“Seu tolo. Você não pode me transformar num fantasma porque está com medo. Não se dispensa uma musa por capricho. Se você não vier me encontrar, então irei até você.“
Não sei se eu te inventei, ou foste tu o inventor da menina mulher por quem nós nos apaixonamos. Digo assim, nós apaixonamos/apaixonados! Esta memória despertou/acordou/amadureceu a menina moça que eu, de certo, fui mesmo um dia! E rápido, num lance mágico, toda a história era nossa, não minha, ou tua, mas nossa. E a mais intensa de todas. Apaguei amores desgastados/ inteiros ou metades, e, ousei abraçar “o frágil vínculo com a realidade“: tu e eu a misturar sabores entre panelas e margaridas. Descobri, nas dobras dos lençóis, nossa fogosa correspondência afetiva! E tu me deste os livros de Nick Bantock – a síntese! E não te demoraste nas leituras, nem nas bibliotecas, apenas o certo / eu tenho mania/vício em remexer com pincéis / lápis e livros, as linhas, os textos, as novelas… Teu foco seria/é sempre respirar e agir e fazer/ o gosto pelo mundano, pelos amores, pela rapidez! Ah! Como eu te amo! Como te amei! Eu ressuscitei e nem consegui… Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2021 – Torres
Nem sempre dou voltas completas: os mesmos caminhos, as mesmas correspondências reticentes, fico no meio do caminho… Como ou se os círculos me revitalizassem, ou. Egoísta eu sou. Cruel eu sou. Se a história for dita/explicada/ alinhavada com lãs coloridas, e ou pintadas com teus pincéis, recortadas e coladas., ah!, veria bastar o nosso prazer de todos os dias! Este fazer manual, com esforço, com cheiro, com toque, e orientação (tua voz, tua mão). Tu voltas. Encontro os livros na garagem, naquelas caixas abandonadas, como se tivéssemos, nós dois escondido as afinidades, e o amor. Eu encaixoto nosso amor, desculpa-me querido! Engraçado falar em amor!, mas, foi este sentimento apressado que desnorteou o caminho, depois explicou a dor, e se instalou na tua ausência. E vais a negar o tempo, e eu escalo o tempo para te reencontrar. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2021 – Torres
Não esqueço: penso todos os dias. Não esqueço nada. Estás comigo entre perfumes de carnes assadas, legumes temperados, os pêssegos! Fico a te pensar. Bebo um copo de vinho, ou de cerveja! Ou aquele suco! Eu me divirto com cores, com pratos, com ideias picantes! Sinto o excesso de pimenta! Ah! Arde o corpo. Meu lado tímido, depois, (como me ensinaste a subir os degraus) concordo com tudo. E a liberdade de ser eu, eu, exatamente, assim solta, dou risadas…
Escrevo menos porque, porque, preciso te explicar? Não preciso. Tu sabes. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2021 – Torres – venta, venta, venta! Um céu de cinzentos no meio da manhã, no começo da tarde, rasgos brancos, vento, vento, e vento e uma claridade do dia , mas eu penso noite. Luzes apagadas, letras entrelaçadas, criativas, apertadas: não importa a idade. Nunca fará diferença. Eu te vejo.
Particularidade a cada um. Tempo específico, amassado na urgência. O peso e o vício. Cada um guarda/protege um lado, uma visão… Evidência perfumada. Represento o quadrado, um dado com vários lados. Atropelada nostalgia ao te pensar. Também o sonho, ou a sentinela. Ou ainda o afago, o beijo. Ou sou as costas da boneca, aquela que nunca fica, apenas vai… Tolerância desgastada: palavras, sempre as mesmas. Na conquista a dor sanguinolenta. Há cada tempo uma experiência diferente/nova! Ou seja, tão particular, mas também, com certeza, banal. A memorizar/ cristalizar e completar… O particular do amor é este amálgama – somos dois na mesma sombra. A bolha do amor… Quem tu és por inteiro não determina o outro, e nem a vida de todo dia, mas a tua diferença / o particular. Somos muitos / tantos! A descobrir o contraditório. As mutações no espelho / no outro lado. Então, sem definição… Menos radical e tão leve! Som, não a voz. E o amanhecer desperta devagar na finitude. O medo. O medo maldito: olhar exausto/parado. Ouvidos atordoados. Boca dolorida. Estou salgada! É o mar. Existe uma finitude a cada decisão. Deste agudo a vontade de correr, não aceitar, imobilizo. Alívio. Pronto! Terminou. O momento se cristalizou nos acordes da tua voz, ou apenas morreu? Ou apenas se resolveu no som, estes coisas de viver não são corajosas, mas desesperadas, meu querido. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2021 – Torres cinzenta / molhada, quase frio.
“ Mas não posso ouvir música frequentemente. Ela atua sobre meus nervos, dando-me vontade de dizer tolices e acariciar os homens que, vivendo num inferno asqueroso, podem criar tanta beleza. Ora, hoje em dia não se pode acariciar ninguém: seriam capazes de devorar – nos a mão. É preciso bater nas cabeças, bater desapiedadamente, se bem que, no ideal, sejamos opostos a qualquer violência.” (p.115) Máximo Gorky – Lenine
A música, para os sensitivos, é a única arte que faz renascer todos os nossos sentimentos e todas as nossas paixões…,de um modo estranho, inconsciente, enigmático. Certa vez indagaram a Beethoven por que escrevera ele Apassionata. E ele respondeu: ‘ Leia a Tempestade, de Shakespeare.
Todo afetivo detesta a solidão. “Lenine só gostava de ficar só quando precisava concentrar-se nas cogitações de sua atividade psíquica. Fora disto, nas horas de laser, sentia – se mal sem um amigo, sem uma pessoa, com quem pudesse conversar ou dar um passeio.“(p.116) Gastão Pereira da Silva Lenine e a Psicanálise
Esqueceu do conceito filho / amo / ou palavras correlacionadas: não esquece de pedir ajuda, na necessidade, recorre ao filho: um botão que aperta vez que outra. Envelhece manipulado pela carência essencial, os neurônios se apertaram num casamento tardio utilitário.
Elaine, minha amiga querida: aos poucos nos esvaziamos, das coisas boas, também das coisas ruins. Um balão que deixa de voar. Envelhecer não significa enfeiar como dizem/divulgam cirurgiões plásticos. Envelhecer tem outros fundamentos. Como reagir? Não desistir de certa rotina amorosa… Não estou pensando, apenas escrevo. Perdoa.
Roberto: saudade sim. Nostalgia. Incapacidade, ou desânimo? Não sei. Vontade de fazer, mas um cansaço de dentro! Isso existe? Vontade de mudar tudo de lugar, acertar os sons ou o passo, deslocar os vizinhos, e entender porque gostar e desgostar funciona atravessado… sentimentos desgovernados e inexplicáveis.
Ana Cristina: tantas pequenas histórias, tantas enormes e desgovernadas anedotas: uma crise mastigando outra crise, e o cinzento do dia parece tão adequado quanto impróprio para um dezembro. Estrangulado e a ponderação idiota. Num repente qualquer observação sai dos trilhos, avança pela floresta, depois se surpreende diante de uma nascente a jorrar água. Colar o rosto no espelho, ou sentir a mão na mão: dança indefinida, apenas amorosa e longa, comprida e indefinida… Um corpo no corpo do outro, abraço, certeza, o mesmo cheiro de terra molhada de suor, de lágrima. Como posso descrever o ano, o tempo de reagir ou ser quando se espicaça a cor rosa dos gramados? Verdes ou castanhos, ou amareladas e perdidas margaridas? Num átimo de lucidez, certeza: eu sozinha, estou bem, e posso ainda me entregar.
Eduardo: estás amarrado no/ao meu pensamento para rejuvenescer cada momento, seja o teu instante, seja o meu. O som / a voz das crianças ecoarão música. A luz atravessa a fresta para seguir sendo luz! Insiste em se apresentar no escuro da sala. A sala fica casa aconchego. Aconchego rastreado. As incertezas escorregam por baixo da porta e se encontram atrapalhadas no corredor do prédio, são varridas com energia. A faxineira veio cheia de vontade! A limpeza ilumina. Se existe incoerência a cada decisão, existe uma dor a ceder ao movimento do corpo. Reação. As cartas voltam a abarrotar a caixa de correspondência como antes / floridas. Amigo vivemos na imaginação do outro, devagar nos despedimos.
JMG: no escuro do silêncio eu te imagino, embora tenha apagado a luz do corredor, vejo o teu vulto e escuto tua conversa. Sempre estás a me visitar, e a me surpreender e gosto.
Marta: tu me fortaleces enquanto escreves no caderno das anotações, eu revivo. As conversas pontuadas e ininterruptas atravessam os anos, e os meninos voltam a ser engenheiros. O cheiro de churrasco abre as cervejas geladas. Estamos no meio do sol que ora se faz praia, ora gramado, ora risada e ora o silêncio bom das velhas amizades.
Marcelo: deixaste a bomba enterrada, fiz o possível para não deixar detonar, mas a cada jardim um novo estopim…, impossível entender esta tua engenharia e o teu recuo. Uma batalha meio a guerra e a tantos recursos brilhantes! Idas e vindas te fazem campeão de estratégias curiosas. Um brinde ao ano que termina, a sobrevivência! E a nova guerra! Não termina. Que teu jardim de junquilhos esteja florido.
Roberta menina: ser a mimosa menina a guardar coloridas borboletas, tão raras nos jardins de hoje, pode ser a vida na mutação do amor. Muito especial tua palavra chegando, atravessando e se esparramando por aqui…
Atravesso a resistência, chego nas palavras, mas ergo um muro de incertas questões…, os tijolos empilhados deveriam construir a catedral, não separar. Escrever é um jogo perigoso de incerteza e tantas/muitas obviedades tolas. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2021 – Torres – avulsos inconclusos
Ele é doce, a cada gesto, cada palavra ele é extremamente doce. Ele é frágil, amorosamente frágil. Em nenhum momento contrariar, apenas acarinhar, ouvir, entender; – sempre a doçura infinita e bonita: eu ofereci tudo, e o tudo era completo, continuou, nada que o desagradasse. Ele flutuava na verdade, naquele agora. Nem o sono o completou…, seguiu desperto / atento. Tinha os olhos doces, a voz doce. Entrei naquela música, enredada/enrolada pelo som. Caminhamos. Elizabeth M.B. Mattos – dezembro de 2021 – caminhamos e caminhamos…
Brasil truculento, ameaçador, perdeu aquela suavidade de existir na beleza, pela beleza, pensei. Escrevi para me descrever / ou escrever… Distância entre teu país e o meu, teu idioma e o meu. Festejar/pensar nestes quarenta anos amigos. Quero explicar: não existe sigilo, guardados ou segredos. Derramo amoras pelo chão. Devoro as colhidas destes galhos mais baixos. E me delicio com as pitangas: o silvestre dos tempos urbanos de hoje. Nada está organizado, pronto, elaborado, revisado… Apenas as intenções de um momento a descoberto: deve, tenho certeza, deve mesmo existir outro mundo onde será tudo invertido. Ou melhor, ou pior, ou apenas diferente: o mundo de outras inverdades. Nós, as crianças de ontem, somos todos tão os mesmos! Nós nos atrapalhamos com sombras. Somos nós caminhando… Eu amo, eu sinto uma raiva danada, eu tenho ciúmes, eu ignoro. Eu me apaixono pelas cores, pelos pincéis e por todas as possibilidades de aquarelar, desenhar, fazer outra vez, recomeçar, e me envolver. Do francês ao inglês, ao espanhol para brincar. Depois / de repente/ então/ no sono / ou ao acordar, esqueço o que preciso fazer. Volto ao fogão, aos temperos. Passo roupas, lavo o céu para que seja oura vez dia, hora de acordar. Ou tenho vontade assim, sem rumo, vontade de escrever, escrever, escrever ou / dizer/ contar/ inventar, ou subir como o João do Pé de Feijão, subir pelo galho até chegar ao gigante, e enquanto ele dorme, roubar a chave. Abrir a porta, e salvar a minha alma. Ah! Verdade que também quero aconchego, paz sem luta, certeza do para sempre, o impossível do E foram felizes para sempre, ah! Gostosa verdade impossível! É tudo mentira, mas, a gente faz de conta que acredita, e posso, então, devorar o bolo de chocolate entre duas xícaras de chá e comer todas as nozes do pote. Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2021 – Céus! Falta tão pouco para ser 2022, ontem era apenas 1964 – como venta cinza neste verão!
Francisco explode! Agarra o mundo pela luz: possibilidades. Sonho de ouro: letras, imagens, acertos, e sucesso. Alucina. Outros planetas, outros elementos, outras possíveis possibilidades encaixadas, ou como elos / correntes brilhantes… Somos a terra e o novo planeta, somos o canteiro revirado / adubado. Somos os bebês, e os últimos seres desengonçados. A beleza vem/chega pronta, inflamada, generosa, dengosa. Sem plágio, nem plásticas. (risos) Somos, assim, beleza ajustada ao tempo das embaraçadas algas, embaraçados cabelos brancos. Garras afiadas pelos bisturis dos cirurgiões, das intervenções. A dança amarrada ao exercício do som. A música no corpo, explode a explosão de Francisco: ouro.
José agarra a luz, presenteia com sorriso pacífico… As religiões se misturam, ou são as crenças que se alternam? Batalha sem sangue. Cega vitória incerta. Que estranho mundo invertido! Ou sou eu estranhada?! O som do piano me acalma. O ronco do sono me acalma. A chuva do chuveiro, o meu mergulho silencioso no teu sorriso, me acalma. Ah! Estes abraços preguiçosos sem garras, tua voz presa nos meus cabelos. Outra vez, o desejo. Também posso explodir… Elizabeth M. B. Mattos – dezembro de 2021 – Torres
Eu me sinto leve, exulto porque troquei meu horrível lustre de pingentes por spots que iluminam; exulto porque o homem arrumou a cortina que tinha se ‘arreganhado’; ou porque as buganvílias estão florindo: cores se misturam… Ou porque os bifes ficaram delícia, e as batatas perfeitas. Exulto porque com quinhentos banhos por dia, perfumo aqui e ali. Abro a revista entusiasmada, Ônix e eu damos pequenas voltas e eu penso que fiz exultantes caminhadas! Ganho um pote de amoras gigantescas do neto, e a conversa flui…,e eu gosto. Acho que me excedo nesta satisfação transbordante de ser eu comigo. Então, escuto/ouço a vizinha explicar vida, a menina escuta. O pai concorda. A conversa desgostosa entra pelas janelas da cozinha. Vou pendurar a roupa, e, me surpreendo com caras e bocas dos que estão voltando mais cedo do trabalho, ou se desencontrando mais cedo. Céus! Sexta-feira fecha a semana, ontem, saíram pra comer pizza, e hoje farão caretas?! Escuto portas baterem… Ainda não escureceu. E me surpreendo a lembrar/pensar conversas daqui e dali! A vida dá mesmo apertos, rasgos, faz costuras doloridas! Será que os desvios ajudam?! E o verão? Ainda cinzento, carnavalesco. Estou cansada. Não é hora de dormir. Vou dormir. Amanhã embaralho as cartas e vejo a sorte! Todos se aquietarão de noite! Elizabeth M.B. Mattos 2021 – dezembro de 2021