Querido, eu te escrevo com a pressa do amor e a pressa da saudade: estás demorando a chegar. Faz tanto frio! Nunca senti o frio assim tão apertado. Não, não te inquieta. Roupas adequadas, entre acolchoados de penas, e alimentada. (risos) Estou a te escrever bobagens! É que tenho pensado menos e as leituras estão congeladas, apertadas, sinto saudade maior com este frio. Retomarei. Retomarei o sol quando entrares! Não demora tanto! Apressa as urgências e volta! Um dia, dois, meio dia aplacará minha saudade! Depois retomas teus afazeres. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2022 – Torres
E cuida-te. Fecha bem as janelas, e não deixa de te alimentar. Escreve: um bilhete basta, não, manda notícias, detalhes, uma carta demorada. Um beijo. Eu te gosto tanto!
Tem um peso no dia, não em qualquer dia, mas este dia mais do que outros, nele a queixa e o mundo se descreve com espinho, com rasgo: considerações doídas. Palavras não conversam agridem! E a noite, a noite se apaga exausta, sonhos e tensões do outro lado, inúteis…, inúteis. O brilho que eu percebi/idealizei/ enxerguei nas árvores, no cheiro do café, no que seria mais, se dilui, desaparece num imaginário rancoroso. Eu carrego/levo/arrasto um peso imaginário / e um sono fora do lugar, a escapar de qualquer vibração. Conviver tem estes efeitos curiosos! Ah! os livros, abençoadas leituras! Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2022 – Torres
“Há tardes que ficaram na minha cabeça, conversas de seis horas consecutivas, passeios e tédios a dois, tédios, tédios! Todas lembranças que parecem ter cor vermelha e queimar atrás de mim como incêndios.” (p.62)
Precisão. Inumeráveis tédios nos seguem/perseguem, então, o ‘basta’ / o não aguento! Não posso! É imperioso, fundamental para que eu não me esqueça de mim…, não me deixe morrer! É fácil se deixar acontecer, levar… Não somos fardos ou doces! Às vezes frágeis, fracos, mas somos nós! Eu lembro da necessidade emocional de ser gentil! Ser gentil me parece grande defeito!
“[…] Eu sou um homem-pena. Sinto através dela, por causa dela, em relação a ela e muito mais com ela. Você verá a partir do próximo inverno uma mudança aparente. Eu estarei três invernos usando usando alguns escarpins. Depois entrarei de novo na minha toca onde estourarei obscuro ou ilustre, manuscrito ou impresso. Há no entanto, no fundo, algo que me atormenta, é o não conhecimento de minha medida.” (p.62) Gustave Flaubert Cartas Exemplares (Croisset, noite de sábado, 1 de fevereiro, 1852)
Minha medida, o meu jeito próprio de ser, o meu caminho, o meu, não o teu. E, ao mesmo tempo, a necessidade enorme, gigante do nosso. Aquilo que fazemos juntos, e as ausências traiçoeiras, e a memória mendiga e apertada, ridícula! Como posso me intrometer no teu conforto amigo? Saber e querer e despejar e possuir quando posso tão pouco! Quando podes tão pouco! Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2022 – Torres ( um pouco de sol, mas logo sombrio outra vez, e tão frio! Gelado inverno de consciência!
Tumulto interior, desordem na casa, poeira, e a coragem diminui…, tenho que recomeçar a pescar a coragem, possível alegria, e claro, não ficar divagando na frente do espelho, nem imaginar, imaginar o impossível! Realidade, realidade! O sol veio e me alegrou, mas já deu uma sombreada! Ah! nunca o inverno foi tão azedo! (isso é possível? inverno azedar? pois é, o meu azedou) Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2022 – Torres
Estes casamentos que acontecem tão depressa! Histórias se misturam: pode ser apenas um, aquele do primeiro encontro, mas mesmo este único será, assim mesmo, vários.
Agora, neste inverno forte, em baixo das cobertas, congelada no tempo, escuto /leio alguém te fazer um elogio. Tens uma imagem, uma história. És sobrevivente. Acometido por ideias/pensamentos/ e com voz dizias a verdade, aquela verdade que ninguém quer ouvir. Foste sentenciado, anistiado, amado, e vitorioso. De batalhas sobreviveste, lutando na linha de frente, nunca nas trincheiras. Mas não quero te dizer/narrar, tantas vezes escreveram sobre tua guerra, e teus livros, focam o tempo, eternizam aqueles anos… Quero me contar, me explicar, ou me dizer mentiras, inventar histórias. E, como sempre faço, escrevo cartas. Esta, provavelmente, não lerás. Já não importa. Não terei resposta. Aliás, os envelopes, tuas palavras corriam por dentro e se derramavam pelo apartamento, e se debruçavam nas sacadas, espiavam o mar, adoravam o vento, e bebiam sopa, Mozart e a saudade! Eu sempre mastigava saudade, por isso estás vivo. Dentro de mim.
De meus casamentos, o contigo, foi iluminado, fácil, vibrante: cheio de pequenas/curiosas histórias: pactos. Narrativas. Somos, tu e eu, este amontoado de narrativas. E deveríamos estar juntos ainda hoje. Tu me salvaste. Tu me deste o sal e a garra, e os instrumentos. Fui cruel, como todas as pessoas. Como te amava muito e muito e muito, eu também te maltratava dizendo o impossível de se dizer, afunilando, alargando sentimentos e fantasias. Céus! Cruel eu fui, mas tu vias em tudo o meu derramado amor. E os abraços e os beijos superavam o tempo. Elizabeth M.B. Mattos junho de 2022 – Torres – seguirei escrevendo. Uma carta, outra.
“O tema é tratado principalmente na esfera civil ou enquadrado como crime contra o direito autoral, como descrito no artigo 184 do Código Penal, alterado pela Lei 10.695/03. O professor Paulo Sérgio Lacerda Beirão, diretor de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde e presidente da Comissão de Integridade e Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), destaca que a própria definição do plágio tem mudado ao longo da história, confundindo-se com a inspiração.
Por exemplo, o dramaturgo inglês Willian Shakespeare foi acusado de ter plagiado Romeu e Julieta de outro autor. Na verdade, na época, haveria cinco versões diferentes do drama, com pequenas alterações e novos personagens, sendo uma prática comum na época, contou. Outro escritor clássico, o espanhol Miguel de Cervantes, autor de Dom Quixote de La Mancha, chegou a escrever ao rei da Espanha contra as cópias e versões que sua obra sofria.
Segundo o professor, se o caso de Shakespeare ocorresse nos dias de hoje, provavelmente acabaria nos tribunais.” Google
“Penso que ser uma pessoa sempre foi a mesma coisa, a despeito de todas as transformações pelas quais a cultura passou. Mas este tipo de experiência, que outrora tinha uma importância absoluta, meditações a cerca de Deus e do divino, rituais e culturas ao redor do sagrado, visões e êxtases que surgiam em vidas oferecidas em caráter total e completo a Deus e ao mistério de Deus, essa vontade de encontrar sentido, essa intensidade violenta com todo o espectro de pressentimento, atmosferas e sentimentos, não é mais buscada, e quando é, tudo acontece completamente na periferia, à margem da sociedade, longe da nossa atenção, talvez de vez em quando nos vejamos na condição de testemunhas de um acontecimento estranho e antiquado, como entretenimento na TV, você é monge? Como é não fazer sexo? Quando fechamos as portas à religião, fechamos a porta também a nós mesmos. Não apenas o divino desapareceu, mas também os sentimentos fortes que eram a ele associados. A ideia do sublime é um eco longínquo da vivência do sagrado, sem o mistério. O anseio e a melancolia expressos na arte romântica são justamente o anseio por este tipo de vivência, e o luto por sua perda. Pelo menos é assim que entendo a atração que sinto em relação ao elemento romântico na arte, às breves mas intensas tempestades de sentimento que isso é capaz de desencadear, e a canção de alegria e tristeza que de repente surge em mim como um céu quando vejo algo inesperado, ou algo perfeitamente comum de maneira inesperada.” Karl Ove Knausgard (p.572) Minha Luta 6 – O Fim
A vida é estranha Manhosa, marcante Você oferece um pedaço Recebe outro, um diferente Nunca igual, equivalente Recebe bocado, naco, porção Recebe pedaço mistério Silêncio, presença, canção Chamego, carinho, caminho Pedaço olhar, pedaço distância Precisa desembrulhar, rever Desvendar passos, pegadas Abrir os olhos, piscar, verter Sorrir, sentir, faltar, saber A vida é estranha Estrada, chuva, entranha. (Luiza M. Domingues)
Resposta:
A vida pode ser estranha…,mas, na realidade não. Ela é simples…,básica. A pimenta, as diferenças e estranheza são das pessoas. Essas, sim, são bem estranhas… Estranhas porque são diferentes. Nunca iguais a gente. E assim, na vida que é simples, a gente se estranha com as pessoas. E assim, tem um trabalho enorme para viver… Mas como a vida é simples, a gente vai tentando driblar essa gente chata e difícil ,e, tenta assim, ficar feliz! (Joana Vianna Moog)
Entre Recife e Rio de Janeiro considerações sobre a estranheza da VIDA – junho de 2022
Ainda há/existe/tem alguma coisa que queres perguntar? Faça logo, talvez eu ainda tenha uma boa e longa resposta para dar…, e juntos, atravessamos o para sempre, juntos. (ora, teu tempo tempo tempo tempo!)Por que pergunto? Meu querido, estou mais atrapalhada / um pouco desorganizada, e, até as respostas vou ter que procurar nas gavetas antes de sentarmos, tu e eu, para o chá. Elizabeth M.B. Mattos – junho de 2022 – Torres
Ulisses, não há nada de muito diferente. Também você, também você, como eu, quer viver numa ilha. Já viu e viveu de tudo. Talvez um dia eu lhe diga aquilo que sofri. Todos dois estamos cansados de um grande destino. Por que continuar? Que importa se a ilha não é aquela que você procurava? Aqui nunca acontece nada. Há um pouco de terra e um horizonte. Aqui você pode viver para sempre.
Ulisses:
Uma vida imortal?
Calipso
Imortal é quem aceita o instante. Quem já não conhece um amanhã. Mas, se se gosta da palavra, pode dizê-la. Você chegou mesmo a esse ponto?
Ulisses:
Pensava que fosse imortal quem não teme a morte.
Calipso
Quem não espera viver. Certamente você está perto disso. Também sofreu muito. Mas por que esta fixação de voltar para casa?
[…] Mas se você não renuncia às suas lembranças e sonhos, se não deixa de lado a obsessão e não ceita o horizonte, não se livrará daquele destino que conhece. (p.130-131) Cesare Pavese Diálogos com Leucó
Envelhecer tem detalhes curiosos, o plissado e o babado entram na moda. O espelho identifica os detalhes e vamos pinçando o jeito novo de vestir, de colorir! Uma dança bem curiosa, envelhecer! O bom são as certezas! Adoro saber de ti e das tuas voltas! E confirma: te amo, mesmo plissada! Elizabeth M. B. Mattos – junho de 2022 Torres