. Vivos neste porão de memória, a tua e a minha. Rogéria nos cuida, e ficamos os dois escondidos.

Sou eu que tenho que contar esta história de amor descabido, estranho, e perdido tão logo achado como se fosse bruxa, feiticeira malvada. Tu me traíste com este franzido de nariz, este teu olho apertado e este sem jeito que tinhas para tudo que não fosse brilho. Aonde te escondes com esta vaidade palpitante e este poder partido majestoso. Telas aquarelas histórias de estórias misturadas.  Aonde é este teu castelo sem gramado, sem guerreiros? Encontro bem a jeito de amantes que se amam sem pertencimento. Chocolate vinho uísque quiche maçã e o inusitado. Telefones tocando. Respiramos dissemos escrevemos gravamos e traçamos.

Ainda não criei coragem para escrever o depoimento sobre a minha vida privada, mas já estruturei o esqueleto do texto, que será na primeira pessoa. E tu gostas, de usar o português lusitano: ‘estou a ler’. ”

Descalços voltamos a Torres e dançamos. Dançamos nas dunas. Sorrindo Ah!… estes dois meninos velhos. Elizabeth M. B. Mattos – Torres. 2017

Pelo menos

Envelheço mas o sol pelo menos não me pune. Continua a nascer a cada dia.”

Pelo Menos, P.H.Filho

A HORA“E como vou morrer o mundo morre. No agora vem o ontem, e outros ontens, já sou tantos! Soa a hora. De acordo. Mas não sem sofrer a pena de abandonar tanto mundo. P.H.Filho

“Amar sempre me surpreende. Depois é que vou amando, mas não sem comprovações. Não é de ti que eu duvido. Me desdobra é estar amando sem sequer ter decidido nem poder deixar de amar.”

SURPRESA P.H.Filho

DESILUSÃO de ÓTICA

“Fecho os olhos e dou com o fundo do abismo. Sumir nele, fugir?

Abro os olhos e desapareceu …”

Paulo Hecker Filho, Aqui e Agora,  Porto alegre, 2003. Editora Alcance

Não haverá outro apartamento

poltrona-couro-nat

Grande, bem grande. E se prolonga no que deveria ter sido uma varanda, agora envidraçada. A luz se espalha na peça. Além da cadeira de balanço tristonha a reclamar da palha escabelada do assento (precisa ser restaurado) o elegante armário de louro explica/ agiganta o quarto. Uma mesa redonda com diâmetro para acolher uma bandeja que comporte uma xícara de café um açucareiro um bule pequeno e um prato para dois brioches. Luz de um abajur de alabastro, uma escultura com dois personagens, um inclinado sobre o outro, voltados para a pequena cadeira estofada de couro castanho avermelhado. O lustre central tem cúpulas com listras apertadas esverdeadas, estampa que se repete na colcha da cama. Um grande tapete persa macio ilumina o quarto com suas faíscas vermelhas, e nas laterais da cama os escuros com suas franjas penteadas. Um bom colchão acolheu o jeito moderno.  Estrutura de madeira que se faz cabeceira. Estante horizontal.  Livros, caixas de tamanhos diferentes, pequenos objetos. Livros. Mais livros. E, nas pontas das cabeceiras outros pés de alabastro com cúpulas discretas. Almofadas, muitas almofadas.

cadeira de balanço gerdau

Francisco apoiou o cálice de vinho na mesa. Vestiu o suéter que estava nas costas da cadeira, e sentou esticando as pernas.  Descansou a cabeça, apertou os olhos. Desenhou mentalmente o projeto para o novo apartamento. Tirou do bolso uma caderneta pequena e fez contas. Sempre precisou de muito espaço para viver, sempre caminhou pela casa contando as peças, orgulhoso da largura das paredes, certo de que este seria o seu lugar definitivo. Não importava estar sozinho. Sorriu para si mesmo, não haverá um novo apartamento, disse em voz alta. Elizabeth M. B. Mattos, Torres.

Mesa-Redonda-em-Madeira-Maciça

Vaidosas e cintilantes amarras

bonito

 

Fico aqui falando comigo mesma e pensando nisso e naquilo. No que fomos/somos: um somado ao outro. Esgaçados, intensos, adolescendo em praia, sem segredo. Eu a me sentir culpada: coisa minha. Grande culpa bíblica escancarada. Tão falante e murmurante sem dizer o que importa. Deveria ter ficado ao teu lado ouvindo devagar esta alegria. E teu rosto aberto em sorriso a me espiar. Sempre apressada corri para este longe que sou eu.  E tudo que queríamos era mesmo estar/ser. Que castigo!  Não precisavas ter morrido apressado, também tu, inquieto. Por que fugiste?,  … assim neste teu mal súbito,entre um boa noite e um silêncio. Debruçada sobre mim mesma te imaginei já dormindo e me consolei no meu próprio sono. Amanhã. E não houve amanhã.  Atravessei a distância, exausta.  Eu dormi, e tu morreste. O começo amado, não o fim, não desaparecer. Não morrer. Mas os medos saíram correndo apressados, antes de mim. Correndo assuntados como se pudessem compreender o grito. E na palavra, na voz, na volta seríamos dois.

Sabíamos que não eram de amor as tuas prisões, não eram amorosas, mas apenas vaidosas e cintilantes. Elizabeth M.B. Mattos

Labirinto

Não encontrei o livro A trégua de Mario Benedetti. Os livros caminham livres ao impulso de qualquer mão, eles se mudam … Desisto de procurar.

Estou sempre a comprar/ procurar, os mesmos, sempre os mesmos. A viagem não termina. Bons livros voam. Este LABIRINTO é de Jorge Luis Borges em Um ensaio autobiográfico, partilho o descaminho. Abro portas, fecho janelas. E digo obrigada, merci beaucoup. “Num dia do homem estão os dias do tempo, desde aquele inconcebível dia inicial do tempo.Não haverá nunca uma porta. Estás dentro da terra. E não tem nem anverso nem reverso nem externo muro nem secreto centro. Não esperes que o rigor do teu caminho que teimosamente se bifurca em outro, que teimosamente se bifurca em outro tenha fim. É de ferro teu destino como teu juiz. Não aguardes a investida do touro que é um homem.” Que Borges me perdoe! Não haverá biográfico, nem dança, nem desenho, nem recortes, nem beijos.

Não existimos. Não esperes nada porque tudo lhe foi devido. Descansa.

Elizabeth M.B. Mattos

bibliote inglesa com vidro