anos e datas e contas

As contas definem a história e derrubam emoções, amarram o tempo. Denise menciona o vento Minuano! Verdade! Como pude esquecer? Ele dinamiza o Rio Grande do Sul! Casacões e frio danado… Colorida memória. Fui fazer as contas! Céus! Danada confusão. Apertados os nós cegos. Memória divididas por cercas de cipreste, de rosas, de hortênsias, cercas do medo, cercas da expectativa, as cariocas. A vida fatiada e dividida. Vou desamarrando os anos numa avidez obstinada! Erro as contas. Uaiiii! Não sei mais somar nem diminuir! (risos) Vou logo para as datas de nascimento dos filhos! Dos quatro. Os cariocas e a gaúcha! Eu me digo tanto carioca! De onde arranquei esta ideia? Vai haver/chegar um tempo que Luiza (a caçula) se dirá pernambucana! Estes emaranhados fazem, a bem dizer, a cerca de arame farpado! Cuidado! E lá fui eu a constatar que quarenta e dois anos de Rio Grande Sul pesam, abertamente, contra os quatorze anos de Rio de Janeiro! Não vou dividir mais, mas as multiplicações e divisões gritam! Quantos anos em Santa Cruz do Sul / Rio Pardo, quantos na rua Vitor Hugo em Petrópolis de Porto Alegre e quantos anos em Petrópolis do Rio de Janeiro? Estaciono na Porto Alegre em que morei na casa da irmã Tânia no Moinhos de Vento. E Torres? Torres se perpetua porque arrasta na memória os verões de criança, os da adolescente. Torres abre um parêntese quando penso no trabalho. Outra tabela: os empregos e a professora. Os de estudante também dividem o tempo e a formação. As casas. Tudo plural. Nada um, mas dois, ou três e as contas se amontoam, as histórias importam mais ou menos dependendo da emoção. Como fazemos as contas? Como posso agarrar um fio e seguir, não…, conta a história, a verdadeira história, complicado: lanternas, lampiões, velas, holofotes, sinaleiras / semáforos e a música. Vou ter que respirar, fazer gráfico! Enfim! Cada dia se transforma num evento! E nem vou mencionar o amor dos amados / das paixões violentas, daquelas mansas e doces que se eternizam e do emaranhado de alegria e felicidade! Em qual galho eu me agarro, por onde começo? Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – Torres – Denise Riet és um facho de luz! Obrigada! Interlocução!

alegria

O que a alegria faz? A alegria nivela / desmancha / transborda, a alegria desmancha tudo o que é difícil, tudo o que geralmente nos limita ou nos impede desaparece na alegria. O que podemos fazer quando o improvável nos surpreende? Diminuir o passo, e seguir o corpo! Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – ainda Torres, num dia em que o sol transborda

tempo de tanto frio!

Ou foi sempre assim no inverno, e, eu não me lembro… Ou quando criança a gente nem sente a temperatura, tanta pressa temos de crescer e brincar. Depois seguimos a brincar, como se a vida fosse mesmo parque de diversões! Adolescência vai a galope nas ditas “conquistas”, bem, é hora de admitir, também envelhecemos, com a sensação palpitante de juventude, como explicou A. Podemos tudo, então, vez que outra, somos laçados! E acalmamos! Hoje! O sol me disse que posso me superar, caminhar/passear foi bom e gostoso. O vento invernoso, claro, mas o prazer grande! Um dia de sucesso! Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – Torres

devagar eu acelero, o frio se aquieta, e, eu me sinto, especialmente, feliz

botões de rosa do jardim de Marina Pfeifer

forma/meio/caminho

É por meio dos sentimentos que mantemos nossos laços com outras pessoas, e são os sentimentos que são bons ou maus, não dias. Parece tão óbvio, mas eu desvio o sentimento a dizer que hoje não tem sol, ou vento a tarde inteira, a noite foi assustadora. Elizabeth M.B.Mattos – julho de 2022 – Torres

se eu lembrar como foi

Esta memória esfarelada, ‘agarrada’ em detalhes, ou picotada. Fotos. Palavras soltas. O fragmento de uma carta. O parágrafo de um livro. Quando eu conto/explico, estou presa. Depois a falta de ar. Sufoco. Qual o sentido disso? A cada resposta cruzo a emoção: desenho um detalhe, o definitivo.

Ficamos as três quietas depois de um tempo, acho que resolvi comer todas as bolachas do prato, e enchi minha taça com chá, repetidas vezes. E resolvi olhar o céu que eu podia ver pela janela. Elas continuaram a conversar. Os pontos se cruzam, a satisfação de conclusão positivas deu um bom coroamento. Na bolsa eu carregava um maço de cartas, fotos, um quebra-cabeça afetivo. Mas eu não me senti autorizada a ler / nem mostrar as fotos. Não importavam minimamente, nenhum valor. A colcha que nos cobria eram narrativas soltas daquela pessoa, daquele tio, daquela misteriosa assertiva. As fotos da minha vida. Eu podia dizer como eu sentia como eu via, o que tinham me contado era insignificante. E assim, o passado está atrás do muro. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – Torres

memória

A memória tem narrativa própria. Guardo, cuido. Fotografo eventos. Posso, galhardamente, recolocar /priorizar valores em seus devidos lugares. Julgo com sentimentos ressentidos/apertados…, de repente, aperto com alegria. A exaustão aperta o corpo. Tantas / muitas vezes eu me afundo na fantasia. Aquela fantasia/proteção: não quero me machucar, não gosto de sentir dor, nem ‘me despedaçar’ na sobrevivência, esqueci. Esqueço o fato. Claro! Memórias/narrativas iluminadas pelos pais, pelos tios, pelos avós. Todas as vozes importam. Importam? Estou a me perguntar em qual porão, em qual sótão remexer? Cada personagem tem um olhar/ um sentir / então, então, a gente se perde. Digo se perde da objetividade. A narrativa e a memória são tão absurdamente pessoais que o confronto gira no absurdo. Quem disse /contou o quê em qual momento… Complicado avaliar/reavaliar. A fala tem peso: emoção remexe o fato! As biografias precisam ser documentadas: a pesquisa familiar, uma jornada especial. Complicada. Os espelhos do tempo refletem um no outro, um outro…Reflexos. As cores se misturam / e se modificam, os pintores são precisos. O quadro está definido no seu finito / na moldura. E conversam entre eles a uma distância razoável, mas é aquilo, e ponto / o finito. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – Torres

Interrogações exigem respostas. As palavras se transformam. O trabalho… Uma metáfora. Complicações versus sentimentos.

pensamento

o pensamento viaja / se desloca rebelde / escapa e corre de um lado para outro, desorientado: é preciso amarrar as ideias e fazê-las aquietar. Sem este ‘puxão’ à realidade fico estico a fala numa explicação interminável, nada diz / não diz nada porque o interlocutor está tão distraído! do outro lado, ou, como eu, fechado, não escuta.

E tudo é absoluto.

Cada um empurra a vida do jeito possível / a sua vida, a do outro, a do outra vem junto, ao acaso, vem junto.

Do jeito possível. Consegui fazer a poda das buganvílias / chegar ao médico, não até a manicure. Conseguir tudo, gostaria. Sinto as costas e os ossos! Talvez se eu pudesse alterar o meu jeito de ser / trocar as lâmpadas, novos estofados, cozinhar com cuidado. Alterar alguma coisa… Esfregar mais vezes o chão, abaixar menos, não passar as roupas, caminhar, caminhar. Não virar a cabeça, dormir mais. Não sei. Pensar menos. Aceitar que não virás me visitar. Ou talvez em vinte dias. O que farei então? Importa? Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – Torres

Os pensamentos de Vanja talvez fossem pequenos e próximos, mas deviam preenchê-la tanto quanto os meus pensamentos me preenchiam. Deviam ser tão importantes para ela quanto os meus pensamentos eram para mim. Se fosse assim o importante a respeito dos pensamentos não seria o tanto que traziam de compreensão, o conteúdo objetivo, mas a interação que tinham com os sentimentos, com os sentidos,, com a consciência. Tudo aquilo que estava ligado ao sentimento de um eu. Então por que pensar durante tanto tempo, e por que medir-se em função dos pensamentos? inteligentes, não inteligentes, brilhantes, não brilhantes?” (p.810 Karl Ove Knausgard Minha Luta 6O Fim

PROJETO para o Pedro / incentivo a continuar

PROJETO PEDRO

A seriedade de um trabalho se fixa com a vontade, com o método, e com a capacidade de produzir sem oscilar em devaneio. Quando a fantasia se apresenta/atua como estampa, ilustração ela altera, ao sabor do vento, e modifica, distrai (desfoca) o projeto. Aquele ponto preto definido se perde entre cor/prazer. Sai do eixo motor. Quem escreve, escreve, ou projeta, ou se preocupa com o leitor (armadilha perigosa embora necessária e importante) sente medo. A preocupação com o leitor trava o escritor / reprime. O texto mergulha na censura antes de nascer / acontecer. Suponho que o necessário / o importante seja a chamada/desejada liberdade. O despir/sem medo. Um aprendizado. Tirar a roupa pode ser complicado, até mais difícil do que vestir / tapar o corpo. Exige arte, um jeito especial. Se alguém nos olha. O leitor espia e define tanta coisa! Vestir para o amor e despir para o amado. Os olhos do outro, a vontade do outro nos define. Ah! Não. Estou a exagerar! Somos o que somos e pronto! Se sou eu, tudo se resolve. Não sei. Não exatamente. Nós somos o outro, a vontade do outro, as implicações do outro na nossa vida. É a proposta de existir / atuar… Temos o cenário, o figurino, o palco, o enredo, mas sem a plateia não temos significado nenhum/ não somos. Se abro as portas , o público precisa estar lá. Então eu desço e subo as escadas, organizo a cena. Quando eu acordo eu me espreguiço, estico as pernas, abro os braços para a fresta de luz, abro olhos e expectativas para o dia. Para o outro. Escrevo para que alguém leia, pense, responda e fale. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – pensando em escrever.

neblina

Apenas o cinzento. Dia invernoso e misterioso (tomada do sentir / do insinuar). Empurrar o compromisso, seguir em frente parece batalha já conquista e certo cansaço. Descascar laranjas e pular a fogueira, comer pinhão. Pernambuco festeja as festas juninas. Mudanças, filhos viageiros. Netos a crescer e atravessar o ir e vir independentes! Um orgulho natural, depois enorme! E a formosura cuidada da minha Valentina, tão longe. As mágicas da mãe, tão perto! E minha casa fica rastreada, suada com as correrias, vibrante/vibrando com as risadas… A mágica dos filhos, das irmãs / das sobrinhas deixam o caminho leve, iluminado no cinzento deste dia. Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – Torres

prazer e loucura

Transformar e seguir. Sem cartas / sem bilhetes. E sem te saber, saber sem saber / entender. Apaixonada vou brindar, estás lá… A loucura de comer espaguete instantâneo e sabor de vinho. Imagino as roseiras a proteger vinhedos. O perfeito no imperfeito. A doçura da loucura, o prazer. Bergamotas e laranjas do inverno. A chuva amortece o calor, e o desarrumado na minha ordem. A solidão aconchega uma alegria. Transborda e reclama. Desejo de ser dois, ou muitos e fico a sorrir. Enfeito o dia… É vida! Elizabeth M.B. Mattos – julho de 2022 – Torres